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SUMÁRIO / Sumário

Rio das Ostras Jazz & Blues 2021

16/12/2021 - 10:34h
Atualizado em 17/01/2022 - 17:22h

Reportagem: Miguel Sá / Fotos: Ana Cecília Abreu

 

 

O Rio das Ostras Jazz & Blues Festival é reconhecido como um dos melhores festivais do segmento em todo o mundo. Criado em 2003, durante estes quase 20 anos mais de um milhão de espectadores viram cerca de 550 shows dos melhores músicos do mundo de forma gratuita. 

 

 

Mas o evento não passou batido pela pandemia da Covid-19. Ainda que em 2020 tenham acontecido até mesmo as famosas apresentações virtuais que proliferaram no período, A 17ª edição acabou sendo adiada para novembro de 2021. Mas o público teve tudo o que merecia e muito mais no reencontro com a música. Atrações como Eric Gales, Jon Cleary, Roosevelt Collier, Delvon Lamarr, Keith Dunn, Chris Potter, Hamilton de Holanda e Nico Rezende deixaram o público absolutamente satisfeito na hora de matar as saudades da música.

 

 

Com elenco de alto nível, é possível dizer que o maior evento de jazz e blues da América Latina aconteceu com sucesso após o ano de hiato, em 2020. A 17ª edição teve mais de 30 shows nacionais e internacionais. O festival gratuito de blues e jazz foi o evento de reabertura da economia criativa no estado do Rio de Janeiro e aconteceu entre 12 e 15 de novembro girando cerca de R$8 milhões na economia de Rio das Ostras e proporcionando mais de R$2 milhões e 300 mil em mídia espontânea.

 

 

A Revista Backstage esteve lá e fez a cobertura completa. Leia abaixo:

 

A estrutura que faz acontecer

Para manter a ideia de formar público, turismo e renda com um festival gratuito para os espectadores, a produção precisa se esmerar para que tudo corra bem. Leia aqui.

 


 

A música é a base de tudo

As atrações do festival do recomeço foram sortidas e de alta qualidade. Da música brasileira de primeira linha de Hamilton de Holanda ao blues/rock pesado de Eric Gales, passando ainda pelo órgão do Delvon Lamar e as lendárias bandas Azimuth e Black Rio, o público pôde aproveitar o que há de melhor na música, e tudo gratuitamente. Leia aqui.

 


 

Stênio Mattos e o balanço geral

O Rio das Ostras Jazz & Blues Festival mostra que festa e retomada econômica podem, perfeitamente, caminhar juntos. Stênio Mattos, da Azul Produções, que promove o Festival, conta as aventuras e desventuras do maior evento de jazz e blues da América Latina durante a pandemia. E no final tudo deu certo. Leia aqui.

 

 


 

A estrutura que faz acontecer

No Palco Costazul a equipe tinha o pessoal de palco, com o monitor pilotado por Marco Antônio Liasch,  e  P.A. comandado por Jerubal Liasch, também o diretor técnico do Festival.  “Estou desde a primeira edição ao lado do Stênio”, comenta Jerubal. “Mixar tanta coisa diferente, tanta onda diferente, do standard jazz ao progressivo, ou eletrônico ou até ao blues não é difícil desde que se tenha essa cultura musical ampla. É preciso saber a sonoridade e não descaracterizar.É uma delícia fazer essas coisas difíceis e diferentes”.

 


Jerubal Liasch fez a direção técnica e operou o P.A. do palco Costazul

 

De todos os shows que acompanhou nos anos em que trabalha em Rio das Ostras, Jerubal lembra com carinho do show de Al Jarreau, em 2014. Foi sensacional. Aconteceu pouco antes dele falecer. Com toda a idade e estado clinico complicado fez um tremendo de um show. Todos foram bons, mas esse do Al Jarreau me marcou muito”.

