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Ganhando o mundo do áudio

01/06/2020 - 16:26h
Atualizado em 30/07/2020 - 09:06h

 

 

Reportagem: Miguel Sá
Fotos: Divulgação / Helena Mello (Carlos Freitas) / Ricardo Fugii (Daniel Figueiredo) 

 

 

Como cinco profissionais brasileiros tomaram, em épocas e contextos diferentes, a decisão de sair do país. O que levou a isso? Como viabilizaram? Quais foram os resultados? É o que você vai saber com Moogie Canazio, Daniel Figueiredo, Carlos Freitas, Jonathan Maia e Pedro Calloni.

 

Moogie Canazio

 

Moogie Canazio foi à procura de um sonho: o de conhecer o centro da indústria fonográfica mundial. O lugar onde poderia conhecer sobre os sons que gostava de ouvir.

 

Ganhador do Grammy de melhor álbum de world music com João, voz e violão (1991), de João Gilberto, e com o Sincera (2019), da cantora argentina Claudia Brant, na categoria melhor álbum latino, além de ter ganho sete Grammys latino, Moogie Canázio tem um total de 39 indicações aos prêmios latino e norte-americano da Academia.

 

Moogie foi para os EUA em 1979, após uma trajetória como discotecário (“isso era antes do DJ!”, ressalta o engenheiro de som) no Brasil.  Durante os anos 80, passou um período por aqui, na Som Livre, antes de voltar definitivamente aos EUA, quando fez diversos projetos importantes na música brasileira.

 

Na época em que foi para os EUA, a indústria fonográfica ainda funcionava sob o comando de diversos personagens históricos, tanto na parte administrativa, quanto na engenharia de som. Foi em busca desse universo que ele partiu para Los Angeles. Hoje, o produtor musical é também presidente do Conselho de Produtores e Engenheiros de Som da divisão latina do prêmio Grammy.

 

Como decidiu ir para os EUA?

Vim porque sou um estudioso do nosso ofício, e aqui é a Meca. Já havia ido para Miami, Nova York, mas nunca a Los Angeles, e no dia 17 de agosto de 1979 decidi vir para chegar mais perto desse universo (da produção musical). Peguei uma época muito complicada, que foi exatamente no final da disco music, quando havia muitos estúdios fechando. Foi uma crise barra pesada. Bem difícil. Essa crise atual da música não me assustou tanto quanto aquela, primeiro, porque eu não era estabelecido. Segundo, porque vi gente muito estabelecida sem trabalho.

 

E quando foi a chegada? Você já chegou trabalhando como engenheiro de som ou foi apenas sondar o que estava acontecendo?

Quando cheguei aqui o mercado estava super complicado. Então o meu primeiro trabalho foi como entregador de sanduiche macrobiótico. Era motorista e fazia as entregas. Foi como aprendi a cidade de Los Angeles.

 

E como chegou nos estúdios?

Fui buscando, procurando anúncio, indo atrás... Na época não tinha internet nem nada disso. A única maneira de explorar era vendo jornal, indo aos lugares, perguntando informação para um ou outro, até que surgiu uma oportunidade ainda como motorista de entrega em um estúdio de duplicação. Isso porque os nossos maiores clientes eram os estúdios de cinema. Eles faziam o comercial do filme e a maneira de lançar para as rádios dos EUA era mandar (a matriz) para uma empresa como a nossa. Pegavamos aquele comercial em fita de ¼ e faziamos cinco mil cópias. Depois mandava aquilo para o correio para todas as estações, porque na época não havia tráfego digital de dados. Às vezes eu saia para fazer uma entrega, voltava e já estava sendo feita outra cópia para outro comercial. Um belo dia, o diretor chefe queria que eu assumisse o trabalho no estúdio de gravação, que era um estúdio de oito canais, pequeno, só para atender às necessidades deles. Eu falei, “tudo bem, eu assumo”.  Mas avisei que a qualquer momento sairia, porque não era o trabalho que eu queria. Eu queria ser honesto. Aqui nos EUA isso é muito valioso. Temos que ser muito gratos às oportunidades. Tem que ser honesto e permitir às pessoas envolvidas nas suas decisões que elas ponderem para que você não transfira problemas desnecessariamente. Fiquei algum tempo mas logo depois consegui ser estagiário naquele que, para mim, foi o maior estúdio do mundo: o Kendun records. Tipo, um dia Mick Jagger no estúdio, no outro George Benson... Ainda existe esse estúdio. Era um complexo de dois prédios. Mas o prédio principal é o estúdio da Atlantic Records por conta do Bruno Mars. O Bruno vive no estúdio trabalhando, e eles resolveram comprar. Enfim, a Kendun foi um grande lugar para aprender. Depois fui promovido a staff engineer.

