Especial lives: entrevista com Lula Lavor, Gabriel Vasconcelos e Maurício Pinto
29/07/2020 - 10:03h
Atualizado em 30/07/2020 - 15:05h
Reportagem: Miguel Sá / Fotos: Divulgação / Reprodução
Desde a primeira live, na varanda do cantor Mumuzinho, se passaram anos em meses para a equipe do Estudio Century. A experiência com eventos como a Maratona da rádio O Dia, onde foram responsáveis, inclusive, pelo áudio para a internet, já havia um conhecimento inicial sobre o universo das lives que viria a explodir durante a pandemia do coronavírus. Gabriel Vasconcelos, Maurício Pinto e Lula Lavor contam a sua experiência com mais de 50 lives já feitas durante o período da pandemia.
Como chegaram nas lives?
Lula – Eu, Maurício e Gabriel somos todos técnicos de PA. Eu sou do Mumuzinho, Gabriel é do Thiaguinho e Maurício Pinto do Roupa Nova. Então já tínhamos um histórico na área técnica.
Gabriel - Fizemos trabalhos para principais rádios do Rio de Janeiro como JB, O Dia, Rádio Mania, transmissões de áudio e algumas transmissões de áudio e vídeo. Então já fazíamos algo parecido antes.
Lula – Nossa sociedade começou em 2015. Antes disso, eu e Gabriel fazíamos somente gravação de CD e DVD dos artistas do Rio, e então fizemos a sociedade para construir nossa unidade móvel. Por isso já trabalhávamos nesse universo de gravar trabalhando com vídeo. Quando chegamos no período de quarentena, teve um Impacto. Roupa Nova e Thiaguinho pararam de fazer show. Foi um susto ter todas as atividades paralisadas e tivemos de nos reinventar muito rápido. Como já tínhamos o know-how para ter uma boa imagem e um bom áudio, nos adaptamos muito rápido.
Clique na imagem e assista a live completa do Tiee, no palco do Estúdio Century
A internet é a diferença desse tipo de trabalho das lives?
Lula - Não só internet.
Gabriel - O que percebemos agora é a questão da segurança. Sempre batemos nessa tecla até em DVDs de festivais que participamos. É a qualidade, saber que não vai ficar escuro, que vai acontecer a transmissão que o áudio vai ser bom e o vídeo não vai parar que a principal preocupação das pessoas então tentamos unir o vídeo o áudio e a transmissão que são as três vertentes não tem nenhum problema que fragilizar.
Lula - Redundância. O que a gente faz é ter redundância. Temos duas ou três possibilidades no mínimo de transmissão e fazemos testes e mais testes durante a semana e no mesmo dia com excesso de segurança e zelo.
Maurício – Somos muito criteriosos. Por exemplo, na transmissão, não temos um hardware só fazendo a transmissão da Live para o YouTube. Normalmente temos três computadores: um fazendo o streaming principal, outro fazendo a transmissão secundária e um terceiro de backup caso dê problema em uma das duas máquinas. Usamos duas empresas diferentes fazendo as transmissões por caminhos diferentes: uma via fibra e outra via rádio. Isso para não ter problema de, por exemplo, bater um carro em um poste e destruir as fibras de todas as empresas. Também não colocamos um computador em uma internet e outro computador em outra. Fazemos um sistema de load balance, que é um roteador específico que faz com que as nossas internet estejam somadas. Se uma cai, a outra segura. Veja bem: não é um computador em uma internet e outro em outra separados. Inclusive a velocidade delas é somada e esse roteador distribui os pacotes pelos provedores de internet.
Como progrediram as lives que vocês fizeram?
Lula - Nosso principal foco era o áudio a não ser o dever de alguns artistas que fizemos o áudio e o vídeo mas não era o nosso foco, era uma coisa pontual. E essas lives nós nós fizemos até agora umas 50 lives deve ter tido umas 40 que fizemos tudo, umas 10 que a gente fez só áudio. Depois da pandemia o negócio se voltou para a entrega total. Antes fazíamos cem projetos de áudio e cinco de vídeo. Agora temos uma equipe mais formada de vídeo.
Maurício - Quando começou a pandemia começamos a especializar e investir em vídeo. Tem lives que só fazemos o áudio, outras só vídeo, tem lives que fazemos os três: áudio, vídeo e transmissão. Sorriso Maroto foi o processo completo, mas a do Roupa Nova foi só o áudio, o Gil foi só o vídeo e o streaming. O áudio quem fez foi o Leco. Cada demanda oferece um produto diferente. No caso do Gil eu estava monitorando aqui o áudio do nível em lufs e conversei com o Leco: estou com o Smaart aberto, qualquer toque que eu precisar te dar posso falar contigo? Ele falou: “claro”.
Lula - A live do Gustavo Lima foi uma referência para o mercado de como levar a sério isso, sem ser uma coisa caseira. A partir daí acendeu aquela luzinha de pegar o nosso conhecimento de DVD e trazer isso para o mundo da live com câmeras e lentes de broadcast, equipamento específico, mesa de gravação ... Como já tinhamos uma parte dessa estrutura, decidimos ir no caminho do que o Gustavo Lima apresentou. Claro que o universo do sertanejo é outro patamar, movimenta muito dinheiro, mas chegamos à conclusão de que poderíamos, em universo mais popular, fazer algo tão bom e grandioso quanto.