 

 


Digi Venue no palco Costazul

 

 

As mesas de som usadas no palco Costazul são as Digidesign Venue Mix Rack. “Trabalho já há algum tempo com a mesma mesa. Definimos esta como a ideal por causa, por exemplo, da gravação do histórico de alterações no som. Trabalho com ela no PA e no Monitor”, detalha. Para a sonorização do Palco Costazul, Jerubal usa os line arrays da FZ Audio.

 

 


Bill fez a direção do palco Costazul

 

 

A empresa de som foi a Sinal Audiotech e a equipe contava com um total de 12 pessoas. Entre elas, estava William da Costa, o Bill, que trabalha como diretor do palco Costazul. “Esta é minha 12ª edição. Trabalhar neste festival é uma coisa muito legal, e tem esse elo que vamos criando com as pessoas. Acaba virando uma família. Tem pessoas que passamos um ano sem se ver e só encontra aqui em Rio das Ostras. Minha função é trazer o trabalho no palco fluir. Fico de olho na entrada e saída das bandas, passagem de som, equipamento, montagem e desmontagem... Tenho que fazer com que todo mundo consiga trabalhar e fazer funcionar o evento”, comenta.

 

 

Na equipe sob as ordens diretas de Bill, que tinha como assistentes de palco Beto Salles e Maurício da Costa, havia três roadies, três técnicos da empresa de sonorização,auxiliares para montagem e desmontagem e auxiliares do backline – o que incluiu um afinador para o piano e um técnico para o Hammond B3. “O órgão Hammond é um instrumento antigo. Sempre tem que ter uma verificação e mais cuidado com a manutenção. Além disso, cada organista tem um jeito de ajustar”, explica Bill.

 


Marco Antônio Liasch operou o monitor do Costazul

 

O monitor do palco Costazul ficou por conta de Marco Antônio Liasch, que diz ser descomplicado trabalhar com os músicos de jazz. “São todos músicos disciplinados. Na passagem do Jon Clearly, ficou bem claro como é trabalhar com pessoas que sabem como fazer. Com a ajuda do Bill, cada um dos músicos chegava e falava: ‘vou tocar meu instrumento’. Cada um já sabia sua hora de tocar e o que pedir. Não ficava a bagunça de todo mundo pedir junto”. Em geral, os músicos usaram muito monitor de chão. Especificamente Delvon Lamar usou in-ears pedindo um destaque nos baixos da caixa Leslie que usou no órgão Hammond.

 


A microfonação da caixa Leslie de Delvon Lamarr

 

Marco Antônio relembra a complexidade do trabalho com as mesas analógicas. “Já teve todo tipo de mesa, desde Midas até a Soundcraft  SM16. Se fizer uma linha cronológica de todos os anos dá pra ver a evolução do áudio. Na era analógica salvávamos a cena no papel. Uma mesa só para todos...Era complicado!”, diz, aliviado, o técnico de monitor.

 

Como os shows aconteceram em dois palcos, um dos roadies ficava designado para a transferência dos equipamentos de um palco para o outro, onde havia uma outra equipe aguardando o equipamento. “O palco de Iriry  é menor, com equipe mais enxuta. Lá ficamos com um roadie, um técnico de som de P.A.e outro de monitor”, completa Bill.

 

 

Hammond, piano acústico e amplificador de guitarra

Claro que há os casos especiais, nos quais a sonorização exige algo específico. Como explicou Jerubal Liasch, no caso do Hammond B3 de Delvon Lamarr, por exemplo, as caixas Leslie usa três microfones: um para cada banda de frequência. Um RE 20 para os graves e dois  SM  57 : um para o L e outro para o R da caixa, que fica com o falante girando dentro dela respondendo aos comandos do organista.

 


Delvon Lamarr no Hammond

 

Ainda na banda de Delvon Lamarr, oguitarrista Jimmy James usou um amplificador Fender DeLuxe fornecido pela produção do festival. O guitarrista não tocava com nenhum efeito de pedal ou processador eletrônico, usando a própria distorção e reverb do amplificador com uma Fender Strato e uma Silverstone. A microfonação do amplificador foi feita com um SM 57.

