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REPORTAGENS / Matérias Completas

Pandemia e Shows ao Vivo: Um Raio X e Possíveis Soluções

22/09/2020 - 16:52h
Atualizado em 30/09/2020 - 09:54h


 

Para tentar entender os efeitos desta pandemia nos shows ao vivo, consultamos alguns proprietários das locadoras em todo o Brasil. Cinco profissionais mostram como  enxergam a crise, suas consequências e as possíveis saídas.

 

Desde janeiro que havia um “zumzumzum” circulando pelo mundo: uma nova virose surgiu na China, mais precisamente em Huan, que foi a primeira das cidades fechadas, com controle de deslocamento, mortes... As notícias não eram boas.

 

Em fevereiro, as coisas pioram. A nova virose chega na Europa, um dos principais centros mundiais da indústria do entretenimento. Já em fevereiro, notícias das mortes crescentes na Inglaterra, Espanha, França e Itália, trazem pânico ao mundo.

 

Para agravar a situação, a politização da crise e suas consequências econômicas, somadas à falta de transparência e contradições até da própria Organização Mundial de Saúde (OMS), geram reações diversas e desencontradas nos países. Alguns chegam a contestar a gravidade dos acontecimentos, mas o fato é que a economia do mundo parou. E como sempre acontece nas crises, a indústria do entretenimento é a primeira a sofrer e deve ser uma das últimas a se recuperar.

 

No Brasil, agora já no patamar de pandemia, o covid-19 chega de vez em meados de março, na ressaca do carnaval. De um dia para o outro, eventos de todos os tipos – dos corporativos aos grandes shows - são cancelados. Dia após dia, a notícia do adiamento de festivais como Lolapaloozza e João Rock aportavam nos e-mails das empresas que montam as estruturas dos espetáculos. 

 

Com o agravamento da falta de trabalho e renda, os trabalhadores da graxa começam a lutar por compensações. Reinvindicações pelos auxílios emergenciais e outros paliativos invadem as redes sociais. Passada a perplexidade inicial, começam as mobilizações – como as passeatas com case – e as reuniões com integrantes do governo na luta por medidas efetivas de apoio à indústria criativa.

 

E agora... Números se contradizem nos sites de notícias e nas redes sociais, estados e municípios começam a afrouxar as medidas restritivas e o povo, cansado de tantas incoerências nas informações, começam um “protesto á Brasileira”, enchendo os shoppings, as praias e o transporte público. Enquanto isso, fora do país começam a acontecer eventos que podem indicar alguns caminhos a serem seguidos, já que a vacina aparece no horizonte, mas ainda não está presente.

 

Mas o que os empresários que trazem o som dos nossos shows de cada dia estão achando disso tudo? Existe, efetivamente, uma retomada? Haverá um “novo normal”? No meio de tanta especulação, o que acha quem põe a mão na massa?

 

A Revista Backstage procurou empresas de sonorização de norte a sul do país para traçar este panorama. Abaixo, quem se posicionou sobre o assunto.

 


 

 

- Como foi, para a Gabisom, este período de pandemia?

Já enfrentamos crises econômicas e de saúde nos últimos 40 anos, mas nada que impedisse atividades globais significativas e tendo a desinformação como padrão. Assim, interiorizamos nossos trabalhos dando continuidade à recepção de novos equipamentos e tecnologias já programadas em 2020, manutenções, balanços e reorganizações administrativas no Brasil e exterior.

 

- A Gabisom conseguiu ter acesso á programas de crédito e iniciativas dos governos municipais, estaduais ou federais para minimizar as consequências?

Seguimos nos valendo de recursos próprios para administrar este ano sem recorrer a programas de créditos governamentais.

 

- Neste período, que trabalhos conseguiram realizar e como foi a lucratividade?

