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SUMÁRIO / Matéria de capa

Rock in Rio 2024

17/11/2024 - 20:21h
Atualizado em 19/11/2024 - 15:54h

Reportagem: Miguel Sá | Fotos: Miguel Sá / Leo Costa / Rock in Rio Divulgação

 

Em sete dias, 750 artistas tocaram nos sete palcos do maior festival do Brasil. O público teve a oportunidade de ver artistas nacionais e internacionais dos mais diversos gêneros musicais, como Travis Scott, Katy Perry, Imagine Dragons, Lulu Santos, Banda Black Rio, Ney Matogrosso, Ludmilla, NX Zero, Amaro Freitas, Geraldo Azevedo, Evanescence, Journey, Paralamas do Sucesso, Ivete Sangalo, Gloria Gaynor, Mariah Carey, Deep Purple, Ed Sheeran, Joss Stone, Jão, Ferrugem, Baiana System, Luedji Luna, Leo Gandelman e muitos outros.

 

Esta foi a décima edição do Rock in Rio feita no Brasil. Apesar de a primeira delas ter acontecido em 1985, o ano de 2024 foi adotado como o da comemoração dos 40 anos do evento, já que ele acontece em anos alternados. Entre os dias 13 e 22 de setembro, com um intervalo de três dias entre 16 e 18/09, 730 mil pessoas aproveitaram os shows e eventos diversos dentro do Rock in Rio.

 


 

Construindo a sonorização do Rock in Rio 2024

 

 


Paralamas do Sucesso


O planejamento para o festival é iniciado meses antes e envolve diversas etapas, da decisão dos sistemas que serão utilizados até a logística, como detalha Peter Racy, da Gabisom. “Eu diria que o mais antecipado seja no nível da diretoria, que decide quais sistemas serão utilizados e onde, quais consoles serão disponibilizadas para uso do festival e onde. Coisas neste nível. Em seguida, a nossa pré-produção realiza reuniões e visitas técnicas para colher dados e compartilhar informações importantes, como necessidades de estruturas, de energia, de fibra ótica, de máquinas, de carregadores etc. Com as informações em mãos, conseguimos iniciar o processo de projetos e predições acústicas, projetos de distribuição de sinal e listas de equipamento. Concomitantemente, as equipes técnicas das bandas informam suas necessidades e as particularidades que desejam para suas apresentações. Por fim, com tudo projetado, listado e decidido, é a vez da logística, que planeja e realiza o envio e distribuição de todo o equipamento”, conclui.

 


Mariah Carey

 

Além de todos os palcos sonorizados, havia dois estúdios de ensaio completos, montados para atender a artistas (em geral do Sunset) que se apresentavam junto com outros artistas, necessitando de ensaios para preparar seus shows. Ou para qualquer artista que necessitasse e solicitasse espaço para ensaio prévio, como foi o caso da Mariah Carey. “As centrais dela foram locadas aqui, portanto acredito que o ensaio era tanto artístico como técnico, para configurar e testar as centrais da forma que queriam”, acrescenta Peter Racy.

 

Todo esse trabalho foi realizado por quase 50 profissionais coordenados por Paulo Baptista.

 


 

Palco Mundo

 


Palco Mundo e as torres de delay


O sistema de sonorização do Palco Mundo teve três P.A.s de cada lado, com Sub-Fly posicionado atrás do L/R principal. A configuração total do sistema teve: 18 D&B GSL por lado no L&R; 18 D&B GSL por lado no LL&RR; 12 D&B GSL por lado no LLL&RRR; seis SL-SUB por lado nos subs fly; 32 subs SL-SUB no chão; e dez XSL no front fill. Foram ainda usadas 10 torres de delay com 12 caixas KSL em cada uma delas.