 

No Brasil você trabalhou na Som Livre, correto?

Quando cheguei eles me contrataram e fiquei como supervisor até que em 88 voltei pra cá. Mas mesmo entre 82 e 88 voltei lá (nos EUA) algumas vezes para trabalhar lá com Rita Lee, Cesar Camargo Mariano... Teve vários projetos que levei à Los Angeles para trabalhar. Foi uma experiencia extraordinária, porque tive a oportunidade de trabalhar com os maiores artistas do Brasil. Todos eles. Sobretudo porque a Som Livre era um estúdio de gravação. De um modo geral, estava atrelado a projetos que as pessoas planejavam, tipo, vamos gravar o disco tal e vamos levar o Moogie. Mas eu era funcionário da Som Livre. Então eu tive o privilégio, em um intervalo de dois dias, de trabalhar com Tom Jobim e Genival Lacerda. O João Araújo (fundador e presidente da Som Livre, falecido em 2013), para mim, será sempre o maior homem de disco. Primeiro pela ideia e pelo conceito de gravadora. Segundo porque ele era realmente um cara que fomentava. A Som Livre não precisaria ter nada além de um escritório e, no entanto, ele transformou a Som Livre em um conglomerado técnico, com um staff e cast de gravadora.

 

Então quando voltou a LA foi com uma grande bagagem

Nesse transcurso de 83 a 88 vinha trabalhar com projetos do Brasil. Até que, já planejando voltar com a minha família para o EUA, fiz um disco com o Ivan Lins, o Love Dance. Gravei no Brasil, vim pra cá (nos EUA) e terminei as vozes, e ai decidi que queria voltar. Logo que cheguei aqui fui procurar o Sergio Mendes. Já tinha trabalhado com ele e a Sarah Vaughan no Brazilian Romance. Já tinha avisado que vinha. Ele falou “vamos experimentar, ver se funciona”, eu falei: claro. Isso é uma coisa que tem que ter muita afinidade. Quando cheguei, fomos para um estúdio, fizemos o disco e aí, depois de uma primeira tentativa, em 91, o Sérgio resolveu mudar a direção. Aí ele perguntou o que eu achava. Falei, “você tem melhor do que ninguém ouvido para as canções e tudo....” O que eu disse é que poderíamos incorporar ao projeto, o que foi para mim uma sensação sônica inesquecível, gravar uma escola de samba de uma forma que, até então nunca tinha sido gravada: com tempo, sem o problema da competição. E aí foi como a gente começou o disco Brasileiro (indicado ao Grammy), onde Sérgio colocou o Carlinhos Brown.

 

Você foi para os EUA em uma época na qual a indústria fonográfica estava em seu auge. Como é conviver com outros grandes profissionais da produção musical? Fale sobre os encontros que aconteceram.