Preferenciamos atendimento aos clientes com contratos vigentes e equipamentos já instalados, mesmo que precisassem removê-los para outros espaços em atendimento as demandas de cada um. Em relação à lucratividade o volume foi menor, considerando que o setor de maiores receitas continua comprometido. As margens seguem compatíveis ao triênio anterior em razão da política regulada de custos da Empresa.

 

- Ideias como os drive ins e shows com distanciamento social, como aconteceu na Inglaterra e em Curitiba, começam a indicar novos caminhos para os grandes eventos. Percebe alguma mudança no perfil dos eventos que acontecem daqui para frente? Como sua empresa está se adaptando a isso?

Não percebemos qualquer dificuldade no atendimento desses formatos. Enxergamos como decisões e direcionamentos futuros de acordo com o ambiente de negócios de cada um, já que, ainda, não geram faturamentos relevantes e sustentáveis. Observando a história da humanidade com pestes, pandemias, guerras, crashes, e respeitando o acaso,  devemos retornar ao cotidiano mesmo com os desafios que se apresentarem. Contratos dos Musicais de Teatro, Shows, Festivais Nacionais e Internacionais estão sendo reagendados para 2021, mesmo  diante de uma realidade movediça.

 

- Em relação aos protocolos e a nova forma de de fazer shows, na sua opinião, como será o impacto nos custos de produção?

Não identificamos consolidação de uma nova maneira de fazer shows, mas alternativas temporárias de sobrevivência e, claro, algumas ideias que podem caminhar juntas com os formatos convencionais e gerarem outros produtos de entretenimento. A expectativa mais objetiva seria a liberação dos limites de público para viabilização dos Projetos.

 

- Pela sua experiência, quais as mudanças/protocolos que vão se manter quando voltar a normalidade com uma vacina eficaz?

Depende dos números e características desse cenário nas próximas semanas enquanto vemos a antecipação impositiva da convivência endêmica e, mais à frente, o reforço das vacinas. Difícil crer que, com o tempo, tenhamos algum protocolo. Lembrando que a cada segundo tudo pode mudar e futurologia sanitária não é nossa especialidade.

 

- Gabi, seu comentário sobre o nosso mercado.

Como um conhecido ministro da Justiça nos anos 70: Sem comentários! Talvez seja a resposta mais sucinta para a pergunta mais complexa. Sabemos que estamos enfrentado a mesma tempestade em barcos diferentes e a evolução de cada um depende de como se sair menos lesado por conta dela. Parece óbvio, só que não. Provavelmente muitas questões político-econômicas devem surgir nas próximas semanas, meses, anos, resultantes deste período. Muitos apostam em redesenharem seus negócios. Faz parte.


Afinal, estamos pretendendo sair da intubação e respirar por conta própria. Somos livres dentro de um espaço determinado. Depois, cada vez menos.


Complicado prever algo onde não podemos intervir no sentido macro, mas nossa área sempre se saiu relativamente bem nas crises mundiais ao longo da história. Vamos contar com isso, paciência e bom senso.

 


 

 

- Como a pandemia chegou na sua empresa? Quando começaram os cancelamentos?

Dia 12 de marco de 2020, era uma quinta feira quando as notícias começaram a chegar do exterior. Comecei a imaginar que o vírus chegaria aqui e com certeza seria uma questão de tempo.

 

- Se preparou de alguma forma?

Não havia o que fazer

 

- Antes da pandemia, quais eram as expectativas com relação a trabalhos e economia?

Os meses finais de 2019 foram bem positivos. Acreditava que 2020 seria um ano excelente ano para os negócios.

 

- Marcelo, quando percebeu que a pandemia iria afetar de forma decisiva os negócios?

No inicio de abril, quando a situação se degradou muito na Europa e nos EUA

 

- Como está sendo, para a sua empresa, este período de pandemia?