Mumuzinho na varanda do seu apartamento, para o Fantástico. Clique na imagem e assista.
Maurício - A primeira nossa foi muito simples, da varanda do Mumuzinho para o Fantástico. Fizemos só o áudio que foi ao ar e para o público do condomínio. A varanda fica de frente para área de lazer do condomínio, então colocamos duas caixas de som na varanda apontadas para os outros apartamentos e para área de baixo. Tínhamos a base da música que ele queria cantar pré gravadas. (Para a imagem) o pessoal do Fantástico prendeu duas câmeras na varanda: uma de frente para ele e outra de costas pegando a varanda toda, e duas câmeras com lente teleobjetiva embaixo temos que entrar todos paramentados e deixar os calçados fora
Gabriel – E como a demanda pelas lives já diminuiu, fizemos algumas que vão ter uma finalização e se tornar um conteúdo que pontue a carreira do artista
Maurício - Não fazemos as lives sem gravar tudo multipista e sem gravar as câmeras separadamente.
Lula - E esse conteúdo acaba virando uma relação pessoal do artista com o fã. Ele coloca no canal dele sem QR Code sem aqueles símbolos e aproveita para mostrar o trabalho não só para quem assistir online mas também para o fã.
Qual a diferença de fazer a live no estúdio e na unidade móvel?
Lula - A primeira diferença é a segurança no estúdio. É um ambiente controlado, montado previamente, a internet estável, câmeras e cabos pré-definidos, já passados. É um cenário interno é outro dentro do estúdio temos um kit básico que parte de cinco câmeras de Broadcast e dois sistemas de áudio com uma mesa de monitor Waves LV1 e a de transmissão que é uma Avid DS3L com 63 canais de áudio. É um estúdio de TV. No plano externo, o que dá a segurança do nosso serviço é que a gente tem a unidade móvel montada. Ela não é montada na hora. Temos uma carreta com 12 metros de comprimento com tudo. Já chegamos no lugar e paramos o caminhão com tudo pronto: cabos em fibra ótica e as câmeras para Live inclusive.
Equipamentos do Estúdio Century
Há parâmetros técnicos específicos que uma live deve seguir para a internet?
Lula - Cada veículo tem normas técnicas que devem ser cumpridas, e respeitamos todas essas normas. O YouTube tem exigência no número de kbps, por exemplo. Já rádio tem mais flexibilidade, mas a rádio tem um compressor que também processa o áudio. Quando faz um show é um formato de mixar, quando faz DVD é outro, áudio para transmissão outro. Não é tudo a mesma coisa.
Pergunto isso porque, por exemplo, a live do Roupa Nova teve uma mixagem para Youtube e outra para o transmissor FM que mandava o áudio para os carros no Drive In
Maurício - Nesse caso, foi feita uma masterização para YouTube e uma compressão multi banda. O alvo principal era o YouTube, então tínhamos uma saída para ele com um volume específico e masterização específica para YouTube como compressão multibanda específica e tinha uma saída para rádio com um volume muito menor de saída, porque o transmissor de rádio frequência do rádio comprime muito na entrada. Também fizemos alguns filtros para evitar que esse compressor, que não era multibanda, tinha uma região que comprimia. Conseguimos mais nível, mas totalmente separado a saída de um e a saída de outro. A do YouTube monitorávamos na ida e na volta. O que está voltando tem diferença de 30 segundos em relação ao que sai.
A questão do lip sync pode ter problemas, não?
Maurício - Somos paranóicos com isso
Lula - O processamento de vídeo é diferente, bem mais pesado que o áudio. O normal é que o vídeo esteja sempre um pouco atrasado. Aí temos que fazer o processo inverso: atrasar o áudio para casar com o vídeo. Isso é feito no ouvido no ao vivo não tem jeito. Tem que olhar a imagem até ficar cravado. (para conseguir isto)Temos um arquivo de vídeo para sincronizar áudio e vídeo. Abrimos uma live teste quando passa o som e transmitimos para o nosso canal fechado do estúdio. Enquanto o Gabriel está passando o som ou Maurício está coordenando alguma coisa, estou no outro computador assistindo. Sempre tem um de nós vendo que está acontecendo. E se na volta tiver algum problema, fazemos a correção na saída do sinal.
E como é feita a parte de saúde das lives?
Lula – Nós indicamos uma empresa parceira cuidando dessa parte, que dividem essa responsabilidade conosco. Além da nossa equipe toda trabalhar com máscara, fazemos uma reserva financeira no nosso orçamento só para comprar material para os cuidados. Quando chega um músico, é tirada a temperatura e é feita uma análise no estado geral, faz o teste (de Covid) que fura o dedo e também tem um oxímetro (para ver a oxigenação do sangue). Só entra no estúdio se passar por esses testes
Gabriel – Na do Gil e a do Thiaguinho tivemos que fazer o teste anteriormente dias antes
Lula - Já temos um certo preparo em relação a lidar com isso é como o pessoal da saúde que tá o tempo todo exposto e aprender a lidar. Virou uma rotina.