 


Subs e front fills do Palco Mundo

 

A escolha pelo sistema SL da d&b Audiotechnik aconteceu levando em conta diversos fatores, como explica Peter Racy: "A Gabisom tem o luxo de escolher dentre vários sistemas entre as marcas mais top no mundo, todas excelentes. Fica até difícil escolher. A decisão final é feita pela cúpula da diretoria da empresa e envolve vários aspectos além da qualidade e performance do equipamento, como disponibilidade, custos, políticas, acordos e compromissos anteriores com outros eventos. Do ponto de vista de qualidade e performance, o Sistema SL da d&b é irretocável. Não me recordo de alguma banda que não tenha soado bem durante o festival. Todas se deram bem e o público foi o grande ganhador, pois assistiu aos seus ídolos com excelente qualidade de som e pressão sonora de sobra”.

 


Ao lado do L&R, subs em fly

 

 


 

Housemix e gerenciamento de sinal          


O sinal vinha a partir de microfones, instrumentos ou VS e computadores até a saída no P.A., gerenciado e distribuído pelos dois processadores Newton16+8 que eram, nas palavras de Peter Racy, “uma espécie de ‘hub’ por onde tudo transitava”. “Basicamente, o Newton foi a matrix central de recebimento de sinais das mesas, e também o centro de distribuição para os sinais para os P.A.s”, detalha o profissional de áudio.

 

 

Cada mesa de FOH enviava quatro sinais para o sistema de P.A., que podia ser no formato AES e/ou analógicos (Left, Right, Sub e Front-fill), para o Newton. Por meio da matrix de endereçamento, cada sinal foi encaminhado para os respectivos grupos do sistema, como o L&R, Sub-Fly, Sub-Chão, Front Fill e Delay. No drive ainda havia dois Mac-Mini M2: um para gerenciar os Newtons e o Dante Controller; e outro para gerenciar o software R1 (remote para o Sistema d&b). “Havia também um Splitter ativo KT DN-4800 para isolar os sinais analógicos conectados a sistemas de outras empresas como Globo, LPL, EPA, TV Rock in Rio e envios da house da Luz com os áudios dos shows de Pyro, do Mapping, da Aviação e comerciais. Estes sinais que transitavam entre outros setores e empresas foram conectados, via o KT, a uma Digico SD-11, que ofereceu todo o controle e monitoramento necessários antes de encaminhar os áudios ao sistema”, acrescenta Peter Racy.

 

Os amplificadores usados foram os D&B D-80, com processamento interno.
“Enviamos um sinal full-range para cada amplificador e eles executam os cortes e processamentos necessários para cada caixa. Trabalhamos com o sistema folgado, sem forçar nada. Na house, tínhamos controle do sistema inteiro através do software R-1 da d&b, com o qual pudemos controlar todos os parâmetros de todas as caixas remotamente. Durante o decorrer do festival, pudemos monitorar os sinais de tudo — modulação de entrada, de saída, voltagem, temperatura interna, limitador de saída — bem como otimizar os parâmetros atmosféricos — temperatura e umidade relativa — em todos antes de cada apresentação”, detalha o profissional da Gabisom.

 

O sistema frontal (PAs, Sub e Front-Fills) recebeu sinal AES/EBU diretamente do Newton, assim como a primeira linha de delays. Para as linhas de delays 2 e 3, que estavam além do limite de 100 metros permitido para o sinal AES ou rede, o envio foi feito via Dante, trafegando em fibra ótica. “Havia também um sinal analógico passado e testado para cada array. Este sinal ficou em stand-by como backup caso houvesse algum problema com a transmissão digital AES ou Dante. Felizmente, não precisou ser utilizado”, comemora Peter Racy.

 

Wander Rodrigues foi o encarregado da Gabisom por deixar tudo sob medida para os profissionais de monitor exercerem seu trabalho. Ficaram disponíveis, além das consoles, 16 monitores d&b M2, d&b KSL para os sides, oito canais Shure Axient e 16 canais Shure PSM 1000 para os in-ears. “Algumas bandas usaram o kit básico, outras bandas trouxeram centrais próprias, enquanto outras locavam kits específicos direto da Gabisom”, especifica Wander.