São inúmeros. Fui na Capitol fazer uma masterização, no estúdio C, porque o Al Schmit estava lá e somos amigos há muitos anos. Então, abriu a porta do estúdio, entrou o Bob Dylan e sentou-se ao meu lado. Ele estava trabalhando com o Al que, por acaso, conheci no Brasil quando veio fazer um disco do Djavan e ficamos amigos. Nos aproximamos, frequento a casa dele. Um encontro que realmente mexeu comigo foi o com o Bruce Swedien. Coincidentemente eu acompanhava a carreira do Bruce desde 1972. Quando eu era discotecário no clube onde eu tocava, onde eu mesmo fiz o som, percebi que tinha uns discos que soava absurdamente melhor que outros. Naquela época não tinha internet, nada disso. Então escrevi uma carta para a Brunswick Records - nunca esqueci disso - e eu queria saber o que era, porque o crédito não vinha no compacto simples, o single, que tinha muito na época. Vinha o crédito do produtor e do arranjador, mas não vinha o do engenheiro de som. Aí escrevi uma carta e eles responderam. Eles atribuíram isso ao fato de usarem o estúdio em Chicago de um engenheiro chamado Bruce Swedien. Aí comecei a acompanhar a carreira dele. Ou seja, quando encontrei o Bruce Swedien, eu já tinha escutado o Off The Wall, o Thriller e os discos que ele já fazia. Eu vim a conhecer ele pessoalmente por intermédio do Sergio. Eu nem morava aqui ainda. Vim fazer uma visita. O Sergio Mendes estava terminando um disco com o Bruce e eu fui e ele ... Eu nunca esqueci, era uma música chamada Raimbow Sand, que ele estava mixando e eu fiquei sentado no estúdio sem respirar, para ouvir. E aí, quando a gente foi fazer o disco do Sergio, o Bruce estava envolvido e aí eu ia para a casa dele. Ele tinha um estúdio aqui perto, e nós ficamos muito amigos. Por conta disso, fiz uma homenagem na Academia, tem uma divisão o conselho de produtores e engenheiros que eu sou o presidente. Então todo ano a gente faz eventos e homenageia. O primeiro foi o Geof Emmerick, Joe Cicarelli, o Bruce Swedien... Enfim, esses encontros aconteceram. O Bruce para mim era meu ídolo maior, porque eu já tinha um convívio com o trabalho ele desde 72. E teve mais. Por exemplo: o George Massemburg, outro grande ídolo meu, fui conhecer quando fui trabalhar no estúdio The Complex, que era o estúdio do Earth, Wind and Fire. Ele é o dono da marca GML de componentes de áudio profissional e de automação para mesa analógica. Lembro do dia que ele me chamou para mostrar o que estava construindo. Essas pessoas, são todos despojados, acessíveis, gente muito boa. São todos grandes ídolos que você cruza no dia a dia.  Eles não  põe a distância. Isso aqui não é comum. Se você se aproxima de uma forma que não seja inconveniente ou numa hora errada, você é muito bem-vindo.

 


Moogie Canazio e Bruce Swedien

 

Você frequentou alguma escola de áudio?

Frequentei no início. O que eu aprendi lá foi 2% do que é na verdade, mas foi muito valioso para entender a tecnologia de estúdio. Hoje existe tutorial de tudo. você vai no Youtube e encontra um tutorial. A minha formação acadêmica foi para entender o beabá do processo e tomar minhas próprias decisões. Sempre busquei particularmente o que era melhor dentro do que eu achava.

 

Como é o dia a dia em relação a quando você chegou? É mais complicado? Tem que ter educação formal?

A primeira coisa é que demorei dois anos para ter o visto que me permitiria vir para cá. Quando eu vim a primeira vez eu podia estudar. Não podia nem trabalhar. Tive que, logo depois, aplicar e esperar para poder fazer part times Jobs (empregos de meio período). Tem uma vantagem que Los Angeles é uma cidade que está acostumada com estrangeiros. Acho que é por causa da indústria cinematográfica. É uma cidade que não tem preconceito. Muito pelo contrário. Fui sempre bem recebido por todos. E eu acho que meu jeito de fazer e de falar, minha personalidade é friendly. Segundo, para quem trabalha com música, acho que o fato de ser brasileiro é um plus. Até pouco tempo atrás o Brasil era considerado o país com a melhor música do mundo nos grandes círculos que você possa imaginar. O que acontece é que hoje em dia tem uma quantidade infinitamente menor de estúdios do que tinha na época em que cheguei. Todo mundo compra um equipamento, vai pra casa e faz a sua gig, né? Ou seja, a quantidade de oportunidades para quem quer traçar uma carreira como a minha é uma fração microscópica do que era. Por outro lado, nunca se gerou tanta música quando como se está fazendo agora. Como eu sempre vejo o copo meio cheio, falo: nunca se gravou tanto quanto agora. Na minha época, precisei ser entregador de sanduiche macrobiótico e tal para me aproximar. Hoje em dia pode ser roadie, trabalha carregando a bateria, aí vai ter a gravação e se aproxima... Os meios mudaram um pouco sem sombra de dúvida. Antes tinha, sei lá, três mil estúdios em Los Angeles e hoje tem 80. Muita diferença. Em compensação deve ter 80 mil estúdios nas casas das pessoas. Estúdios pequenos onde precisa ter gente e músico para tocar. Aí o cara te fala, não tenho salário em dinheiro para te dar, mas fica aí. Melhor que trabalhar no Mac Donalds servindo sanduiche, enfim... Pelo menos está próximo. Numa dessas é uma Billie Eilish que impulsiona a carreira e vai embora. Como tudo depende muito do estado de espírito que você encara as suas batalhas. Eu acho que vai ser sempre melhor. Agora... São épocas diferentes.