Com a paralização praticamente total dos eventos, aproveitamos esses meses e realizamos uma força tarefa no sentido de reformar equipamentos que precisavam de manutenção e vender o que não estava mais em uso. De certa forma nesse sentido foi bem produtivo tanto para a empresa assim como para equipe, que manteve suas atividades e a cabeça ocupada. Em paralelo, e com ajuda de alguns parceiros durante este período de pandemia, nos concentramos também em ajudar nossos colaboradores (CLT, MEI e “Frillas”) distribuímdo aproximadamente 300 cestas básicas para 50 colaboradores.

 

- Neste período que trabalhos conseguiu realizar e como foi a lucratividade?

Lucratividade baixa. Foram rabalhos pequenos e os drive-In do BarraShopping e do Estádio do Pacaembu, onde fornecemos equipamentos de sonorização, iluminação e transmissão em FM.

 

- Conseguiu ter acesso aos programas de crédito e iniciativas de governos municipais, estaduais ou, federal para minimizar as consequências? Acredita que as medidas foram suficientes?

Tentamos e não conseguimos. As medidas me pareceram insuficientes e direcionadas para determinados setores e empresas, menos por responsabilidade do Governo Federal, que fez o que pode, e muito mais por conta dos agentes responsáveis pelos repasses.

 

- O que mais poderia ter sido feito?

O que poderia e deveria ter sido feito, na minha visão, seria não ter cumprido a agenda progressista da OMS, que instituiu o lock down total. Deveríamos sim ter cuidado pragmaticamente dos grupos mais sensíveis dos doentes e aguardar a imunização do rebanho naturalmente. A experiência do lock down foi um desastre o qual pagaremos a conta por anos. Obviamente não impediu a trajetória natural do COVID19 e ainda prolongou o tempo do pico da contaminação.

 

- Quais as suas expectativas daqui para frente?

Sou otimista. Acredito que há uma demanda reprimida importante e percebo algum tipo de recuperação nas atividades pontuais.

 

- Como está sendo administrar os cuidados sanitários nas atividades que já estão ocorrendo?

Medidas básicas álcool gel e máscaras, contudo acho que cada um deve ser responsável por si.

 

- Ideias como os drive-ins e shows com distanciamento social, como aconteceu na Inglaterra, começam a indicar novos caminhos para os grandes eventos. Percebe alguma mudança no perfil dos eventos que acontecem daqui para frente? Em caso positivo, como sua empresa está se adaptando a isso?

Não acredito nesse modelo de negócio. Os custos operacionais são altíssimos, não se sustenta. Ademais, nosso povo tem culturalmente o habito do relacionamento interpessoal muito próximo. Não faz parte da cultura coletiva distanciamento social e isso não se muda de uma hora para outra. As pessoas já perceberam a falácia que nos foi imposta. Tanto é assim que por mais que as autoridades sanitárias se esforcem no sentido contrario há uma clara desobediência civil em curso que pode ser diuturnamente verificada nas ruas e nas praias por exemplo.

 

- Em relação aos protocolos e a nova forma de fazer shows, na sua opinião como será o impacto nos custos de produção?

Não acredito em nova forma de fazer shows. As raras tentativas me parecem impossíveis de ser aplicadas no Brasil.


Você acha realmente possível um show da Ivete Sangalo com todos disciplinarmente sentados como numa igreja esperando a hóstia? Obvio que isso nunca existirá!


Não acredito em vacina 100% eficaz e segura em curto prazo. Não sou eu quem diz e sim os especialistas que afirmam isso. Sobre o cumprimento de protocolos, acho que serão descumpridos ainda que os organizadores de eventos tentem praticá-los.

 

- A Inside tem uma atuação forte no mercado corporativo, como essa área está reagindo?

Atuamos no mercado corporativo assim como em shows, festas e eventos sociais.  Acredito que o mercado corporativo será o primeiro a reagir até porque é o único que já tem autorização das autoridades ainda que com restrições. Contudo os valores praticados certamente estão deflacionados.

 


 


 

- Como a pandemia chegou na sua empresa? Quando começaram os cancelamentos?