 


 

Equipamentos disponíveis e demandas específicas


A Gabisom disponibilizou um par de consoles Avid S6L e outro de Yamaha PM10 Rivage — uma para FOH, outra para monitor — para artistas que optaram por utilizar o setup do festival, mas diversos deles optaram por equipamentos próprios. Também estava disponível, caso alguma das atrações quisesse negociar, qualquer outra console do estoque da Gabisom. “A maioria trouxe suas próprias centrais. Bandas que estão em turnê normalmente trazem centrais, pois seus shows já estão programados em seu equipamento. Mais do que mesas com suas cenas, trazem microfones, cabos, sub-snakes, multi-cabos e splitter, além das ferramentas de trabalho às quais estão habituados. Isto contribui muito para que a montagem e passagem de som sejam rápidas e mantenham-se fiéis ao que foi programado durante os ensaios. Em festivais, onde o tempo é curto para tudo isso, a chance de haver algum contratempo é minimizada. Também há o quesito confiança: trabalhar com o mesmo kit em cada show traz conforto e tranquilidade a todos”, comenta Peter Racy.

 


Shawn Mendes foi um dos astros que trouxeram as suas próprias centrais 

 

Entre os que trouxeram as suas centrais estavam Travis Scott (exceto 7 monitores M2 na passarela e Side d&b), Savage, Ludmilla (com exceção da Digico 338 do P.A.); Matuê; Imagine Dragons, One Republic, Lulu Santos, Avenged Sevenfold, Evanescence, Journey e Shawn Mendes, entre outros. A Gabisom forneceu todo o equipamento para Akon, Katy Perry, Ne-Yo, Luiza Sonza, Cyndi Lauper (que usou mesas Yamaha PM7 no P.A. e monitor), Paralamas do Sucesso e Ivete Sangalo, entre outros. Entre os pedidos específicos, chamou atenção de Wander Rodrigues o pedido da produção do cantor Ne-Yo: uma Lexicon 90 para o FOH e uma Lexicon PCM91 para o monitor.

 


 

Palco Sunset: Diversidade e Versatilidade

 

 


O Palco Sunset, com shows específicos e bastante diversificados, passou no teste após mudanças no posicionamento e configuração do sistema de sonorização. Neste palco aconteceram alguns dos shows mais complexos do evento, como a homenagem a Alcione com a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) e o encontro do Baiana System com o Olodum, entre outros. As mudanças foram feitas observando o crescimento da importância do palco na experiência do Rock in Rio.

 


Alcione e a Orquestra Sinfônica Brasileira. Foto reprodução / Instagram Rock in Rio

 

Nesta edição, o sistema principal foi composto por 16 caixas d&b GSL por lado no L&R principal, 16 caixas da mesma marca e modelo nos outfills, 32 caixas d&b SL-Subs (16 posições com 2 caixas) montados em arc delay, 12 caixas d&b V12 (6 posições com 2 caixas cada) nos front fills e, nas três torres de delay, foram usadas 16 caixas d&b J8 em cada uma delas. Assim como no Palco Mundo, o gerenciamento do sistema foi feito por meio de duas unidades Newton 8-16 e o software de gerenciamento dos amplificadores R1 d&b. Os sistemas foram amplificados com unidades d&b D-80 e D-12.

 


Ney Matogrosso também se apresentou no Palco Sunset

 

As torres de delay para o Palco Sunset foram uma novidade nesta edição. "Nosso espaço cresceu bem e mudou de lado. O palco ficou grande, inclusive ganhamos três delays, o que é bem interessante pra gente. Não tínhamos climatização, e foi novidade esse ano. Ajudou muito, porque esse ano o sol castigou, mas nós estávamos aqui climatizados”, comemorou José Roberto Colado, responsável pelo FOH do Sunset. Como sempre acontece, alguns artistas pediram equipamentos específicos. Para Will Smith, por exemplo, foi pedida a Yamaha Rivage PM5; Iza teve à disposição uma PM7; a banda Incubus usou a Avid S6L; James a Digico SD10; a banda Deep Purple usou uma Midas Heritage HD. Mariah Carey trouxe todo o kit, que incluía uma Digico SD5.

