Crosslite: alta qualidade em software de medição

 

Reportagem: Miguel Sá (redacao@backstage.com.br)
Fotos: divulgação

 

Francisco Monteiro é engenheiro eletrônico, com trabalho voltado para hardware, eletrônica de potência e processamento analógico. O desenvolvimento do áudio, cada vez mais voltado para o digital, o fez se aperfeiçoar cada vez mais na programação para que pudesse desenvolver os projetos.

 

Além de todo o caminho próprio como engenheiro, Francisco é filho de um dos ícones na indústria do áudio brasileiro e na criação de equipamentos desenvolvidos e fabricados no Brasil: o engenheiro Ruy Monteiro. Sempre acreditando no país, em diferentes épocas, de fins dos anos 80 até mais recentemente, Ruy primeiro construiu a Micrologic, depois a Studio R Mixers e finalmente Studio R Amplificadores. Nessas diferentes épocas, ações desastradas dos governos ajudaram a interromper os empreendimentos.

 

 

Ruy faleceu no fim de 2019, mas o filho, Francisco, leva à frente o espírito empreendedor e criador desenvolvendo o software de medição Crosslite +, ainda que aprendendo com o que viu dentro de casa durante todos estes anos. “Apesar de passarmos quase que o dia inteiro trabalhando. Isso é prazeroso. O problema é quando não podemos nos concentrar no desenvolvimento continuado, sendo obrigados a recomeçar em um loop quase infinito e nos limitar a fazer coisas baratas, pois a empresa está à mercê de decisões políticas catastróficas imutáveis. Agora, o objetivo é fazer o trabalho transcender as fronteiras do país, motivo do CrossLite+ ser inteiro em inglês. Ao mesmo tempo, vou tentando aproveitar um pouco a vida, pois o tempo passa rápido demais. A trajetória de meu pai, Ruy Monteiro, ícone do áudio no país, me mostrou algumas coisas nesse sentido. Assim como meu pai, tenho a sorte de amar minha profissão.”, declara o engenheiro.

 

 

Em entrevista exclusiva para a Revista Backstage, Francisco Monteiro detalha como foi desenvolver o Crosslite + e mostra como pretende sempre melhorar e difundir este e outros produtos e equipamentos.

 

Quais foram os estágios de desenvolvimento? Quanto tempo demorou para desenvolver? 
CrossLite+ é um trabalho de uma década. Primeiro vem alguns anos de estudos matemáticos maçantes. Essa com certeza é a parte mais difícil, onde desistimos várias vezes. Estudar não paga as contas do mês nem funcionários, o tempo que sobra é pouco.

Interface ao usuário é importantíssima e difícil. A decisão na utilização de sua ferramenta pelo usuário é mais ligada aos aspectos intuitivos do software e facilidade de manipulação do que qualquer outra coisa, pois os resultados matemáticos são os mesmos de outras ferramentas. Dependo da opinião de colegas para desenvolver essa parte, pois minha vivência de laboratório e muito maior que a de campo.

 

A ideia que gerou o CrossLite+ já tinha algum tempo. O que mudou para que hoje valha a pena lançar? É uma questão das mudanças do mercado ou de direcionamento do trabalho?
Gostaria de saber a resposta dessas perguntas. A realidade Brasileira é bastante frustrante para quem deseja inovar. A briga de preço impera. Depois de todo esse desabafo vem a resposta à pergunta: fui presenteado com a vida para desenvolver, inovar e levar ao chão aquela famosa frase, “os gringos são outro nível”. O CrossLite+ surge já superando opções “gringas” consagradas há anos, e isto é apenas o começo. Está sendo principalmente prazeroso e é impossível de saber se é o caminho ideal financeiramente, mas vamos lá.