Foi de forma abrupta para todos nós. No dia 20 de março veio a notícia definitiva de uma quarentena geral com o fechamento de todas as atividades não essenciais decretada pelas prefeituras e governos de estado. Isso sem um critério estabelecido previamente. Foi tudo de forma repentina. Estávamos finalizando a montagem de um equipamento para um grande evento corporativo e, após a entrega e ensaio com o cliente, fizeram uma reunião de avaliação da situação e decidiram simplesmente cancelar todo o evento que começaria no segundo dia seguinte. A partir daí tudo que tínhamos agendado foi cancelado paulatinamente.

 

- Quando as notícias começaram no exterior, imaginava que chegaria aqui? Se preparou de alguma forma?

As notícias do exterior começaram a chegar num período de extrema demanda no nosso segmento. Evidente que seria inevitável que o vírus chegasse também no Brasil, já que estávamos num período de muito fluxo de turistas estrangeiros no País. Como as autoridades estaduais e municipais menosprezaram inicialmente essa possibilidade, as atividades seguiram normalmente até a decretação da quarentena que pegou a todos de surpresa.

 

- Antes da pandemia, quais eram as expectativas com relação a trabalhos e economia?

O ano de 2020 iniciou se mostrando muito promissor para todos do nosso segmento. O volume de trabalhos fechados e agendados estava num patamar muito bom. A expectativa para todo nosso segmento era a melhor possível com a economia decolando.

 

- Alberto, quando percebeu que iria afetar de forma decisiva os negócios?

Essa percepção ocorreu quando ficou evidente para todos que não era apenas um problema de saúde pública, tinha um problema mais grave paralelo que era e continua sendo um problema político que vivemos no País. Independentemente de “a” ou “b” estarem certos, o STF fez um desserviço ao País quando pulverizou o poder para determinar as diretrizes de combate à pandemia entre Estados e Municípios. Ou seja, uma política que deveria ser una virou uma panaceia de “estratégias” e “protocolos” que decisivamente afetou toda a economia no País.

 

- Como foi, para a sua empresa, este período de pandemia?

Nós tivemos todas as atividades paradas literalmente. Dessa forma, tivemos que readaptar toda estrutura da empresa para minimizar os prejuízos que essa parada forçada causaria. Algumas empresas buscaram alternativas com realização de lives e montagens de drive-ins, mas optamos por não seguir esse caminho de forma efetiva.

 

- Neste período que trabalhos consegui realizar e como foi a lucratividade?

Fizemos apenas duas lives pontuais. Sem lucratividade.

 

- Conseguiu ter acesso a programas de crédito e iniciativas dos governos municipais, estaduais e federal para minimizar as consequências?

O único ente federativo que efetivamente ofereceu programas de crédito e outras possibilidades para minimização das consequências catastróficas da paralização foi o Governo Federal. Os governadores e prefeitos nada fizeram para ajudar as empresas e empregados, nada. Ao contrário, se utilizaram da já falada “pulverização de competência para gerenciamento da pandemia” feita pelo STF para impor condições absurdas de fechamentos, protocolos etc.  Trataram os cidadãos de forma ditatorial. Nenhuma ação para minimizar a situação crítica causada pela paralisação completa da atividade econômica. Já o Governo Federal disponibilizou linhas de crédito com condições especiais, assumiu o pagamento de salários ou parte deles durante a paralisação para proteger e manter os empregos, flexibilizou datas de pagamentos de impostos federais, reduziu a zero toda cadeia tributária para importação de produtos de combate a pandemia, dentre outros. Os programas lançados e colocados nas mãos da rede bancária tiveram problemas de implementação e de acesso pela ganância explícita dos bancos conveniados. Um absurdo!

 

- Acredita que as medidas foram suficientes? O que mais poderia ter sido feito?