 


 

Daniel Figueiredo

 

O trilheiro decidiu sair do Brasil procurando estabilidade e qualidade de vida. Foi uma mudança planejada, e Daniel Figueiredo procura se estabelecer com bastante cuidado na costa oeste dos EUA.

 

Daniel Figueiredo é um trilheiro premiado, com diversos álbuns indicados ao Grammy Latino. Com o álbum Fruto de amor, da cantora Aline Barros, ganhou o prêmio de Melhor Álbum de Música Cristã e com Nosso samba tá na Rua, de Beth Carvalho, venceu na categoria Melhor Álbum de Samba/Pagode.

 

É o autor da trilha de novelas em diversas emissoras, além de ter feito a produção musical de obras de ficção na TV Record, como Jesus, Vidas Opostas, A lei e o Crime, José do Egito e o grande fenômeno Os Dez Mandamentos. Para o mercado norte-americano, o compositor trabalhou em Transmigration e The Heartbreaker .

 

Daniel é ainda proprietário da Up-Rights, empresa que administra os direitos autorais, de artistas como Roupa Nova e Beth Carvalho.

 

 

O que o fez tomar a decisão de sair do Brasil e abrir um estúdio aí?

Há muitos motivos, mas com certeza o principal foi querer viver sem a sensação de insegurança a que estamos expostos com frequência muito maior no Brasil. Eu já estava saindo na rua sem relógio ou celular, levando só dinheiro em espécie etc. A possibilidade de roubos e assaltos sempre me preocupou, talvez mais do que a maioria das pessoas.

 

Quando percebeu que poderia continuar atendendo às demandas do Brasil mesmo fora?

Há muito tempo mas, me faltava encontrar um lugar, casa/estúdio/cidade/país que eu sentisse que poderia passar o resto da minha vida, porque queria uma mudança definitiva.

 

Você chegou a abrir empresa? qual a diferença em relação ao Brasil?

Eu já tinha uma empresa aqui. Entretanto, para transferir os negócios para cá tive que planejar cada etapa, abrindo outras empresas adequadas à nova realidade.

 

Atende aos mesmos clientes aí? Ou a mudança já trouxe novos clientes?

Como a mudança é recente, no momento atendo basicamente os mesmos clientes que eu atendia quando estava no Brasil.

 

Comprou o estúdio pronto ou construiu do zero?

Eu já pensava em mudar há muito tempo, mas queria algo definitivo. De repente encontrei disponível uma casa mobiliada com um estúdio completamente equipado. Foi uma sorte enorme.

 

 

Como é o acesso a equipamento, custos de manter a empresa, burocracias, contratação de pessoal... Faça, por favor, uma comparação com o Brasil.

Ainda não tenho experiência nem dados suficientes para fazer esta comparação porque me mudei há poucos meses.

 

Pretende ampliar a parte de locação? Ou vai usar mais para as suas produções mesmo?

Você trabalha mais para o Brasil neste momento. Tem planos de ampliar o seu mercado por aí? imagino que a concorrência por aí seja forte, não? Como pretende fazer?

Pretendo fazer isso aos poucos, sem nenhuma ansiedade ou expectativa, pois essa não é a minha principal preocupação no momento. Entretanto, é evidente que aqui existem muitas oportunidades. Sempre estarei  tentando contribuir para a diversidade musical assim como ampliar as vagas no mercado da música, também por aqui. A concorrência por aqui é imensa e cada vez mais acirrada. A cada dia há mais profissionais mais preparados e uma queda no valor pago pelos serviços. Mas, como disse, estou conhecendo e tateando o mercado com muita calma. Meu foco neste momento é estabilizar as empresas e atender com a mesma qualidade de sempre os contratos já estabelecidos. 

 

 

Algo mais que gostaria de comentar?

