Carol Olival entrevista Paula Santos, a Music Promotion Expert da ByteDance Brasil. Paula Santos é graduada em Music Business na Full SailUniversity e especialista em Desenvolvimento de Marcas. Atuou em grandes gravadoras do mercado como EMI Music e Universal Music Group no setor de Marketing. Como Label Manager, foi responsável pelo desenvolvimento estratégico de artistas de selos renomados como Caroline International, Decca Music, Because Music e Concord.
No decorrer da carreira, trabalhou com artistas internacionais como David Guetta, Coldplay, Major Lazer além de muitos outros nomes da cena alternativa e independente do mercado internacional, gerenciando o posicionamento e lançamento de inúmeros projetos.
Paula, você é especialista em music business e sabemos que esse é um dos mercados que mais tem se reinventado ao longo dos anos. Como você compara o mercado de hoje com o de 10 anos atrás?
Acredito que a maior diferença está na esfera da tecnologia e do consumo digital. Há 10 anos atrás, a indústria como um todo não acreditava 100% que o digital fosse se sobrepor ao consumo físico, e isso é o que vemos hoje. Mesmo que ainda hoje, o físico tenha a sua importância, o grande público mesmo está nas plataformas de streaming e redes sociais. Um grande exemplo disso é o mercado brasileiro, onde o streaming pago já representa mais de 75% das receitas registradas no país e o consumo digital mais de 98% do mercado. O público está conectado e agora é onde os esforços precisam estar mais focados.
Qual o papel das plataformas de streaming nessa modificação de cenário? Como você enxerga as plataformas e quais os pontos positivos e negativos delas para os músicos, compositores e talentos da indústria? Como elas alteram o papel das gravadoras?
O principal papel das plataformas foi possibilitar maior acesso ao público, além de atender ao atual conceito do on-demand. Você consegue escutar todas as músicas que gosta, quando quiser e onde quiser, em um aparelho que cabe dentro do seu bolso. Facilidade, acesso e um vasto catálogo são as palavras chaves do sucesso do streaming. Isso, contribuiu muito para uma mudança no cenário da indústria fonográficaque tanto as gravadoras como os próprios artistas precisaram se adaptar nesta realidade digital. Hoje, o artista precisa estar conectado, para se comunicar e continuar gerando engajamento com seus fãs.
Já do ponto de vista dos talentos da indústria, precisamos avaliar por dois lados. Positivamente as plataformas abriram espaço para que os artistas independentes, desde aqueles em início de carreira até os mais estabelecidos, também tivessem a oportunidade de disponibilizar a sua música para uma audiência maior, podendo utilizar do algoritmo e suas recomendações para aumentar e estabelecer a sua base de fãs.
Em contrapartida, de uma forma mais geral, a remuneração é muito menor em comparação ao número de streaming que é preciso alcançar para que esse retorno seja de fato vantajoso. Além do mais, conseguir visibilidade dentro das plataformas, suporte promocional e posicionamento em playlists acaba sendo um espaço mais facilmente alcançado por artistas mais estabelecidos no mercado.
Com relação ao papel das gravadoras, com a chegada do streaming foi necessário que elas olhassem além do lançamento da música e passassem a oferecer um leque maior de serviços e direcionamento para os artistas, pensando inclusive em produção de conteúdo, agregando valor em diferentes plataformas e ampliando o seu mercado de atuação.
Ultimamente estamos vendo as plataformas de redes sociais impactando também nos lançamentos musicais. Qual sua visão sobre o papel dessas plataformas e como elas impactam o mercado?
Eu vejo as redes sociais como amplificadoras. Elas conseguem fazer com que uma música alcance um público muito maior do que o esperado baseado nos seus algoritmos. Então os artistas, se souberem criar um conteúdo de valor agregado, tem maiores oportunidades de entregar a sua música para uma base cada vez maior de usuários.
Outro ponto importante é que a música em si acaba sendo um elemento determinante dentro dessas plataformas e contribui para compor a mensagem que os usuários querem passar com seus vídeos e imagens. Com isso, o potencial de transformar uma música em um conteúdo viral fica diretamente atrelado à forma que a música será promovida e como ela será recebida pela comunidade das redes sociais. Do lado do artista, isso significa novamente que ele precisa estar constantemente nessas plataformas e produzir um conteúdo que vá entregar aos usuários elementos e valores com os quais eles se relacionem para gerar o interesse em utilizar aquele som.
Esse processo todo do uso da internet e das plataformas das redes sociais no mercado traz uma sensação de democratização, como se qualquer um pudesse fazer sucesso, mas no dia a dia sabemos que não é tão simples como parece e que ainda existe uma necessidade de investimento para que esses recursos funcionem. Que dicas você daria para músicos que querem aproveitar essa onda?
Sim, não é um processo simples, até porque não existe uma fórmula específica para viralizar uma música. Existe um mix de planejamento, criação de conteúdo original da parte do artista, mas também temos que contar com um fator sorte, com um ponto fora da curva. Existe música que está viralizando organicamente, mas em muitos casos há um grande investimento por trás e um trabalho muito bem pensando. Para os músicos, minha dica é reservar um tempo importante para o planejamento de conteúdo dentro de todas as plataformas e entender as particularidades de cada uma delas. Saber que tipo de conteúdo o seu público se interessa é essencial para uma divulgação de sucesso. Agregar valor junto ao seu projeto, faz com que os usuários engajem mais com o seu som e o seu material.
Você poderia nos dar um exemplo de lançamento ou de campanha que chamou sua atenção nos últimos tempos?
Na verdade vou falar de duas campanhas, de dois grandes artistas da música brasileira, que aconteceram no TikTok esse ano e trazem muito esse conceito de valor agregado e conteúdo que se conectem com o público. Um desses artistas foi o Gilberto Gil, que dentro da sua campanha incentivou o reflorestamento em uma parceria com o Instituto Terra, e para cada usuário que usasse sua música, uma árvore seria plantada. Um grande exemplo de como fazer o público participar dessa ação. A outra campanha aconteceu mais recentemente, com a Marisa Monte, que entrou na plataforma incentivando a adoção de animais, divulgando a faixa do seu novo álbum Língua dos Animais. Os animais adotados durante a campanha seriam batizados por ela. Outro exemplo em que o artista se engaja e conecta com o público de uma forma mais direta.
Olhando para o futuro, quais as novidades que você imagina que teremos no mercado da música? Áudio imersivo, novas plataformas de redes sociais, streaming, o que você acha que encontraremos nos próximos 5 ou 10 anos?
Áudio imersivo já é uma coisa que vem se falando na indústria por algum tempo, mas acredito que um dos desafios é conseguir viabilizar o acesso ao maior número de pessoas, mas com certeza é um caminho que vamos ver se desenvolver nos próximos anos. Também acredito que vamos ver as plataformas de música evoluírem para criar um senso maior de comunidade, onde os usuários vão poder ir muito além de compartilhar música, mas também ouvir em grupo, mesmo que estejam distantes, e o artista vai poder fazer parte dessa troca com seus fãs.