Se buscarmos as condições de momento por toda turbulência política que veio junto com a pandemia, vejo que incrivelmente o governo Federal conseguiu disponibilizar bilhões de reais em ajudas para estados, municípios, empresas e cidadãos, além de não parar com obras e demais obrigações. Vivemos num País riquíssimo que tem tudo para ser uma grande potência mundial com uma qualidade de vida bem alta para todos. O dinheiro brotou? Claro que não, bastou estancar a corrupção. Estou certo que poderia ter sido feito muito mais se não tivéssemos tanta desavença no campo político.

 

- Quais as suas expectativas daqui para frente? Percebe algum tipo de recuperação nas atividades?

Sinceramente as expectativas não existem de forma concreta ainda. Até o dia 31 de dezembro quando termina o período do decreto de emergência, estamos reféns de governadores e prefeitos. Só que em novembro tem eleições municipais. Está na hora de dar um cartão vermelho para os que destruíram dolosamente as perspectivas de sobrevivência das empresas e empregos.

 

- Como está sendo administrar os cuidados sanitários nas atividades que já estão ocorrendo?

São cuidados simples que qualquer pessoa minimamente informada tem. É incômodo, mas necessário em respeito aos que temem o contágio divulgado de forma escandalosa pela imprensa oficial.

Ideias como os drive-ins e shows com distanciamento social, como aconteceu na Inglaterra, começam a indicar novos caminhos para os grandes eventos.

 

- Percebe alguma mudança no perfil dos eventos que acontecem daqui para frente? Em caso positivo, como sua empresa está se adaptando a isso?

Sinceramente não creio que essas “novas formas” vão prosperar. Talvez num primeiro momento, mas voltará tudo ao padrão que sempre foi. O bombardeio de notícias, informações, previsões e achismos em geral é tão intenso que leva as pessoas a viajarem nessas “novas formas”.   

 

- Pela sua experiência neste mercado, quais as mudanças/protocolos que vão se manter quando voltar a normalidade com uma vacina eficaz?

Quando voltar a normalidade com uma vacina eficaz, em pouco tempo essas coisas ficarão para o passado. O terror que tem sido enfiado na cabeça das pessoas é extremo. Tivemos uma pandemia em 2009 do H1N1 que muitos sequer lembram que existiu. Surgiu, contaminou uma quantidade de pessoas, morreram pessoas, houve tratamentos profiláticos, surgiu a vacina e houve a vacinação. Tudo isso sem paralisar toda a economia, sem destruir a vida e os sonhos de milhões de pessoas, sem obrigar as pessoas a usarem máscaras ou ficarem confinadas em casa. O vírus continuará existindo, a forma que encaramos o problema que nos causa mais danos que o próprio vírus.

 

- Algo mais que gostaria de comentar?

Tenho visto e ouvido corriqueiramente que nosso segmento foi o primeiro a parar e será o último a voltar. Não entendi ainda por que essa história de “último a voltar”.  Se nós colocamos isso como paradigma e estamos cobrando o retorno, devemos primeiro mudar esse paradigma para termos força para cobrar um retorno.


Por que uma atividade que gera milhões de empregos, tem um porcentual significativo no PIB, anda de mãos dadas com toda atividade ligada ao turismo nacional e internacional, traz para o Brasil eventos internacionais etc, deve ser o último a voltar?


 Que absurdo é esse?  Temos um pouco de culpa nisso. Ou mudamos de paradigma ou seremos sempre os pobres coitados que serão os últimos em tudo...

 


 


 

- Como a pandemia chegou na sua empresa? Quando começaram os cancelamentos?

Quando o vírus chegou na China, eu não me preocupei porque achei que fosse ficar por lá. Mas quando veio para a Europa e começou a andar de pais em país (tenho fornecedor na Itália e França e converso bastante com eles) a coisa começou a ficar feia por lá, eu já cortei investimentos.  Suspendi investimento e comecei a fazer caixa porque eu sabia que ia parar.

 

- Se preparou de alguma forma?

