Reportagem: Miguel Sá / Fotos: Divulgação / Reprodução
O impacto da pandemia do novo coronavírus foi grande. Shows e festivais de todos os tamanhos foram cancelados – o Lolapalooza, por exemplo, foi para o fim de 2020. Na indústria de eventos, os efeitos foram imediatos e devastadores. De acordo com números da Associação Brasileira de Produtores de Eventos (ABRAPE), o cancelamento de eventos em todo o país pode chegar a deixar três milhões de pessoas sem trabalho, com perdas de mais de R$1 milhão para as empresas da área.
No entanto a necessidade de se manter em contato com o público levou os artistas a investirem mais em transmissões ao vivo pelas suas redes sociais. Inicialmente despretensiosas, elas começaram a se tornar grandes espetáculos. Ivete Sangalo fez uma em casa, com bases pré-gravadas e estrutura básica de iluminação. Entidades e empresas relacionadas à música e cultura também começaram a promover eventos e festivais: o João Rock, adiado para 2021, promoveu uma grande live no estúdio Mosh, enquanto o Sesc promove o festival Sesc Ao Vivo, com apresentações caseiras de diversos músicos que, tradicionalmente, fazem apresentações em suas unidades.
Alceu Valença no João Rock 2020. Clique na imagem para assistir a live.
Dá para dizer que um marco das lives no Brasil foi a transmissão de Gustavo Lima, no dia 28 de março. A transmissão durou cinco horas, com estrutura profissional de som e luz, mobilizando, inclusive, equipe técnica, o que despertou críticas com relação à segurança do evento com relação à pandemia. Além das demandas sanitárias, o formato das lives traz algumas questões técnicas, principalmente no que diz respeito à transmissão pela internet: quais são, afinal, as semelhanças e diferenças entre essa modalidade de show e uma transmissão de TV tradicional? O que o futuro reserva?
Gustavo Lima. Clique na imagem para assistir a live.
A Revista Backstage traz, para esta matéria, um time de profissionais de primeira linha para contar um pouco das suas experiências do ponto de vista de suas áreas: o diretor técnico Andreas Schmidt, da Audio Bizz, responsável, entre diversos outros trabalhos, pela direção técnica do festival Lolapalooza e a live de aniversário de Gilberto Gil; o produtor técnico de Ivete Sangalo Toinho Lopes; os engenheiros de som Flávio Senna, que atuou nas lives de Roupa Nova e Jorge Aragão, e Leco Possollo, que trabalha com Gilberto Gil; o responsável pelo estúdio Mosh Oswaldo Malagutti e os sócios do Estúdio Century, que participou da realização de mais de 50 lives durante o período da pandemia.
Humberto Gessinger no João Rock 2020. Clique na imagem para assistir a live completa do João Rock 2020.
Andreas Schmidt tem, em seu currículo, a direção técnica de festivais como Lollapalooza e Tomorrowland em suas edições brasileiras. Com ampla experiência em articular áudio, vídeo e transmissão de grandes eventos, o profissional tem trabalhado também na explosão de lives da pandemia de covid-19. Em entrevista para a Revista Backstage, Andreas explica as semelhanças e diferenças entre as lives e os eventos tradicionais dos quais já participou contando os detalhes da transmissão de Gilberto Gil para a cerveja Devassa. A localização do show, no sítio do músico em Araras, entre montanhas e vales, representou um desafio técnico.
O produtor técnico de Ivete Sangalo, Toinho Lopes, não poderia ter formação melhor para articular a arte técnica e a artística de Ivete Sangalo. O profssional é técnico em eletricidade industrial. Atuou nove anos na área como técnico em eletricidade e geradores de trios elétricos. Foi Roadie por 19 anos da cantora até começar a atuar, há seis anos e meio, como produtor técnico da artista. Toinho já passou, durante este tempo, por todo tipo de situação desafiadora. As lives aconteceram para o Multishow, Rede Globo e internet em três oportunidades - dia 25 de abril, dia 10 de maio, no dia das mães, e 20 de junho, com temática junina. Toinho nos fala da primeira delas.
Flávio Senna é engenheiro de som premiado com diversos Grammys e tem seu nome nos créditos de vários clássicos da MPB. Requisitado na gravação de DVDs e álbuns, também atua no som ao vivo de alguns dos P.As mais exigentes do país, como Roberto Carlos e Ana Carolina. Entre os trabalhos nos quais atuou mixando na temporada de lives estão o Drive In Show, do Roupa Nova – que aconteceu no Espaço Hall, antigo Barra Music - e Jorge Aragão. O engenheiro de som também é sócio no estúdio Cia dos Técnicos, no Rio de Janeiro.
Desde 1996 Leco Possollo trabalha com Gilberto Gil. Ganhador de um Grammy com o álbum São João ao Vivo, em 2002, ele foi o responsável pelo áudio de uma das lives mais comentadas da temporada de pandemia: a de Gilberto Gil, que aconteceu no sítio em Araras do compositor. O engenheiro de som nos conta a sua experiência, falando sobre as semelhanças e diferenças entre um evento ao vivo para internet e outros eventos de música em mídias diferentes.
Desde a primeira live, na varanda do cantor Mumuzinho, se passaram anos em meses para a equipe do Estudio Century. A experiência com eventos como a Maratona da rádio O Dia, onde foram responsáveis, inclusive, pelo áudio para a internet, possibilitou que já houvesse um conhecimento inicial sobre o universo das lives que viria a explodir durante a pandemia do coronavírus. Gabriel Vasconcelos, Maurício Pinto e Lula Lavor contam a sua experiência com mais de 50 lives já feitas durante o período da pandemia.
O Estúdio Mosh faz parte da história da música brasileira há mais de trinta anos. Clássicos de todas as vertentes – de sertanejo à MPB, passando pelo rock – já foram gravados lá. A empresa também se atualizou de acordo com as tendências do mercado, fazendo com que o vídeo fizesse parte da rotina de trabalhos desde quando os DVDs se tornaram o produto fonográfico principal. Claro que, com o advento das lives, Oswaldo Malagutti Jr, responsável pelo Mosh, não deixaria o estúdio ficar de fora. O também baixista, integrante dos Pholhas, nos conta como o Mosh participou da onda das lives e os planos para o futuro.