 


Nico tocou e cantou Chet Baker

 

O músico Nico Rezende pediu um piano totalmente acústico para tocar o repertório de Chet Baker. A microfonação foi feita com dois Akg C 2000 e dois SM 58 para as cordas mais graves e as mais agudas.

 


Jimmy James cativou a plateia com música e performance

 

Hamilton de Holanda: técnico de som próprio

No Rio das Ostras Jazz & Blues Festival é comum as bandas não levarem técnicos de som próprio. Neste, a exceção foi Hamilton de Holanda, que trouxe Ricardo “Frango”. “Somos amigo das antigas. Eu sou de Brasília e também trabalho com a galera do rock. O Hamilton não é só bandolinista, é um multi grupo. Tem também o trio dele, tem trabalho solo, tem ele com um grupo. É tudo diferente sempre.O bandolim dele vai desde o erudito ao pop até o jazz e choro”, explica.

 


Frango operou o som de Hamilton de Holanda

 

Ricardo não costuma carregar cenas das mesas digitais. Os ajustes são feitos mesmo nas passagens de som de acordo com a condição de cada local. “Eles vão tocando e eu faço os ajustes. Não mexo em peça por peça. E faço tudo na hora, não carrego cena. Não faço peça por peça e não uso compressão. Deixo a dinâmica deles bem solta. Dependendo da música, eu posso usar um efeito, um reverbinho”.Para Chris Potter, Frango usou um dos microfones especificados pelo saxofonista: um AKG D202. “Era Para Ser um 414, mas não tinha.

 

O técnico de som comentou também sobre os testes que Hamilton gosta de fazer com os seus bandolins. “Ele bota a gente na fogueira! Ficamos desenvolvendo técnicas para ter mais grave, por exemplo. Já usamos  Avalon e hoje usamos o Colour Box. Também mexemos em captação. Tem bandolim que não podemos usar pré-amplificador que satura. Em outros fica bom. Não tem sossego.Tem que pilotar mesmo no show”, se diverte.

 

 

Palco Iriry

No P.A. de Iriry estava Sidney Freitas. “Trabalhar aqui é maravilhoso. Organização, bandas, músicos... Tudo excepcional’, comenta. O técnico tinha à sua disposição uma Yamaha M7CL gerenciando um sistema de line array SPL com seis caixas em cada lado mais quatro em cada sidefill lateral. No monitor, quem operava era Dico, trabalhando em uma Yamaha LS9 com 40 canais disponíveis. “Este é o estilo de música que eu gosto de ouvir.Eu gosto de jazz, gosto desse tipo de música instrumental. Para mim é um prazer muito grande estar aqui participando”, diz.

 


Sidney Freitas fez o P.A. em Iriry

 

 

A direção de palco em Iriry ficou por conta de Jeferson Gonçalves. “Para nós está até bem tranquilo. Mais do que os outros anos. Mas é um recomeço, é como se fosse o primeiro. Quando a poeira baixar, eu acho que vai voltar ao “novo normal”. Acredito que teremos mais cuidado com coisas que não tínhamos antigamente. A questão são os novos protocolos, mas esse ano está bem tranquilo. Em relação à parte técnica, estamos bem safos”, conta Jeferson.

 


Yamaha LS9 para o monitor de Iriry com Hammond ao fundo

 

O diretor do palco Iriry também é gaitista, com um trabalho reconhecido de muitos anos na fusão do blues com música brasileira. Jeferson Gonçalves já percebe uma retomada que vai além de Rio das Ostras. “Já toquei em um festival de jazz em São Luiz do Maranhão e acho que a tendência é essa em 2022; a retomada”.

 


Kleber Dias e Jeferson Gonçalves

 

O produtor Kleber Dias é um dos que apoiavam o trabalho de Jeferson Gonçalves em Iriry. O músico e luthier é pau para toda obra na produção. “Às vezes é necessário carregar uma caixa, transportar uma pessoa...Tem uma série de funçõesque vamos exercendo para compor o time fazer a coisa fluir bem”, completa.

