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Iluminação cênica e lives: entretenimento e oportunidades

02/06/2020 - 11:04h
Atualizado em 30/07/2020 - 09:14h

 

Se para 2020, todas as retrospectivas históricas deste ano estarão centradas na pandemia do novo coronavírus, outros fatos e conjunturas decorrentes e intrínsecas a essa situação, para o bem e para o mal, também eternizarão esse momento. No setor do entretenimento, nos últimos cento e vinte dias, crise e oportunidades seguiram em caminhos e proporções distintas, pela paralisação de turnês e atividades, pelos surgimentos de eventos espontâneos ou produzidos para as redes sociais. Surgiram então as conhecidas ‘lives’ que trouxeram algum alento e perspectivas nesse contexto. Nesta conversa, alguns aspectos dessas produções serão abordados, com ênfase na iluminação, geral como também cênica.

 

O ano de 2020 será definitivamente marcado por transformações, acelerações e adaptações de diversas áreas e realidades distintas à pandemia mundial do Covid-19. Diversas tividades foram interrompidas e realocadas para situações desconexas da conjuntura anterior, provocando uma percepção de mundo que fica como uma nostalgia de uma normalidade ainda muito presente, mas atualmente inacessível. A realidade de mundo está marcada pela mais que justa valorização da ciência e de incontáveis pesquisadores, empreendedores e voluntários imbuídos na busca de soluções. Também há os bravos e admiráveis profissionais da saúde e de todos os demais serviços essenciais como alimentação, delivery, transportes de carga públicos e privados, limpeza e segurança pública, professores, imprensa e tantas profissões essenciais que estão na linha de frente. Serviços que expõem tantas pessoas aos perigos do contágio e contaminação. Pessoas para quem a palavra gratidão recebe um significado ainda mais expressivo.

 

Ao mesmo em que o reconhecimento da importância desses heroicos profissionais se faz premente em todos os momentos, não se pode esquecer que também se instauram crises em diversos aspectos. A pandemia do Covid-19 paralisou diversos setores e expôs as diferentes e contrastantes realidades da sociedade, explicitando as vulnerabilidades e evidenciando desigualdades. Sobre essa temática, muito poderia ser redigido e discutido, mas não cabe a esse espaço, que também preza por essa temática, mas com enfoque em outros aspectos.

 

Desde fevereiro, o mundo já não é mais o mesmo. O trabalho e os estudos (para muitas pessoas) passaram a ser remotos e o entretenimento doméstico se consolidou ainda mais nos sistemas de streaming, tanto para os jogos eletrônicos como para shows em redes sociais – alguns históricos e localizados em uma relação distante entre tempo-espaço, outros ocorrendo de maneira síncrona para públicos virtuais impensados em outras situações.

 

Figura 1: Live de Lady Gaga no Festival ‘One World: Together At Home’ (18/04). Fonte: Billboard

 

 

Ainda sem um prazo para uma retomada dos shows ‘tradicionais’, as modalidades das transmissões síncronas intituladas lives surgiram para a manutenção do contato e alguma maneira de conexão no setor de entretenimento para diversos artistas com seus respectivos públicos – fãs, curiosos e novos admiradores – que já recebem com antecipação a expectativa para apresentações em formatos pocket e muito exclusivos, pois retomam alguns dos mais interessantes formatos eletroacústicos e repertórios impensados em outras condições – de turnês ou shows isolados, para expectadores presenciais.

 

Ao mesmo tempo, configuram-se em importantes oportunidades para muitos artistas – alguns em retomada da carreira, uma vez que esse formato minimiza viagens e desgastes – assim como para produtores, engenheiros, técnicos, eletricistas, operadores, montadores, maquiadores, cameramen, entre outros profissionais. Muitas empresas também se reinventaram oferecendo soluções para shows, palestras, aulas e até reuniões que necessitem de estrutura e suporte. Patrocinadores se associaram e investiram também nesses eventos, muitos deles direcionados a causas específicas, como arrecadação de recursos, alimentos ou doações para instituições, hospitais ou outras finalidades.

 

As produções dessas podem ser tão distintas quanto os estilos e manifestações musicais e culturais em uma determinada sociedade. É neste ponto que a iluminação recebe um destaque por muitas vezes não receber nenhum diferencial, uma vez que muitas desses shows já não têm mais o palco como plano sagrado das emoções e percepções sensoriais especializadas.

 

Figura 2: Live da cantora Ivete Sangalo (10/05). Fonte: Vix.com

 

 

A maioria das lives ocorre em ambientes residenciais, externos ou internos, por conta da condição de isolamento social. Nos ambientes externos, quando realizados com a presença do Sol como fonte de luz natural, duas observações são fundamentais. Em primeiro lugar, trata-se da melhor e mais fiel iluminação para a reprodução das cores e texturas dimensionadas para o espetáculo. Tendo o horizonte ao fundo, ainda pode proporcionar cenários espetaculares, pela diferença de temperatura de cor identificada em momentos diferentes no decorrer de um dia (em condições normais e de céu ‘limpo’).

