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SUMÁRIO / Matéria de capa

Iluminação: Mari Pitta e uma experiência de The Town

09/10/2023 - 17:24h
Atualizado em 16/10/2023 - 21:46h

Reportagem: Miguel Sá | Fotos: Renata Monteiro

 

Mariana Pitta está acostumada a trabalhar como parte da equipe da LPL, inclusive na última edição do Rock in Rio, desta vez, na primeira edição do The Town, ela aprofundou a parceria com a diretora Drica Lara iniciada no show de Ludmilla, no Rock in Rio, atuado como light designer e diretora técnica dos artistas Wiu, no Palco Factory, Iza, no Skyline e Matuê, no The One.  

 

Além do projeto de iluminação propriamente dito - com a criação e execução deles para os shows - como diretora técnica, coordenou todos os detalhes técnicos de luz, cenografia, estruturas, maquinárias e led, desde os projetos até a montagem e desmontagem. “Trabalhei em estreita colaboração com artistas e equipes de criação, criando momentos, ampliando, através da luz, a potência dos shows e trazendo efeitos de iluminação para complementar a estética visual desejada., garantindo a entrega dos espetáculos como um todo. Foi uma experiência desafiadora e gratificante, contribuindo para o sucesso técnico e artístico dos shows. Ver o público desfrutar das apresentações e sentir o impacto visual e emocional que criamos foi incrível”, comemorou a light designer, que detalhou  sua experiência para a Revista Backstage.

 

 

Fale um pouco como surgiu a parceria com Drica Lara, a diretora dos três shows  

Esses projetos foram, de fato, resultado de uma parceria incrível com a talentosa diretora Drica Lara. Tudo teve início com o trabalho no Rock in Rio de 2022, onde tive a oportunidade de criar o design de luz e direção técnica para o show da Ludmila a convite dela. Descobrimos que tínhamos uma grande afinidade artística e uma abordagem semelhante para a criação de experiências visuais memoráveis em shows ao vivo. A partir desse encontro, fechamos nossa parceria para colaborar no festival The Town. Trabalhar com a Drica tem sido uma jornada incrível, e nossa parceria tem permitido que exploremos novas dimensões criativas no design de luz e na produção de espetáculos.

 

 

Foi você quem operou os shows diretamente ou foi responsável mais pelo projeto e acompanhamento?

Em relação à operação dos shows, eu estive mais envolvida na parte de projeto e acompanhamento. Para cada um dos shows, a LABe, nossa empresa de projetos para o entretenimento, designou um programador e operador. Minha responsabilidade principal foi liderar a parte criativa, desenvolver os designs de iluminação, coordenar todos os detalhamentos técnicos e acompanhar de perto a execução para garantir que a visão criativa fosse realizada com sucesso no palco.

 

 

Poderia compartilhar com a gente os briefings e objetivos específicos que você recebeu ao criar o design de luz para os shows de Wiu, Matuê e Iza para o festival The Town? Quais foram os desafios?

Certamente, a criação do design de luz para estes shows foi uma tarefa desafiadora, especialmente porque os shows do Matuê e da Iza ocorreram durante o dia. O briefing principal que recebemos para essas apresentações era bastante direto: 'faz a luz aparecer' criando uma experiência visual marcante e impactante juntamente com a cenografia, mesmo sob a luz do dia. Para criar estes projetos nunca me desliguei do curto tempo que teríamos para a montagem, das facilidades e agilidades que precisaria ter para essas trocas de palco e dos orçamentos para equipamentos e estruturas extras. Começamos considerando a estética e o estilo musical de cada artista. No caso de Wiu, que se apresentou à noite no palco Factory, a ênfase estava na criação de um ambiente envolvente e dinâmico. Um mapa de luz que ressaltasse a cenografia imponente e que a mesma fosse se modificando através da luz, usando uma variedade de cores e efeitos para complementar sua performance. Solicitamos extras de movings spot para pontuar os volumes de geleira da cenografia, assim como ribaltas e parleds que faziam um volume de cor por dentro de cada iceberg. Trabalhamos muito em conjunto com a cenografia para chegarmos no melhor material para obtermos o resultado esperado, translúcido, mas não transparente.

 

Já para os shows de Matuê e Iza, que ocorreram durante o dia nos palcos The One e Skyline, enfrentamos o desafio de fazer a luz brilhar sob o sol. Para estes artistas, trabalhei o mapa de extras onde os equipamentos de luz fossem visualizados de frente, como “paredes” atrás dos artistas, gerando visualização das lentes de cada aparelho. Criamos assim contrastes e ataques que destacaram os artistas em meio à luz natural. Além disso, trabalhamos em estreita colaboração com a direção criativa e suas equipes para integrar elementos visuais específicos de seus sets, como telas de LED, estruturas com grandes formas geométricas e cenografia, de forma a compor a experiência visual. Foi aí que decidimos usar, para o show da Iza, o led transparente em uma atuação conjunta com a luz. Criamos grandes planos verticais de luz e led que proporcionaram uma atmosfera surpreendente com efeitos mágicos e movimentos suaves entre as estruturas.

 

Em todos os casos, o objetivo era criar uma sinergia perfeita entre a música, a iluminação e a atmosfera geral do show.

 

 

De que forma os palcos influenciam nesses projetos, tanto em termos de equipamento como de concepção?