 

Já há dez anos que Kleber faz parte da equipe do Festival. “Na primeira participação.Eu toquei. depois comecei a trabalhar na produção. Eu vejo uma evolução muito grande.O Stênio Mattos é um produtor muito competente que tem uma identificação forte com a área musical.Então isso acaba movendo tudo para um crescente.Tudo o que vai acontecendo de positivo no festival, de financiamento, interação do público, com apoio caba tomando um corpo maior”, comemora.

 

Apoio no trabalho

Com tantos anos trabalhando no Rio das Ostras Jazz & Blues festival, Jerubal Liasch fica feliz de perceber o apoio que sempre teve no seu trabalho. “Gostaria de acrescentar que ao Stenio Mattos - o mentor, produtor e curador, o cara que batalhou para que o Festival começasse a acontecer - eu tenho de agradecer a ele não só pela oportunidade como pelo suporte”. finaliza.

 

 


 

A musica é a base de tudo

 

 

Banda Azimuth

O primeiro impacto foi logo com a Banda Azimuth na abertura, desta vez com o DJ Nuts adicionando o peso das pistas no pick up.  A banda é formada hoje por Ivan Conti, o Mamão, na bateria Alex Malheiros no baixo e, substituindo José Roberto Bertrami, falecido em 2012, o tecladista Kiko Continentino. A banda tocou os maiores sucessos instrumentais e o DJ Nuts acrescentou, ao vivo, a bossa das pistas à banda sempre utilizada nos melhores samplers.

 

A banda tem dois trabalhos lançados. Um realizado com os produtores Andre Younge e Ali Al Shaheed chamado Jazz is Dead e uma coletânea com gravações inéditas dos anos 1970 chamada Demos.

 

 

Delvon Lamarr Organ Trio

Delvon Lamarr não foi o primeiro músico a se apresentar com um trio de órgão em Rio das Ostras. O saxofonista James Carter já havia feito isso em 2006. Mas sempre causa certa curiosidade na plateia o fato de não haver um baixista. O próprio Delvon faz os baixos nos pedais do órgão. “A questão é que quando eu toco o baixo, eu posso controlar a música. Eu posso mudar a linha de baixo, posso mudar as coisas. Quando tocamos ao vivo, nós mudamos ela algumas vezes. Depende muito do clima que você está, do caminho que a banda vai  do lugar que você toca. Mesmo quando estou escutando música, escuto o baixo antes de qualquer coisa. Gosto de sempre escutar os baixistas. Quando escuto organistas eu escuto o que eles fazem no baixo”, reforça Lamarr, que tem como influencias Jimmy Smith, Jack McDuff  Jimmy McGriff e Baby Face Willette.

 


Delvon Lamarr Organ Trio

 

A troca entre Lamarr e o guitarrista Jimmy James é um dos grandes trunfos do show do trio, sempre com o baterista Dan Weiss segurando o groove e mantendo o chão nas brincadeiras que o guitarrista e o organista fazem com o tempo das músicas. Além de excelente músico, Jimmy é um grande performer, fazendo caras e bocas enquando faz bases e solos usando apenas o reverb e a distorção do amplificador Fender Deluxe microfonado por um SM57. E a pergunta que fica ouvindo o som que sai do pequeno amplificador é: para que mais?