 

O que foi mudando em relação aos objetivos iniciais?
Geralmente exagero em recursos, possibilidades e no perfeccionismo. Dessa vez não foi diferente. O CrossLite+ é o resultado da simplificação de uma versão mais avançada. Tive horas de conversa com colegas para deixar o estritamente necessário ao trabalho dinâmico. Mais para frente os usuários que desejarem ir muito além em seus projetos, poderão adquirir essa versão avançada. Com certeza o início com o CrossLite+ fornecerá conhecimento técnico e capacidade de investimento financeiro necessários para a evolução.

 

Como procura o feedback durante o desenvolvimento? Havia alguma necessidade que identificava no mercado que não era atendida por outros softwares?
O feedback me procura antes que eu o faça, as pessoas gostam de opinar. As opções atuais de software levam em consideração que o usuário possui conhecimento técnico. Isso não é realidade aqui, mas logicamente existem exceções. Apesar da preocupação principal do CrossLite+ ser o mercado externo, mantive a linha de raciocínio de que o produto deve ser imune ao uso indevido, ser auto ajustável e, principalmente, fornecer conhecimento ao usuário, não somente resultados. Essa é a grande vantagem do CrossLite+, ele é uma escola.

 

 

Que diferenciais ele tem em relação a outros softwares semelhantes já presentes no mercado? 
A elevada otimização de recursos sem perda de precisão. Aliás, é justamente o contrário: como é mais difícil errar com o CrossLite+, os resultados são extremamente precisos e fidedignos. A parte de DSP apresenta opções muito mais completas e abrangentes que qualquer outro software no mundo, sem contar a interface que possibilita muitas formas de operação.

 

Você acompanhou, dentro de casa, o que é desenvolver uma indústria no Brasil. Na live da página do Facebook Soundmaker Adefran (https://www.facebook.com/soundmaker.adefran/videos/3026422240775520/) é mencionada a dificuldade de ter um trabalho com continuidade no Brasil. Desenvolver um produto em software hoje é mais viável que desenvolver produtos em hardware?
Encontrar fornecedores que não achem suas solicitações “frescuras” é uma tarefa árdua. Meu vocabulário parece coloquial, mas isso é o que escutamos. Por enquanto não sofro isso no desenvolvimento dos softwares, a dependência de terceiros é pequena, mas o trabalho é “infinito”, sempre existe algo a acrescentar, melhorar e corrigir. As ideias borbulham não somente na minha mente como na dos exigentes beta testers. A constante busca pela excelência desse grupo não me faz descansar até que tudo se torne realidade. Contudo, hardwares complementares estão em andamento. Um deles é a mesa de rotação 2D para medição de curva polar automatizada. Há ainda mais outras duas coisas que ainda são segredo. Não podemos esquecer que o CrossLite+ é um trabalho paralelo. Na StudioXPro e OVX as coisas continuam de vendo em popa. As marcas tiveram um salto tecnológico e de resultados grande, pois acabam usufruindo em primeira mão tudo que faço.

 

A pandemia afetou o lançamento do produto de alguma forma? Quais os planos para a divulgação do Crosslite daqui para frente?
Com certeza a pandemia atrapalhou demais, vários treinamentos em escolas de ensino e até em universidades tiveram que ser adiados. Por outro lado, pude aprimorar alguns pontos do software com calma. A divulgação e treinamentos, daqui em diante, serão por plataformas online até que tudo volte ao normal.

 

Tem planos de lançar outros produtos no futuro? Que necessidades do mercado de áudio profissional podem ser exploradas?
Apesar do nível extremo de complexidade e trabalho envolvidos no desenvolvimento de uma ferramenta dessas, quero ir sempre além. Se ninguém resolver abraçar essa causa aqui, “os gringos sempre serão outro nível”. Enquanto os parceiros focam no mercado interno, o meu foco é fazer a ferramenta evoluir o mais rápido possível e consagrá-la no mercado externo, onde a concorrência é de nível elevadíssimo. Estou em contato com alguns usuários no mundo e logo de cara percebo que a exigência extrema é corriqueira para eles mas, mesmo assim, estão se surpreendendo com o grande poder do CrossLite+. O mercado interno ainda é carente de informação básica. Esse será o direcionamento do trabalho por aqui.