Reportagem: Miguel Sá | Fotos: RioTur / Divulgação / Arquivo Pessoal / Redes Sociais
Acendimento rápido, desenvolvimento da potência dos equipamentos em LED e controle via mesa: essas três possibilidades fizeram com que o sonho da iluminação cênica no carnaval – algo que se tenta desde o início dos anos 2000 - pudesse, finalmente ser concretizado. Essa é uma luta que eu venho travando há 18 anos. Tenho certeza que todos os iluminadores que veem a luz do sambódromo estática, com vapor metálico, pensaram que tinha que ter uma iluminação cênica para o maior espetáculo a céu aberto do mundo”, enfatiza Cesio Lima, diretor de fotografia do desfile para a Rede Globo.
Cesio relembra que, quando o sambódromo foi construído, não havia opções de iluminação do localque não fossem a luz branca. “Estou falando de 40 anos atrás A solução era mostrar os desfiles bem iluminados. Foi uma tarefa que a Rioluz levou esse tempo todo direitinho. Em 2003, 2004 e 2005 nós trouxemos os Space Cannon, apagamos a luz branca da avenida e tivemos um show de luzes e o controle de ir acendendo a luz branca durante a passagem da escola. A tecnologia era outra, tinha uns refletores enormes, mas foi a primeira vez que houve controle da iluminação do Sambódromo. Depois disso ninguém mais teve dinheiro para fazer isso e desde 2005 venho tentando viabilizar o projeto”, conta o diretor de fotografia.
Cesio Lima e Rosa Magalhães (Foto: Reprodução Redes Sociais)
Novo projeto Na medida em que tentava viabilizar uma iluminação cênica para o desfile, Cesio percebeu que teria de ir além de um projeto para show e da locação de um equipamento para o evento apenas. “Eu entendi que fazia todo o sentido um projeto que não fosse só de luz de show. Tem situações que não dá para querer fazer uma luz de show para o carnaval, que é um espetáculo único. Não é levar uma luz de show para o carnaval. É levar uma luz cênica para o carnaval, e para isso também tinha de haver a possibilidade de se fazer outros tipos de evento para o sambódromo, então eu sai da ideia da locação. Eu e Bruno chegamos à conclusão que o projeto ideal para o sambódromo era esse projeto que fizemos”, diz Cesio, apresentando uma lista com 150 movingbeam, 320 refletores Rockee Sport 1000W DMX , 124 refletores P10 Hot Machine e um sistema de mesa integrado com a Avenida inteira, incluindo wifi e fibra ótica dando suporte a toda comunicação do Sambódromo.
Bruno Lima, que, com Cesio Lima e Nilson Barros - contando ainda com Randolfo Neto como desenhista - projetou o sistema, explica a evolução e os detalhes. “Estamos trabalhando no projeto novo desde 2014, quando já tinha um equipamento com mais possibilidade de controle que em 2004, 2005 e 2006, quando foi feita a primeira tentativa, mas foi em 2019, com a tecnologia de LED bem afiada, que surgiu um equipamento viável de ser controlado via mesa e financeiramente possível. Antes dessa evolução na potência do LED, só tínhamos refletores com lâmpada HDMI, a gás, e esses refletores são caros”, coloca.
Nilson Barros e Bruno Lima
Outra coisa que mudou para melhor, segundo Bruno Lima, foi a possibilidade de usar as torres de luz já existentes no Sambódromo. “Em 2014 o projeto ainda era diferente. O resultado era basicamente o mesmo. Porém, como os refletores não eram de LED, nos obrigava a não usar a torres por conta do tamanho dos equipamentos”. Bruno explica que a evolução aconteceu por conta de demandas que já ocorriam na iluminação de estádiosque, atualmente, abrigam eventos esportivos etambém de entretenimento. “Estamos há muito tempo nesse meio de eventos e shows, inclusive Olimpiadas. Em 2016 vimos que os estádios começaram a usar esse tipo de refletor de LED, o qual a lâmpada não demora tanto para acender. Isso era um problema para os estádios, porque quando queria criar alguma coisa artística no meio daquela luz branca era impossível. Conforme mudou-se para LED aumentaram as possibilidades. A partir daí veio outra evolução que foi o controle desses equipamentos via mesa. Quandochegou esse LED controlável, o leque se abriu para uma quantidade de aplicações dentro do estádio até durante o jogo, ou no intervalo. Em 2019 esses refletores de LED já estavam bem evoluídos. Essa foi a hora que fizemos esse último projeto”, conclui.
James Pinheiro, Fernando Garrido, Nilson Barros, Bruno Lima, Wagner Monteiro e Cleber Rede
Além dos equipamentos, havia as questões práticas de estrutura, como expõe Bruno. “Por ser tombado, não pode mexer em várias coisas ali nas torres. Trabalhamos com o que podia ser reforçado, melhorado, mas não poderia mudar o tamanho ou a distância, então a gente já trabalhou com essa informação para escolher sempre o equipamento que, além de potência e qualidade , teria um tamanho que encaixasse nas torres”.