Mudar-se para outro país requer muito planejamento. É preciso pesquisar muito sobre a região, a legislação do novo país, os processos que regulam a permanência de estrangeiros, etc. É preciso inclusive planejar para qualquer problema de adaptação. Assim, para quem alimenta o sonho de se mudar e montar um estúdio fora do país, a minha dica é meio óbvia mas, não custa reforçar: Prepare-se e pesquise muito bem, contrate excelentes profissionais especializados que possam assessorá-lo apoiá-lo nas decisões. 

 


 

Carlos Freitas

 

A empreitada do engenheiro de masterização foi levar seu estúdio, o Classic Master, para Miami, ampliando o atendimento ao mercado latino que já realizava no Brasil.

 

Carlos Freitas iniciou a carreira de engenheiro de áudio ainda nos anos 80, no Estúdio Transamérica em SP. Na época um dos melhores do país. Ainda nos anos 80, montou, com Roberto Marques, a unidade móvel ARP.. A unidade atuou também em grandes festivais da época, como o Rock in Rio 2(1990) e as edições do Hollywood Rock. Nos anos 90 abriu, com Ricardo Carvalheira, a Cia de Áudio: uma das empresas pioneiras da masterização digital no país. Nos anos 2000 montou a Classic Master.

 

No decorrer da carreira, nos trabalhos em diversos segmentos do áudio, fez trabalhos ligados a diversos artistas nacionais e internacionais, tais como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Toquinho, Tom Jobim, Milton Nascimento, João Gilberto, Roberto Carlos, Djavan, Ed Mota, Marisa Monte, Carlinhos Brown, Bon Jovi, Alice in Chains, Seal, Prince, Guns n Roses, Simple Red, George Michael, Filarmonicas de NY , Leningrado, Moscou e Israel e OSESP entre outros.

 

Um dos principais trabalhos foi a masterização, em 2016, de todo o áudio utilizado na cerimônia de encerramento para a transmissão em televisão e para a apresentação no Maracanã. Possui 8 indicações ao Grammy Latino na categoria Engenharia de Audio nos anos de 2006, 2009, 2011, 2012, 2013 e 2016, com 104 trabalhos indicados e, desses, 26 premiados tanto no Grammy como no Grammy Latino.

 

Quando começou a tomar a decisão de abrir o Classic Master em Miami?

Há três anos atrás abri um escritório em Bogotá e fiz uma parceria com o estúdio AudioVision, para atender melhor o mercado latino, que estava com um crescimento forte. A Natalia, que era minha assistente de master em SP é Colombiana e voltou para Bogotá para cuidar da Classic Master Latino América. Começamos a fazer mais e mais trabalhos para Colômbia e começamos a atender também clientes do Equador, Peru, México, Caribe e Espanha. Percebemos que transferir o Estúdio para Miami seria bom para atender melhor ainda esse mercado.

 

 

Como viu a viabilidade da empreitada?

Assim que tomei a decisão de me mudar, que foi em janeiro de 2018, eu contratei um advogado de imigração e comecei o processo. Esse processo levou 2 anos e em janeiro de 2020 saiu o meu greencard. Eu aproveitei esse período e fui me preparando aos poucos para a mudança. Primeiro decidi o que eu iria levar. Aproveitei e fiz uma manutenção preventiva em todos equipamentos analógicos. Inclusive restaurei a minha Studer de 1/2 polegada trocando todos os capacitares e restaurando a Fonte. Fui vendendo  aos poucos todos os equipamentos que eu não usava mais. Na parte administrativa, digitalizamos todas as áreas da empresa, como atendimento no Brasil e Colômbia e pagamentos on line, e fizemos um portal de dados onde digitalizamos todo nosso arquivo, com mais de 15tb de informação. Quando chegou a hora da mudança, em 26 de fevereiro, eu já tinha tudo pronto e arrumado. Empacotamos tudo e enviamos aqui para os EUA em um contêiner.

 

Percebeu muita diferença na burocracia para abrir uma empresa no Brasil e nos EUA?

Foi muito fácil abrir uma empresa aqui nos EUA, algo em torno de três dias. Como sou residente não tive nenhum problema.

 

É possível atender à distância, de forma segura, trabalhos também de outros países que não os EUA?

Sim, através do nosso portal que está hospedado no Box. Temos rapidez e segurança no recebimento e envio de dados e todos os pagamentos são feitos através do Paypall.  Estou bem otimista em relação ao futuro.