Eu tive sempre a empresa enxuta e o dinheiro reservado para recisão de trabalho e demais despesas, já com a preocupação que, se tivesse de fechar, não deixar ninguém na mão. Quando os eventos começaram a ser cancelados no exterior, eu já fiquei preocupado torcendo para que aqui não chegasse. Mas em março teve a primeira contaminação local e cancelou tudo o que eu tinha de evento. Fiz reunião com meu advogado, com o contador, e cheguei à conclusão que era melhor fazer demissão do que se eu jogasse para o governo, porque poderia dar trabalho tanto para os funcionários como para mim. Eles teriam dificuldades, como teve, para essa loucura de governo fazendo pagamento para funcionário dos outros. E cada mês que você usa o plano do governo, você não pode demitir. Então se você usou quatro meses (de auxílio para empresas), você não pode demitir durante quatro meses. Fiz uma demissão total e todos (os funcionários) foram indenizados totalmente. Para eles foi bom, porque ficaram com um dinheiro já seguro. Eram funcionários antigos, uns um pouco mais novos, mas ficaram com uma grana que nunca viram em conta, porque receberam tudo junto, FGTS, multa de 40%, aviso prévio... Aconselhei todos a pegarem o salário desemprego e deixar essa grana de reserva para, depois do salário desemprego, usar até a retomada. Chegou equipamento novo para mim porque já estava comprado e pago e acabou embarcando antes do fechamento de tudo.

 

- Já é possível ter uma perspectiva de retomada?

Minha preocupação com a retomada ainda continua, porque não é um abrir e fechar de olhos. Vai ser uma retomada lenda e cuidadosa.


Tenho muitos amigos, colegas de profissão, que estão argumentando que, talvez agora, haja uma limpeza no mercado. Há alguns anos atrás, começou a entrar muita coisa de fora, houve uma facilitação


muito grande de venda de equipamento. Facilidade pra pagar, bota no cartão... Isso começou a encher o mercado de equipamentos. Pra mim, ali começou uma desvalorização muito grande, porque muita empresa começou a ter coisas que atendiam aos artistas também e começou uma desvalorização de tudo. Onde quero chegar? Vou torcer para que meus colegas estejam certos. Que haja um filtro e uma valorização, mas eu não acredito muito. Acredito que vai ser uma retomada muito delicada e que quem tem equipamento guardado não vende porque não tem quem compre. Vai ter eventos pequenos mas quem vai trabalhar mais é quem tem aquela coisinha pequena porque eles mesmos vão trabalhar, sem ter funcionários. Vão fazer de qualquer preço porque o equipamento está guardado em casa. Não acredito que essa pandemia venha a nos trazer uma valorização. Acredito que continue uma disputa talvez até mais acirrada e que com essa disputa os preços não vão melhorar, Infelizmente.

 

- Ricardo, algum trabalho agora? Algum drive-in ou coisa parecida?

Aqui em Aracaju ainda não tivemos nenhum drive-in, mas não é uma coisa que vai suprir o mercado de eventos. Aqui eu trabalhei muito pouco. Teve um leilão, Mas o leilão também foi virtual, como uma live. Só tinha alguns convidados lá no local. Agora já começou a abrir um pouco, eventos pequenos, com pouca gente...

 

- Quanto aos protocolos e formas de se fazer os eventos. O que acha que vai permanecer depois da pandemia?

Para quem se preocupa com a saúde, qualquer sintomazinho de gripe vai começar a usar mascara, como já é feito lá na China. Fiz duas viagens lá e isso me chamou atenção. As pessoas esclarecidas, que se preocupam com a saúde, vão usar máscara. Essa retomada vai ser cheia de protocolos mesmo, mas depois que vacinar vão ser engavetados. Vamos usar máscara por educação para não passar para as outras pessoas.

 


 

 

- Marconi, como a pandemia chegou na sua empresa? Quando começaram os cancelamentos?