 


Dan Weiss mantém o chão para a viagem de Delvon Lamarr e Jimmy James

 

 

Nico Rezende canta Chet Baker

Já há sete anos que o produtor, cantor e compositor Nico Rezende faz shows com seu projeto jazzístico Nico Rezende Canta Chet Baker. O show já gerou um DVD no qual ele é acompanhado pelos músicos Guilherme Dias Gomes (trompete), Fernando Clark (guitarra), Alex Rocha (contrabaixo acústico) e André Tandeta (bateria). “Isso nasceu quase que uma brincadeira. Eu, que sou da música pop, fui apresentado ao trompetista Guilherme Dias Gomes. Aí montamos esse show. Pegamos músicos superexperientes da cena e é maravilhoso. O jazz pop do chat Baker é impressionante, mesmo as pessoas que nem conhecem ficam emocionadas.Levar música de qualidade para um público maravilhoso é incrível”, diz o músico. No repertório não faltam sucessos como My funny valentine, Day Break, But not for me, Just friends e Let´s get lost. Para o show, Nico pediu um piano acústico. “O som do Chet Baker tem que ser tocado com baixo acústico, piano acústico, trompete, flugel Horn e bateria.Tem que ser esse som para não ficar descaracterizado”, reforça.

 


Nico Rezende e sua banda

 

Além do show com o repertorio de Chet Baker, Nico está lançando outros projetos. "Tenho um single com a Roberta Campos chamado Um Amor Puro. Estou lançando singles a cada 45 dias. Em janeiro, lanço o álbum da pandemia, com todos os singles lançados nesses dois anos e mais umas inéditas”, finaliza.

 

Hamilton de Holanda e Chris Potter

Diante de shows como os de Eric Gales, Roosevelt Colier e Hamilton de Holanda, fica difícil falar em um show apenas como o melhor. Mas não é difícil dizer que o de Hamilton foi mágico. Acompanhado de Daniel Santiago (violão), Thiago Espirito Santo (baixo) e Edu Ribeiro (bateria), o duo do bandolinista com o saxofonista Chris Potter- que já tocou com Herbie Hancock, Dave Holland e John Scofield, entre muitos outros - mostrou todo o potencial da mistura de linguagens musicais diferentes. “Fiz contato com o Chris Potter no Festival de Miami. Nos conhecemos e combinamos de tocar”, comenta Holanda.

 


Hamilton de Holanda e a música do mundo

 

Já há algum tempo Hamilton investe nas parcerias. O álbum Mundo de Pixinguinha, de 2013, no qual tocou o mais brasileiro dos compositores em duos com músicos como Chucho Valdéz e Wynton Marsalis foi quase que um pontapé inicial para isto. Com o incrível trio de apoio, Hamilton e Chris Potter deitaram e rolaram, com muito improviso. “É o que o mundo precisa. Precisamos conhecer uns aos outros.Conhecer os outros países e as músicas de outros países também. A música é um caminho para essa harmonia”, se entusiasma Hamilton de Holanda.

 


Chris Potter

 

Durante a pandemia, Hamilton fez diversos vídeos falando sobre músicas específicas, ensinando sobre elas. Ainda que com menos frequência, ele não pretende abandonar isto. “Ficamos em casa muito tempo, então tinha que arrumar coisas para fazer. Eu gosto de música.Gosto de saber a história das músicas e vou mostrar que eu gosto para as pessoas. É uma coisa que eu faço naturalmente. Agora estou tendo dificuldade porque comecei a viajar de novo e é uma atividade que precisa de tempo.Vou gravar uns dez episódios antecipadamente para ter material”, promete.

 

 

Eric Gales e Roosevelt Collier

E por que falar destes dois artistas juntos? Porque eles,realmente, tem algo em comum no som. Nestes tempos em que boa parte dos grandes nomes do blues clássico já se foram, eles mostram o caminho que o gênero deve seguir daqui por diante: levando mais fundo o peso que os blueseiros ingleses dos anos 1960 – Clapton, Fleetwood Mac, Rolling Stones, Led Zeppelin e tantos outros inspirados na época pelo blues – começaram a colocar e que foi desenvolvido por grupos como os Allman Brothers, Johnny e Edgar Winter e tantos outros que levaram o blues dentro de suas músicas nos anos seguintes, sem necessariamente serem apenas blues.