 


 

Jonathan Maia

 

Com experiência, principalmente, em televisão, na Rede Globo, Jonathan foi para Los Angeles com a ideia de trabalhar no mercado fonográfico, mas a qualidade de vida melhor para a família também influenciou na decisão.

No Brasil, Jonathan entrou na Globo como técnico de captação de som.  A partir daí, trabalhou no The Voice Brasil e outros programas. Hoje, trabalha com o produtor Mario Caldato Jr. e também atua em shows e igrejas. Com 30 anos, está há dois nos EUA.

 

Como foi a decisão de sair do Brasil?

Eu sempre tive vontade de sair do brasil desde muito novo, quando assistia aos shows internacionais. Ouvia muita música internacional e curtia muito o trabalho dos americanos em um modo geral. Praticamente daqui vieram quase todas as minhas influências. Eu tinha uma vida bem boa no Brasil com a minha esposa. Comecei a trabalhar profissionalmente com 16 na musica, entrei na Rede Globo com 18 anos, onde fiquei quase 10 anos da minha vida, fazendo aquilo que eu mais amava, que era fazer som. Nos últimos anos no brasil e na Rede Globo, consegui chegar ao cargo de sonoplasta e engenheiro de gravação de um dos melhores programas musicais da TV - The Voice Brasil, The voice Kids, Popstar e SuperStar. Infelizmente com tanta violência em nosso Brasil a paixão e o sonho de vir morar fora do país só foi aumentando. Eu estava muito feliz no meu trabalho, mas ao mesmo tempo acabei relaxando por ter uma certa estabilidade e conforto. Eu parei para pensar: era muito novo, só tinha apenas 26 para 27 anos (está há dois anos nos EUA) e eu não queria ficar acomodado. Queria mais, conversei com minha esposa e tomamos a decisão juntos de vir embora. Os dois maiores fatores que me fizeram vir morar nos EUA foram a violência e a vontade de estudar e me tornar uma referência.

 

Foi algo pensado ou de repente? Medindo consequências ou indo atrás de alguma oportunidade imediata?

Foi tudo pensando e planejado, apesar de eu ser novo, sempre tive os meus pés no chão. O queria mais estar aqui para poder estudar e conhecer melhor a cultura e entender porque os americanos fazem as coisas acontecer tão bem, e ao mesmo tempo eu tinha algumas propostas para trabalhar em estudio e igrejas.

 

 

Como foi a parte de imigração? É difícil?

Nunca foi um problema para mim, ja tinha um visto de turista pois viajava bastante com a minha esposa, mais para você poder ficar Legal nos EUA morando, trabalhando ou estudando você precisa de outros vistos. Quando recebi uma proposta para trabalhar aqui precisei passar por um processo caro e um pouco demorado, muita gente não sabe mais nós que trabalhamos com música temos um certo privilégio para poder obter umvisto de trabalho, então liguei para a minha advogada Dr Gisele Ambrosio corri atras da papelada e tudo certo, aqui estamos !!! Foi um processo de uns 6 a 7 meses no total.

 

O trabalho que entrou é o mesmo onde está hoje? Como procurar as oportunidades aí?

O trabalhos e o foco é o mesmo, a diferença é, se você é sério, gosta do que faz e sabe trabalhar, fica difícil escolher a melhor oportunidade, pois são tantas. Somos artistas e trabalhamos com a Arte da música, então faço bastante shows, tours, igrejas, hoje sou Engenheiro de mixagem e gravação do incrível MCJ, Mario Caldato Jr.

 

A família foi junto?

Vim com a minha esposa e hoje depois de 2 anos temos um filho de 6 meses.

 

O que acha ter aprendido aí que viu ser diferente no Brasil ?

É didicil comparar, o fundamento é o mesmo, o que muda é o jeito de pensar. Nós brasileiros somos muito talentosos mas estamos sempre querendo dar um jeitinho em tudo. Aqui não tem muito isso, os americanos são muito objetivos, ou está bom, ou não está. Estou aperfeiçoando aqui, que sempre devemos fazer o nosso melhor, independente da sua profissão, sem preconceitos para nada.

 

Abriu alguma empresa ou pretende abrir?