A retirada dos equipamentos antigos e a colocação dos novos não foi tão simples. “Você pega a torre, o tamanho e o material de que ela é feita e sabe que ela aguenta. Mas na hora que vai tirar o parafuso do que está montado...A gente conseguiu fazer isso com a Smart Luz (concessionária de luz). Eles tinham o time com as soluções para tirar o refletor antigo e colocar o novo”, explica Bruno. Cesio Lima também ressaltou o apoio da Smart Luz, que fez a montagem do equipamento e também manteve uma pessoa em cada setor, além de ficarem de olho sempre nas cabones primárias. “Eles tomaram a frente da execução do projeto. O Carlos Sanchez e o Alexandre Tereso (respectivamente presidente e diretor da Smart Luz), se tornaram nossos amigos. A especialidade deles é iluminação pública, mas foram muito parceiros na execução do projeto, vestiram a camisa e fizemos uma coisa muito legal”, comemora Cesio, agradecendo ainda o apoio de Paulo Cezar dos Santos, presidente da Rioluz.
Configuração O sistema foi montado com 20 caminhos diferentes de fibra ótica, todos funcionando como possíveis redundâncias. “Se uma se corta, ainda tem 19, e assim vai. Tudo para o sistema ficar bem seguro”, explica Bruno Lima. A configuração foi feita de forma que possa ser comandado tanto da housemix como de qualquer lugar do sambódromo. “Além das fibras, temos pontos de wi-fiem cada arquibancada. Na programação colocamos a mesa na pista, fizemos a alimentação dela e a comunicação foi via wi-fi. Mas o cérebro dessa rede é na housemix”, aponta Bruno Lima.
No centro do sistema da iliminação, na housemix, havia uma mesa GrandMA3Fullsize, uma Gran MA3light, dois servidores PU.GrandMA3 XL Extralarge e 14 suitesUnify de 10G. “A suíte consolida a rede, e temos bastante no break para alimentar isso”, conclui bruno. Na equipe que trabalhou durante o desfile, sob o comando de Cesio Lima como diretor de fotografia da transmissão da Globo, havia três programadores e duas pessoas cuidando do sistema. Em cada arquibancada também havia um profissional cuidando dos sistemas nelas. “Cada uma tem um sistema de informação. As nossas fibras chegam embaixo das arquibancadas, as fibras são convertidas em sinal DMX e são mandadas para as torres. Tem uma pessoa cuidando de cada sistema desses nas arquibancadas. No dia do desfile tivemos por volta de 50 pessoas trabalhando”, detalha Bruno.
Nas torres, a quantidade e a qualidade dos equipamentos em cada uma das 38 unidades pode variar de acordo com o setor e a distância entre uma e outra. “Onde tem o segundo recuo de bateria a distância entre uma e outra é o dobro das outras, então lá tem o dobro do equipamento,mas, basicamente, temos seis refletores de iluminação com LED branco, três com LED colorido e três movinglights que são os aparelhos que fazem aqueles feixes apontados para o céu em cada torre. O Sambódromo está preparado para receber esse equipamento e a rede de informação que foi colocada faz ela ser capaz de suportar mais, e não estou nem falando só de iluminação. Pode conectar fumaça, bolinha de sabão e várias coisas que podem ser acrescentadas nas torres de iluminação. Tudo já está na mão dos carnavalescos que podem, durante o ano, programar no virtual, não só no real aqui no Sambódromo. Agora é aperfeiçoar”, detalha Bruno.
Os programadores Sergio Lights, Cleyton Prado, Wanderson Magrinho e Bruno Lima
Sistema de iluminação consolidado Depois de anos de sonho, espera e realidade, Cesio Lima sentiu-se satisfeito com o que aconteceu no carnaval de 2023. “No ano passado, por causa da pandemia, não deu tempode chegar o equipamento. Fizemos a luz com o equipamento da LPL. Foi legal, mas não foi o projeto original, o que fizemos esse ano. Esse ano conseguimos viabilizar porque tivemos o empenho da DanielaMaia, que era a presidente da Riotur e hoje é a Secretária Municipal de Turismo do Rio de Janeiro. Esse ano ainda foi meio tímida a utilização dos recursos pelos carnavalescos. mas eles já se empolgaram porque, entre os desfiles oficiais e o desfile das campeãs, algumas escolas que não fizeram nada de luz nos procuraram e programaram alguns efeitos. O Boninho, que é o diretor de transmissão do carnaval, me ajudou muito nessa coisa da luz. O Boni pai sempre quis trocar a luz do sambódromo, isso é uma inspiração dele. Com a Daniela Maia tomando a frente dessa demanda, conseguimos realizar o projeto que vem sendo lapidado há 18 anos”, comemora.