A música brasileira na praça do mundo com Luiz Millan
08/04/2024 - 11:18h
Atualizado em 09/04/2024 - 07:15h
Reportagem: MIguel Sá | Fotos: Priscilla Prade (abertura) / luizmillan.com
Brazilian Match - Luiz Millan – JSR Records
Desde Carmen Miranda, ainda nos anos 40 do século passado, a música brasileira dá seus pulinhos pelo mundo em um movimento que se fortaleceu nos anos 50, 60 e 70. Claro que temos de colocar uma atenção especial nos 60, quando Tom Jobim e João Gilberto catapultaram para o mundo o sambajazz maturado durante anos pelos melhores músicos das noites cariocas. As marcas do movimento foram duradouras. Até hoje podemos, de certa forma, andar em chão brasileiro em qualquer lugar no qual a música daqui é apreciada. Efetivamente, é nessa trilha que o quinto álbum do compositor Luiz Millan caminha. Produzido por Arnaldo DeSouteiro - um militante da música internacional brasileira com trânsito livre entre figuras como João Gilberto, Marcos Valle, João Donato e Tom Jobim - o álbum Brazilian Match é a praça na qual músicos de todo o mundo se encontram para celebrar o jazz que bebeu na fonte do Brasil.
Em sua maioria, as músicas têm a assinatura de Luiz Millan e Jorge Pinheiro. Também estão entre os compositores Peter Eldrige, Ivan Miziara, Ellen Johnson, Michel Freidenson, Moacyr Zwarg, Alice Soyer, Plinio Cutait e Márcia Salomão. O álbum é muito colaborativo nas composições e também nas participações. Estão presentes excelentes músicos conhecidos tanto do grande público como aqueles que agradam a quem gosta de ler as fichas técnicas dos melhores álbuns como Camilo Carrara, Chico Batera, Chico Oliveira, Edu Ribeiro, François, Igor Willcox ,Mauricio Zottarelli, Sylvinho Mazzucca, Teco Cardoso, Toninho Ferragutti, David Sanborn, Barry Finnerty, John Tropea e Mike Mainieri. Estão presentes também as vozes do grupo New York Voices, Lisa Ono, Clémentine e Giana Viscardi, Alice Soyer e Ellen Johnson.
David Sanborn durante a gravação do álbum Brazilian Match
Mas de nada adiantaria tanta gente boa tocando se não houvesse um produtor capaz de reunir esses nomes com coerência estética. A reconhecida competência de Arnaldo DeSouteiro e a familiaridade dele com a linguagem musical exercida no álbum fazem com que performances musicais registradas separadamente em um período de um ano em estúdios de todo o mundo não fiquem parecendo uma colcha de retalhos. O que se ouve no final é efetivamente um álbum, tanto no que diz respeito aos arranjos como na sonoridade.
Arnaldo DeSouteiro e Sylvinho Mazzucca durante a gravação do álbum Brazilian Match
Quando se fala de sonoridade, é impossível não citar a importância do trabalho do engenheiro de mixagem Michel Freiderson no estúdio Pro Ritmo, em São Paulo, e da masterização de Ignácio Sodré. Eles foram os responsáveis por colocar, na mesma “sala”, as gravações feitas em estúdios dos EUA, Japão, Itália, Brasil, México e França que se juntaram à base registrada no estúdio Arsis, por Adonias Júnior, em São Paulo.
Adonias Júnior durante a gravação do álbum Brazilian Match
Entre os destaques, o smooth jazz de sabor donatiano Pacuíba (Luiz Millan e Jorge Pinheiro) que abre o álbum, com a guitarra de intervenções certeiras de John Tropea. Já Andar descalço (Ivan Miziaro, Luiz Millan e Jorge Pinheiro) tem levada de samba de gafieira com participação de Randy Brecker e a voz de Giana Viscardi. O clarinete de Eddie Daniel e o vibrafone de Mike Manieri fazem surgir a Madrugada de Luiz Millan e Michel Freidenson em belíssimos solos.
Arnaldo DeSouteiro e Giana Viscardi durante a gravação do álbum Brazilian Match
Aliás, a colocação das participações instrumentais está na medida certa para agradar a quem gosta de ouvir grandes músicos tocando e a quem não presta tanta atenção nessa parte e curte mais o geral da canção. Talvez por isso esteja acontecendo o transbordamento do trabalho para além da bolha do jazz. “Estão acontecendo coisas incríveis com esse disco. Não são só as rádios de jazz que estão tocando. Agora que estamos começando a divulgação no Brasil, mas o álbum toca maciçamente. A repercussão está imensa. Quando ele ganha quatro estrelas e meia no All Music, esse não é um site de jazz, então é uma proeza o que este disco está conseguindo. E ainda tem o CD físico, que ninguém mais faz, mas nós lançamos e as pessoas estão adorando”, comemora o produtor Arnaldo DeSouteiro.
Ficha técnica
Sax alto – David Sanborn
Baixo – Josh Marcum, Sylvio Mazzucca Jr., Mark Egan
Arranjos e regência – Michel Freidenson
Clarinete – Eddie Daniels
Bateria – Danny Gottlieb, Edu Ribeiro, Igor Willcox, Mauricio Zottarelli
Guitarra – Barry Finnerty, John Tropea, Camilo Carrara, Jorge Pinheiro
Flauta – Teco Cardoso
Harmonica – Humberto Clayber
Percussão – Chico Batera
Sax tenor – Ada Rovatti
Trombone – François De Lima
Trumpete e fluguel – Chico Oliveira, Randy Brecker
Vibrafone – Mike Mainieri
Vocais – Alice Soyer, Clémentine, Ellen Johnson, Giana Viscardi, Lisa Ono, New York Voices
Engenheiros de som – Adonias Junior, Arnaldo DeSouteiro, Jon Sebastian Tropea Jr., Michel Freidenson, Robson Galdino, Scott Petito