 

Em segundo lugar, trata-se de uma iluminação sem nenhuma possibilidade de controle. A iluminação do Sol é recebida por diversos fenômenos, mas nenhum deles pode ser controlado por qualquer ser humano. Então, na maioria das vezes (senão todas), há necessidade de correção da iluminação, pois o olhar do expectador a partir de então, nessas lives, passará pela captação de lentes – seja por um smartphone, seja pela estrutura de uma estrutura de registro, tratamento e geração de imagens.

 

Assim, muitas dessas lives, mesmo com ambientes descontraídos e espontaneidade dos artistas, são produzidas com uma estrutura que pode ser definida com uma única câmera em um tripé ou por meio de equipes – vários cameraman. Assim, a produção de uma live pode ser impulsiva e desproposital, ou um projeto com planejamento, objetivo, conceito, gravações e testes prévios e muito controle de iluminação. Isso envolverá equipes, podendo chegar a mais de uma dezena de profissionais, o que também pode representar oportunidade em tempos de crise no setor.

 

Figura 3: Live de Elton John com iluminação natural no Festival ‘One World: Together At Home’ (18/04). Fonte: BBC-One

 

 

Desta maneira, para os ambientes interiores, caracterizados pela totalidade de iluminação artificial, o controle de iluminação oferecerá uniformidade, intenções e um resultado com mais elevada qualidade. Desta maneira, o projeto de iluminação se desloca do espaço cênico tradicional para um outro, adaptado e dimensionado para novas condições de distanciamento e mínima dinâmica – que poderá existir, mas sem as interações com os músicos e públicos, in loco.

 

Também, elipsoidais e blinders poderão ser coadjuvantes pois, nesse contexto, refletores poderão ter um papel de destaque – como sempre – mas serão também dimensionados a partir de outras luminárias e sistemas, que prezarão por uma iluminação mais geral e adequada para determinados cenários.

 

 

O conceito de iluminação geral será agora proporcionado pelos princípios da fotografia e do vídeo, com a utilização de fontes e sistemas aplicados à correção e difusão, que no teatro também são produzidos com filtros, cicloramas e luminárias com lentes Fresnell. Nesse sentido, os Softboxes surgem como referências adequadas e sofisticadas, uma vez que geram luzes difusas e suaves, além da praticidade e leveza, sendo instalados em tripés. São também caracterizados por serem modificadores de iluminação, pela presença de um tecido difusor que é posicionado em frente à lâmpada. O único inconveniente pode estar relacionado às dimensões, dependendo do equipamento e espaço disponíveis.

 

Figura 4: Live de Sandy & Junior no YouTube (21/04). Fonte: Jetss

 

 

Outras soluções nesse mesmo contexto estão relacionadas à luz de preenchimento. Nesse ínterim, luminárias do tipo Sun Gun, mesmo intensas e mais indicadas para a iluminação geral do cenário, fornecem iluminação com mais baixa temperatura de cor, e assim, mais agradável. Nesse mesmo grupo inserem-se as Ring Light – ou anéis de luz. São em geral luzes de correção e podem ser instaladas com a câmera, como um conjunto para uma iluminação facial mais definida e uniforme.

 

Outros recursos também são bem-vindos, tais como difusores externos para a redução das luzes mais duras e correção de sombras e imperfeições, assim como refletores, muito utilizados nos projetos fotográficos pois auxiliam no direcionamento das luzes resultando em uma iluminação mais natural e suave.

 

A iluminação poderá ter estes recursos e ser complementada com outros para proporcionar intensões diversas, percepções diferenciadas, cores, emoções, dinâmicas e efeitos. Elementos que transformam os cenários, enaltecem as mensagens, evidenciam os protagonistas, qualificam enormemente os eventos.

 

Figura 5: Live de Jon Bon Jovi no evento “A Night of Covenant House Stars” (18/05). Fonte: Society Of Rock

 

 

Finalmente, as lives surgiram para preencher uma lacuna de conexão entre bandas e artistas e seus públicos em uma conjuntura marcada pelo isolamento e distanciamento social. Proporcionam diversão, entretenimento, nostalgia e outras interações. Nunca substituirão os shows e espetáculos da maneira como sempre ocorreram. No entanto, podem reaproximar virtualmente esses atores em condições das atuais oportunidades e expectativas. No futuro, poderão ser outros meios de interação dentro de uma nova realidade, uma vez que aquela já conhecida, possivelmente sofrerá mudanças. Será isso mesmo?

 

Abraços virtuais e até a próxima conversa!!!

 

 

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