Cada palco possuía características únicas, como tamanho, disposição, acessos e requisitos técnicos específicos, que influenciaram diretamente na concepção e na execução dos nossos projetos. O tamanho do palco é um fator importante. Em palcos maiores, como o Skyline, temos mais espaço para instalar equipamentos de iluminação elaborados, como trusses, motores e varas, o que nos permite criar uma gama mais ampla de efeitos e designs. Ao mesmo tempo, este palco também abriga os maiores shows do Festival e isso precisa de muita atenção e trabalho conjunto com o festival para compatibilizar todos os shows de cada dia. No caso da Iza, tínhamos o Bruno Mars como headliner e com um extra considerável ocupando uma grande área.

 

 

Palcos menores, como o Factory, podem exigir um planejamento mais cuidadoso para garantir que nossa iluminação se encaixe harmoniosamente no espaço disponível e que as peças sejam menores devido aos acessos. Dependendo das condições de entrada e saída de equipamentos, podemos ter que ajustar o design de luz para garantir que a montagem e desmontagem ocorram de maneira eficiente e segura. Isso é particularmente importante em festivais, onde os horários são rigorosos e cada minuto conta. Aproveitamos o máximo do equipamento oferecido nos riders, sem alterá-los e inserimos apenas os aparelhos importantes para a concretização de nossos desejos específicos para cada artista.

 

 

Além disso, as possibilidades de instalação de equipamento adicional de luz variam de um palco para outro. Em alguns casos, podemos ter mais liberdade para adicionar elementos extras, como telas de LED, efeitos especiais ou equipamentos de projeção, enquanto em outros palcos, devido às limitações técnicas ou de tempo, podemos precisar nos concentrar em soluções mais práticas. Tivemos que levar muito em consideração os espaços de backstage para abrigar nossas estruturas sem maiores problemas. 

 

 

A grande maioria de meus extras de luz foram inseridos no show em forma de estruturas pré-montadas, testadas no backstage e colocadas no palco apenas no momento do show, possibilitando a retirada de tudo em menos de 15 minutos. O tempo de montagem e desmontagem é sempre crítico em um festival. Cada minuto é valioso, nossa equipe deve ser altamente eficiente para garantir que a iluminação, e os demais itens extras do artista, estejam prontos para cada apresentação e sejam desmontados sem atrasos incluindo estruturas, cenografia e backline.

 

 

 

 

Poderia compartilhar detalhes sobre o cronograma de planejamento para os projetos de iluminação dos shows? Quanto tempo você teve para projetar cada apresentação e se houve tempo para ensaios e testes? Além disso, houve alguma necessidade de montar algum desses shows em outro local, semelhante ao que foi feito com Ludmilla no Polo de Cine e Vídeo?

O cronograma de planejamento para os projetos de iluminação dos shows foi um processo minucioso e estratégico. Tivemos a vantagem de contar com uma antecedência satisfatória para cada projeto, o que nos permitiu um planejamento mais detalhado e uma execução mais precisa. Para cada um dos shows, tivemos tempo adequado para projetar e aprovar as estruturas de luz e os equipamentos extras com a equipe do festival. Isso foi crucial para garantir que nossos designs fossem viáveis e atendessem às necessidades técnicas e estéticas de cada apresentação. No caso dos shows de Iza e Matuê, tivemos um prazo estendido para a programação de luz. Utilizamos recursos como o estúdio 3D do próprio festival, além de estúdios externos, para realizar testes e ensaios virtuais. Isso nos permitiu criar uma programação de luz altamente precisa e detalhada, alinhada com os movimentos da cenografia, coreografia e até mesmo com o conteúdo de LED. Para o show de Wiu, que aconteceu durante a noite, contamos com a colaboração do atual iluminador do artista, com quem trabalhamos para incorporar a luz cenográfica que desempenhou um papel significativo no espetáculo.

 

Especificamente para o show da Iza, houve a necessidade de montar um estúdio em São Paulo, onde pudemos realizar ensaios detalhados do conteúdo de LED, movimentos da cenografia, luz e coreografia. Esse processo foi essencial para garantir que todos os elementos estivessem perfeitamente sincronizados e coreografados.

 

 

Que diferenças e semelhanças você percebeu em comparação ao Rock in Rio?

Os dois festivais são parecidos devido a produção ser do mesmo grupo. Aprovação de projetos, credenciamentos, possibilidades de atuação nos palcos, acessos de cargas, tudo isso segue um caminho parecido nos dois casos. Já a minha atuação foi maior agora pois ao invés de um único show como responsável pela iluminação e pela direção técnica, desta vez foram três, em três palcos diferentes e com três equipes diferentes do festival. No The Town participei apenas com minha empresa LABe, respondendo por estes três clientes Wiu, Matuê e Iza.

 

 

Algo mais que gostaria de comentar?

Eu (LABe) e Drica Lara (Neon) percebemos que estamos criando um formato de trabalho interessante para o mercado do entretenimento. O trabalho em conjunto, desde o princípio da criação de um espetáculo, faz com que todos os itens estejam alinhados com o conceito criativo. Minha experiência como arquiteta e cenógrafa, além de iluminadora, me fez ter uma visão ampla, podendo tomar decisões adequadas para cada projeto que junte iluminação, cenário, led, som e estruturas, trazendo comigo grandes empresas parceiras para projetos e execução e possibilitando a compatibilização prévia de tudo e maior assertividade nas montagens.

 

 

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