 


Baiana System e Olodum. Foto reprodução / Instagram Rock in Rio

 

O responsável pelo atendimento aos artistas no monitor foi Julio Corrêa. Os equipamentos à disposição das bandas foram duas Yamaha Rivage PM7 com seis Yamaha RIO D2, 16 canais de In-ear monitor Shure PSM1000, 12 canais de microfone Shure Axient, 16 monitores d&b M2 e dois subs para bateria d&b B2 SUB. Na parte do palco, Corrêa destaca os kits específicos de James, com uma Digico SD12 Quantum, o SD Rack Digico 32-bit Quantum, 12 canais de in-ear Sennheiser 2050 e oito canais de microfone Shure Axient. Já o Deep Purple repetiu a Midas Heritage HD usada no FOH também no monitor, usando ainda 12 caixas de monitor X15HiQ da L-Acoustics, quatro subs SB18 e seis caixas Kara, da L-Acoustics, além da amplificação LA12.

 


 

Outros palcos: a variedade do som


Além dos dois palcos principais, a Cidade do Rock abrigou outros espaços dedicados a diferentes gêneros musicais e experiências sonoras. Cada um desses palcos teve suas especificidades de setup para atender às suas respectivas necessidades. A mudança de posicionamento dos palcos no Rock in Rio retirou todos eles de “áreas de passagem”, criando áreas bem delimitadas que favoreciam a concentração do público em frente a eles na hora dos shows. Entre os palcos mais favorecidos na nova configuração estavam o Espaço Favela e o Global Village. Luciano Costa, coordenador da Gabison no Rio de Janeiro, indicou os equipamentos utilizados nos palcos.

 

 

O Favela teve shows diversificados que iam do funk carioca ao jazz pop do tecladista Luiz Otávio.Este palco teve um total de 64 caixas Outline distribuídas no L&R, LL&RR e delays L, C e R. Foram usadas também seis Outline Downfill, desenhadas para a cobertura na base do array. Os subs foram emitidos por meio das 28 Outline DBS 18-2 Sub. Os frontfills foram supridos por quatro Outline MANTAS.

 

 

O Global Village deixou de fazer parte da Rock Street e se tornou um espaço bem definido para assistir aos shows. Quando era área de passagem, várias excelentes apresentações de jazz instrumental e outros gêneros de público mais direcionado eram desperdiçados na movimentação da multidão. Este ano, as pessoas se concentraram na frente do palco para assistir, confortavelmente, Banda Black Rio, Lia de Itamaracá, Leo Gandelman e muitos outros. A sonorização aconteceu com 20 caixas Outline GTO C-12, 18 subs GTO e quatro Outline MANTAS 28 no frontfill

 

 

O palco New Dance Order, dedicado à música eletrônica, foi sonorizado com 40 Outline GTO distribuídas no L&R e LL&RR. Os subs foram reforçados usando 48 Outline GTO-Sub e o frontfill, a exemplo dos outros palcos, usou as Outline MANTAS 28 em um número de dez.

 

 

O Supernova foi o palco dedicado à cena do indie rock, com bandas como Autoramas e Vanguart. Dos palcos, foi o menos favorecido no posicionamento, ficando mais na condição de área de passagem. Mas, em matéria de sonorização, foi tão bem atendido quanto todos os outros. Ele contou com um sistema híbrido, combinando caixas Outline SUPERFLY e subwoofers L-Acoustics SB28, além de Outline MANTAS 28 no frontfill.