Não abri empresa, e acho que não pretendo abrir. Tem muita oportunidade de trabalho

 


 

Pedro Calloni

 

O engenheiro de som de 25 anos formado na Berklee College of Music em Boston, em julho de 2017, se decidiu, desde cedo, a fazer carreira fora do Brasil Ele foi em 2014, quando recebeu uma bolsa para cursar Music Production and Engineering. Hoje vive em Los Angeles.

 

Pedro Calloni começou a se envolver com música estudando bateria, no Centro Musical Antonio Adolfo, no Rio de Janeiro. Nos EUA, foi assistente de Elliot Scheiner – que tem oito Grammys  como engenheiro - no álbum de Lauren Kinhan em tributo a Nancy Wilson e de Ross Hogarth no álbum Bleeding Oranges, de  Nacho Gonzales.

 

Como músico, fez parte da Toledo & Dear June, com a qual gravou dois cds e excursionou por várias cidades americanas em 2016, incluindo Nova York e Whashington. Em 2017, foi selecionado para fazer parte do Wadhams Production Scholars Trip na Inglaterra, participando de sessões no Abbey Road Studios e no Real World Studios, do músico Peter Gabriel. Atualmente, mora em Los Angeles e trabalha no The Village Studios, por onde já passaram nomes como Lady Gaga, Elton John, Rolling Stones, Madonna, Bob Dylan e John Mayer  entre muitos outros.

 

Você já tinha uma trajetória com a música, não é? Conte como decidiu trabalhar com áudio.

Decidi trabalhar com áudio porque sempre me interessei pela parte técnica de fazer música e como aliar isso à criatividade. A minha trajetória como instrumentista certamente continua a informar como eu abordo o meu trabalho com áudio, alinhando o conhecimento técnico com musicalidade.

 

Como foi a decisão de sair do Brasil? Foi algo pensado ou de repente? Medindo consequências ou indo atrás de alguma oportunidade imediata?

Sempre tive a ideia de trabalhar com música. Tive a oportunidade de fazer um curso de uma semana na Berklee College of Music em Boston e fiquei encantado com a escola. Desde então, comecei a estudar ficando na audição e consegui uma bolsa para cursar Music Production & Engineering. Desde então foi realmente uma progressão natural, vindo para Los Angeles pela oferta de trabalho e pelo ciclo de pessoas de quem me aproximei durante os anos na Berklee.

 

 

Qual o trabalho onde começou? Onde é e qual é a função no seu trabalho atual?

Comecei minha carreira aqui em Los Angeles trabalhando no Village Studios, é uma instituição lendária por onde já passaram desde  Ray Charles e Rolling Stones a Lady Gaga e John Mayer. Inicialmente comecei como runner, fazendo manutenção dos estúdios e buscando café, mas logo fui promovido a assistente e, depois, staff engineer. Hoje em dia divido meu tempo entre sessões de gravação no Village - grandes orquestras, bandas, vocais etc - e como engenheiro de mixagem e produtor freelance.

 

Trabalhar em estúdio de gravação/mixagem ainda é uma perspectiva profissional viável nos EUA? Que objetivos você tem daqui para frente?

Com certeza é uma perspectiva viável. É um meio competitivo, pois há muito mais profissionais do que vagas, mas, ainda assim, é uma indústria em que é possível se destacar fazendo um bom trabalho. Daqui pra frente espero continuar a trabalhar em projetos com grandes artistas e que sejam relevantes musicalmente.

 

O que acha ter aprendido aí que viu ser diferente no Brasil?

Minha educação musical no Brasil não incluiu muito a parte de áudio, foi algo no qual eu me aprofundei mais durante meus estudos aqui. Tive a sorte de aprender em estúdios extremamente bem equipados e com professores excelentes, muitos dos quais seguem profissionais atuantes na área.

 

Algo mais que gostaria de comentar que não perguntei?

Uma dica pra quem tem o sonho de ir para os EUA,responde ndo se o mercado americano oferece suporte aos profissionais, eu diria que há não só muitas oportunidades, como oportunidades muito diversas dentro do mundo da música. Desde produção e engenharia de áudio até trilhas para videogames, músicas para comerciais, audio para pós produção, e várias outras carreiras menos óbvias no mercado. O nível de entrada é muito alto, porque existem muitos profissionais qualificados, mas certamente as oportunidades estão disponíveis.

 

 

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