Brasília foi o primeira unidade da federação a fechar tudo , no dia 11 de março. Nessa semana já estávamos com dois eventos montados e mais quatro que aconteceriam nos  dias 13 , 14 e 15 de março. A partir dessa data muitos outros eventos agendados para março foram cancelados. Na sequência, os de abril também foram cancelados e aí por diante, na medida em que as postergações da reabertura e a crise foram aumentando.

 

- Quando as notícias começaram no exterior, imaginava que chegaria aqui? Se preparou de alguma forma?

Não achávamos que chegaria no Brasil e em Brasília. Acredito que muitos poucos se prepararam achando que chegaríamos  a esse ponto.

 

- Antes da pandemia, quais eram as expectativas com relação a trabalhos e economia?

Havia perspectivas concretas de que teríamos um dos melhores anos desde 2015,  depois de cinco de crise política e econômica.

 

- Quando percebeu que iria afetar de forma decisiva os negócios?

Em abril , depois que passamos a ter um número expressivo de infectados, juntamente  com a crise  política  e econômica que começamos a sentir mais profundamente .

 

- Como está sendo, para a sua empresa, este período de pandemia?

Está sendo bem difícil pois tínhamos um quadro grande se colaboradores, custo alto e início de ano em Brasília sempre é  período de sazonalidade (com movimento fraco).

 

- Neste período que trabalhos consegui realizar e como foi a lucratividade?

Montamos um estúdio para gravação de lives , eventos corporativos on-line , entre outras atividades . Teve os drive-ins e drive-shows logo na sequência. Mas, juntando tudo não representa nem 15% do que faturávamos anteriormente .

 

- Ideias como os drive-ins e shows com distanciamento social começam a indicar novos caminhos para os grandes eventos. Percebe alguma mudança no perfil dos eventos que acontecem daqui para frente? Como sua empresa está se adaptando a isso?

Como falei anteriormente  , estamos fazendo alguns Drive In e recentemente


Drive shows, mas com os protocolos atuais de ficar dentro dos veículos, o público não tem aderido da forma que os produtores previam.


Mas acreditamos que tão logo esses protocolos sejam revistos e flexibilizados a tendência é termos um aumento de público .

 

- Conseguiu ter acesso a programas de crédito e iniciativas de governos municipais, estaduais, federal para minimizar as consequências?

Até o presente momento não, pois para os bancos o nosso segmento é “grupo de risco“, e empréstimos só com garantias reais .O que disponibilizaram foi com taxas muito altas para o momento. Mesmo recebendo a carta da receita para termos acesso ao Pronampe, não conseguimos nada até o presente momento.

 

- Acredita que as medidas foram suficientes? O que mais poderia ter sido feito?

Acho que o que foi feito foi muito pouco perto do que o nosso segmento representa para a economia e geração de empregos. O grande problema é que somos invisíveis para a sociedade e órgãos governamentais.

 

- Quais as suas expectativas daqui para frente? Percebe algum tipo de recuperação nas atividades?

Sendo bem honesto, não vejo por enquanto nenhuma perspectiva de retomada. Para mim é uma incógnita o que temos pela frente.

 

- Em relação aos protocolos e a nova forma de de fazer shows, na  sua opinião como será o impacto nos custos de produção?

Com certeza serão onerados, o que dificultará muito para os produtores e agências.

 

- Como está sendo administrar os cuidados sanitários nas atividades que já estão ocorrendo?

Estamos tomando todas as providências possíveis dentro das normas de segurança e protocolos adotados.

 

- Pela sua experiência neste mercado, quais as mudanças/protocolos que vão se manter quando voltar a normalidade com uma vacina eficaz?

Muita coisa que estamos vivenciando hoje acredito que serão mantidas, como higienização  mais  rigorosa, entre outros.

 

- Algo mais que gostaria de comentar?

Como sou uma pessoa muito otimista e de muita fé, tenho certeza que sairemos dessa verdadeira guerra com algumas cicatrizes que serão motivos de orgulho de sermos sobreviventes dessa crise sem precedentes na nossa história.

 

 

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