 


 

O Dia do Brasil: desafios no palco e soluções em tempo real

 

A novidade deste ano foi o chamado Dia do Brasil, no qual os palcos tiveram programações dedicadas não a artistas, mas a gêneros musicais. Esses shows aconteciam em blocos de vários artistas dedicados ao gênero musical homenageado. No Palco Mundo, por exemplo, houve os shows Pra Sempre Rock, Pra Sempre Sertanejo e Pra Sempre Trap. No primeiro bloco de shows, dedicado ao rock, tocaram Capital Inicial, Detonautas, NXZero, Pitty, Rogério Flausino e Toni Garrido. O bloco dedicado ao sertanejo teve Chitãozinho e Xororó, Ana Castela, Junior e Simone Mendes. Inicialmente estava planejada também a participação de Luan Santana, mas o atraso nas passagens de som — e, consequentemente, nos shows — fez com que ele cancelasse sua participação, já que teria um show em outro estado para o qual iria logo depois.

 


Pra Sempre Rap. Foto reprodução / Instagram Rock in Rio.

 

Um público de 95 mil pessoas circulando por palcos com praticamente todos os gêneros em evidência no mercado musical do país não deixa de ser uma demonstração de força da marca Rock in Rio, do evento e da música brasileira em geral. No entanto, definitivamente não é algo simples fazer funcionar 90 atrações em um dia, respeitando horários de passagens de som e de shows com pouca possibilidade de ensaio. A parte de som acabou sofrendo com os problemas de organização. Para o público, ficou a percepção de um dia com problemas técnicos, conforme foi relatado em matérias jornalísticas nos veículos de maior circulação e audiência.

 

"Não sei dizer o porquê, mas o Dia do Brasil no Palco Mundo foi o único dia atrapalhado do festival. O motivo não está claro. Provavelmente, são vários. Mas as necessidades deste dia nos foram passadas apenas na noite anterior ao show, pedindo uma quantidade imensa de material que não estava prontamente disponível. Isso não é normal. Costumamos ter alguns dias para planejar e preparar as necessidades específicas para cada dia de show. Vimos também bandas montando simultaneamente, o que gerava a necessidade de atendimento simultâneo. Diria que foi o dia mais confuso do festival, gerando atrasos não apenas nas montagens e passagens de som, mas na própria grade de shows do festival", relata Peter Racy.

 

De fato, ficou definido pela organização que, em 2026, não haverá, no Rock in Rio, um dia com tanta gente tocando ao mesmo tempo em tantos palcos.

 


 

Os engenheiros de som e o festival

 

Ainda que, cada vez mais, seja possível usar, em festival, os mesmos parâmetros do show regular de turnê, sempre acaba sendo uma aventura diferente tocar neste tipo de evento. Até porque, em alguns casos, foram construídas apresentações específicas para o festival.

 

Kleber França, por exemplo, que faz parte da equipe do cantor de trap Filipe Ret, mixou o P.A. do show Pra Sempre Trap e a mixagem para transmissão do Planet Hemp, da qual fez o P.A. durante trinta anos. Ao explicar as particularidades de mixar trap, ele destacou a complexidade do show de Filipe Ret, que conta com uma banda completa, incluindo 16 canais de bateria, baixo, guitarra, violão, teclado, naipe de metais e oito canais de programação. No caso do Planet Hemp, França ressalta que a banda ampliou as influências do seu som, especialmente após a gravação do DVD de 30 anos. "Agora o grupo inclui naipe de metais, uma segunda guitarra e bateria eletrônica. Foi emocionante. Fiquei bem feliz com o resultado", afirmou o engenheiro de som.