 


Com a participacao luxuosa e furiosa do amigo Eric Gales

 

Ainda que seja difícil colocar fronteiras entre o rock e o blues, o fato é que Eric Gales com sua guitarra canhota de cordas invertidas e Collier no seu lap still levaram peso e virtuosismo ao festival. E com o bônus da participação de Gales no show de Collier.  Gales é, provavelmente, o melhor guitarrista do mundo no gênero, com um fraseado que não se prende à tradicional escala pentatônica. A técnica em dia coloca, definitivamente, o debate “velocidade x feeling” como algo muito obsoleto. Tanto nas músicas mais pesadas como nas baladas mais leves o guitarrista sabe entregar a dinâmica certa na hora exata.  E, claro, não é possível não falar de seu desempenho excelente como performer e cantor. Em seu show, Eric tocou acompanhado por Nicky Hayes (bateria), Ladonna Gales, que também é sua esposa (percussão), Cody Alan (teclados) e Jonathan Lovett “Smoke Face” no Baixo.

 


Roosevelt Collier e sua lap still

 

Collier leva seu instrumento ao máximo, com muito peso, distorção e suingue acompanhado da banda afiada com Harry Ong (Baixo), Aaron Buckinghan (Bateria) e Thomas Shugart (Teclados). Este último é muito importante na composição perfeita com o combo baixo e bateria no apoio ao desempenho de Collier.

 


Entre o rock e o blues está Roosevelt Collier

 

Vale destacar a incrível versão de Come Together, dos Beatles, que Gales e Colier tocaram juntos.

 

 

Jon Clearly

Acompanhado por Cornell Williams (Baixo e voz) e A.J Hall (Bateria e voz), o pianista já foi sideman de nomes como Eric Clapton e Bonnie Raitt. Britânico de nascimento, mas radicado em Nova Orleans, Clearly tem mesmo uma certa pegada da cidade em seu som. A banda e Clearly são músicos de alta categoria. Eles fizeram um show agradável e de muita qualidade.

 


Jon Clearly

 


Jon Clearly e banda em Iriry

 

Banda Black Rio

William Magalhães trouxe a marca da Banda Black Rio em plena forma para o festival. Não faltaram músicas do disco mais cultuado, o Maria Fumaça. Tudo com os arranjos bastante calcados na sonoridade original. Entre os destaques da formação que se apresentou em Rio das Ostras, além do próprio William Magalhães, filho do fundador da banda (já falecido) Oberdan Magalhães, estavam Tiago Silva, filho de Robertinho Silva, na batera e André Vasconcellos no baixo.

 


Os sopros são parte fundamental do som da Black Rio

 

William terminou o show comemorando a volta aos palcos. “Estamos voltando aos poucos, e esse aqui é o maior festival que tocamos, com uma dimensão internacional e um público muito bom, e vamos em frente. As pessoas estão ligando e tem mais possibilidades de shows agora em são Paulo e até no exterior, por incrível que pareça. De uma forma geral, o show business não pode ficar parado tanto tempo”, pondera.

 


William Magalhães

 

William tocou no festival com um teclado Clavia Nords e um simulador digital de Mini Moog. A banda planeja um disco instrumental e outro com músicas cantadas para comemorar os 20 anos da volta após a dissolução nos anos 1980.

 

Ainda tocaram no festival Keith Dunn, Alan Leal e Blues Groover’s, Mooving Waters & Lancaster, Onda de Sopro Big Band, Macahiba Jazz, Cida Garcia, Sophia Farah e Segundo Set Instrumental,

 

 


 

Stênio Mattos e o balanço geral

 


Foto: Blog 'De olho em Rio das Ostras'

 

Qual o balanço que pode fazer desta 17ª edição do  Rio das Ostras Jazz & Blues Festival?

Foi um sucesso total. Muito mais do que esperávamos. Havia algumas preocupações com o esquema de ingressos e o que o público poderia achar e entender disso, mas houve uma compreensão total, o que nos deu a certeza de que as pessoas respeitam muito o Festival. Não houve problema com a troca de público no palco de Iriry, que era a nossa grande preocupação. As pessoas saíram de um show para entrar em outro em 10 minutos. Tinhamos medo de que houvesse uma dificuldade, mas foi tudo bem e não deixaram um vestígio de sujeira. Os patrocinadores ficaram contentíssimos e reafirmaram estar junto com a gente no ano que vem. Isso é muito importante.