 


Felipe Lino de Almeida, técnico de Chitãozinho e Xororó 

 

Um dos destaques da edição de 40 anos do Rock in Rio foi a entrada do gênero musical sertanejo no cardápio de atrações. A estreia aconteceu no Dia do Brasil, no show Pra Sempre Sertanejo. Para tocar no Rock in Rio, a equipe dos artistas fez uma super operação para sair direto de Jaguariúna (SP) na noite anterior, onde também fizeram um ensaio. A banda deles foi a banda base do bloco de shows de música sertaneja. O responsável pelo P.A. da banda foi Felipe Lino de Almeida, já com eles desde 2018. "Trabalhamos, normalmente, com 49 canais, sendo um deles o timecode. Tem sax ao vivo, trompete ao vivo, violino, gaita, flauta... é um input bem completo. Viajamos com o sistema de fone, de transmissão e a mesa do palco, a Yamaha CL. Hoje (no Rock in Rio) estamos usando tudo da Gabisom", comenta o profissional.

 

No mesmo dia, aconteceu no Palco Mundo o show Pra Sempre MPB, com Ney Matogrosso, Carlinhos Brown, Gaby Amarantos, Zeca Baleiro, Daniela Mercury e Majur. Há quase uma década ao lado do BaianaSystem, o engenheiro de som Vitor Vaughan pilota o P.A. em shows que combinam elementos do sound system jamaicano com a sonoridade criada na Bahia. Além do show Pra Sempre MPB no dia 21 de setembro, no Palco Mundo, o grupo também tocou com o Olodum no show Olodumbaiana, dia 22 de setembro, no Palco Sunset.

 


Vitor Vaugan, do baianaSystem, e Jailson, do Olodum

 

No primeiro dia, apesar de estarem misturados no bloco de artistas da MPB, o BaianaSystem tocou com a banda completa em um arranjo no mesmo formato que já tocam no show normal. "(O show com o Olodum) é um show que a gente fez pela primeira vez no Festival de Verão de Salvador (no Rock in Rio), e essa é a quarta vez desse esquema. Na parte de arranjo é mais complicado", explica Vitor. O show Olodumbaiana é operado a quatro mãos com Jailson Moreira, engenheiro de P.A. do Olodum. "Não é a primeira vez que fazemos essa fusão. A gente vai trocando ideias, vê as frequências dele (Vitor) para não misturar com as nossas, vamos cortando as coisas e, de repente, vai acontecendo. Aí aparece essa fusão maravilhosa!", exalta Jaílson.

 

A presença de elementos do sound system é fundamental na estética sonora do BaianaSystem. Por isso, Vitor adiciona alguns equipamentos insertados. Entre os dispositivos usados, ele menciona um pedal de guitarra que emula um delay de fita, do tipo Roland SPC, e uma sirene dub, que cria os sinais eletrônicos e distorções de frequência que fazem parte do som do grupo. "Não consigo fazer os efeitos com a mesa. O delay de fita, se eu filtrar e distorcer, até consigo chegar, mas não consigo mexer na resultante do efeito porque eu manipulo o feedback enquanto ele está acontecendo", explica.

 

Carlinhos Brown foi o outro artista no bloco de shows da MPB que tocou com sua própria banda. "Temos um input único para todo mundo com 101 canais. Estamos dividindo eu, o Vitor (Baiana System) e Cláudio, que é o da Banda Base, e eu com o Brown. Cada um pega na console e faz o som (na hora que o seu artista toca). Tivemos ontem um ensaio com todo mundo junto, sincronizado, filmando tudo certinho. Estamos usando equipamento da Gabisom, e o Brown usa o microfone dele pessoal. Na hora dele, a banda base sai e ele vem com a banda dele", explica Fábio Luís Lopes, o Magoo, responsável pelo som para o público de Carlinhos Brown.

 


Vitor Vaugan inserta equipamentos na console 

 

Houve também aqueles profissionais que atuaram com diversas atrações, como Ronaldo Lima. Ele teve uma agenda variada, começando pelo P.A. de Gloria Gaynor no Palco Sunset. "Foi P.A. raiz, com input list de 22 canais: bumbo, caixa, hi-hat, dois tons e três sopros, sem VS", detalha. O show foi apoiado por uma equipe técnica brasileira e músicos internacionais. "Ela ficou super feliz, e a voz dela estava ótima logo na entrada", comenta Ronaldo.

 

Ele também mixou a Orquestra Sinfônica Brasileira em uma homenagem à Alcione. "São 84 canais e 70 microfones condensadores no palco. Uma orquestra quase completa, com violinos, violas, cellos e metais. É uma formação bem grande, mas não é a completa. Alguns instrumentos usaram DPA, mas teve microfone de ambiente para pegar primeiro e segundo violinos e violas, um estéreo para pegar os cellos e baixos e um estéreo na cabeça do maestro, que é o que realmente começo por aí", descreve. Apesar do ambiente de festival, com ruídos de fundo intensos, Ronaldo optou por não comprimir excessivamente, privilegiando a dinâmica natural da orquestra. "O segredo foi filtrar bem e pilotar na mão, mantendo a estética clássica."

 

Sérgio Murilo, que também vivenciou a intensidade do festival, com ensaios curtos e apresentações repletas de artistas, trabalhou no Dia do Brasil, no Palco Mundo, no show de música brasileira que reuniu Ney Matogrosso e Carlinhos Brown, entre outros nomes. "Foi cansativo, mas deu tudo certo", comenta Sérgio. Já no dia seguinte, Sérgio se dedicou ao show da turnê regular de Ney Matogrosso, Bloco da Rua, que aconteceu no Palco Sunset. "É um show com graves dominantes. O som da bateria e do surdo ocupa a mesma frequência, o que exige limpeza e precisão. O Ney canta com monitor de chão, algo raro hoje em dia, porque ele nunca se adaptou ao in-ear", relata. O trabalho de Sérgio Murilo com Ney incluiu reverb longo na voz, delay curto para dobras e ajustes finos para destacar suas características vocais. Ele também destacou a importância de viajar com o equipamento certo. "Sempre que possível, levamos o sistema da Gabisom, que nos permite manter uma consistência sonora", finaliza.

 

 


 

Volume de som e festivais 

 

Já há décadas que Peter Racy trabalha em todo tipo de evento e show no mais alto nível. Isso o faz refletir sobre a questão do volume nos shows do Brasil: "Vejo que ainda não há um debate mais amplo quanto ao que chamamos de 'Volume'. Na minha opinião, já é hora de haver uma normatização e regulamentação dos níveis de SPL produzidos em shows e festivais. Por favor, não me entendam mal. Como todo PAzeiro, eu adoro um som alto e com qualidade. A questão é: o quanto é alto demais?", questiona.

 

Ao prosseguir, Racy reforça que volume alto não é sinônimo de qualidade e ressalta a melhora dos equipamentos. "Hoje, eles respondem infinitamente melhor, com mais potência acústica, clareza e maior alcance do que há poucos anos. Não há sentido o camarada utilizar toda a potência do 'motor' só porque ela existe. Onde foi que perdemos o bom senso? Proponho que profissionais do ramo, legisladores e profissionais da saúde e da ciência formem painéis de discussão e elaborem limites sensatos. Nem é preciso ir tão longe para reinventar a roda. É ver o que foi decidido nos países desenvolvidos para nortear a discussão e adaptar à 'nossa brasilidade'.

 

Ele ressalta que, na área de audiovisual, já foi estabelecida uma regulamentação. "Todo o universo de broadcast, cinema e streaming adotaram regulamentação de volume seguindo os padrões de 'Loudness' medidos em LUFS-Integrado (Sigla para: Loudness Units Full Scale integrados ao longo do tempo). Isso veio para nivelar o campo de jogo e acabar com a guerra de volume, e todos ganharam. Desde os produtores de conteúdo até os consumidores finais, que desfrutam de um padrão de volume constante entre diferentes conteúdos. Lembra quando os comerciais vinham muito mais altos do que o programa que você estava assistindo? Coisa do passado. Apenas empresas desatualizadas ainda adotam essa prática", aponta.

 


 

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