 

 

Teve a questão do palco que foi suspenso, e por isso teve de ter a troca de público em Iriry, não foi?

Nós teríamos o palco da Boca da Barra substituindo o palco da Praia da Tartaruga, mas quando foi aproximando do começo do Ferstival, vimos que tinha algumas dúvidas por ser um placo novo que nós não tínhamos feito nada lá ainda. Ficamos receosos de não ter o controle e resolvemos trazer o show das 17 horas para o palco de Iriry, que só teria uma apresentação e absorveu o palco Boca da Barra. Fizemos dois horários por dia da lagoa de Iriry porque chamos que seria mais fácil de controlar o acesso. O Boca da Barra seria montado na areia.

 

 

E sobre os benefícios do Festival para a comunidade?

O pessoal gostou muito. Nós fizemos o feedback com  o pessoal da Renda Alternativa (programa da prefeitura que cadastra e aloca os vendedores ambulantes)  em Iriry e eles ficaram felizes. Falaram que venderam tudo.Disseram até que iriam comprar as camisetas que não vendemos por preço de custo para nos ajudar. Isso foi emocionante. Todos ganharam dinheiro. A importância do Festival é essa também, trazer renda para a cidade inteira. O que preciso destacar é o apoio dos patrocinadores. Foi a total confiança que eles nos deram para que nós fizéssemos o Festival, e isso não só financeiramente. Em nenhum momento eles ficaram em dúvida. E todos ficaram muito felizes mesmo: os músicos, o púbico e os patrocinadores, que são o Sesc, Sapura, Oceanica logística, Enel e Valllourec, sendo que esta  se tornou, no Brasil, a empresa que há mais anos apoia um único evento. São doze anos apoiando o Rio das Ostras.O Festival gerou R$8 milhões nos quatro dias de festival e R$2 milhões e meio de mídia espontânea. Este foi o primeiro evento que teve no período da pandemia. Todos os artistas e equipe foram testados para Covid -19 e não teve nenhum resultado positivo, tanto da produção como dos músicos.

 

E na parte musical também tem esse benefício para a comunidade, não é? Para o pessoal da cidade que toca.

Exatamente. Temos o espaço Arthur Maia e o Palco Novos Talentos. Também tinha, todo dia, na abertura do Costazul, uma banda da cidade.

 

 

O festival de Rio das Ostras é tipo um ponto de entrada para outros festivais do país.E este festival novo em Niterói? Quais são os planos?

Sim. Esse ano começou o festival de Niterói, que começou dentro de teatro com atrações que estavam também em Rio das Ostras, mas que no ano que vem também vai acontecer ao ar livre em pontos da cidade. No final de semana de Corpus Christi, de 16 a 20 de junho, acontecerá  o de Rio das Ostras e no final de semana seguinte acontece em Niterói. Por conta de Rio das Ostras os artistas fazem uma tour de um mês no país.

 

 

Você acha que os festivais podem gerar um movimento forte no estado do Rio para os músicos?

A ideia no ano que vem é fazer um circuito dos festivais no mês de junho. Um circuito de jazz e blues. Por quê? Porque vai ter Niteroi, Rio das Ostras e Paraty. E alguns patrocinadores já tinham se interessado, porque tem interesses nesses três lugares. Também vamos voltar ao normal com quatro palcos, estreando esse do Boca da Barra, mais o Novos Talentos, Iriry e Costazul. Vamos manter o festival com nível elevado.

 

 

Já tem nomes previstos?

Sim. Dos estrangeiros, o Roberto Fonseca, a contrabaixista Ida Nielsen, que tocou com o Prince, o trompetista Takuia Kuroda.

 

 

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