César Munhoz é artista, comunicador e premiado produtor de ativos de entretenimento para projetos no Brasil, Estados Unidos, Suécia e Austrália para clientes como Positivo, eHow, H-AL, Nações Unidas e Impact HUB. Graduado pela Full Sail University em Entertainment Business, ele transita com segurança no mundo do entretenimento em vários papeis, passando pela música, performance e cinema.
O artista apresenta, todas as quartas às 19h, a websérie Arte, Entretenimento e Conexões no YouTube, Facebook, Instagram e Spotify da Full Sail Brazil Community.
O trabalho de César Munhoz pode ser encontrado em seu site www.cesarmunhoz.com. Seu projeto de música, vídeo e performance Mitomano ® , que comemora 12 anos em 2021, está disponível em www.mitomano.com.
No lançamento mais recente do projeto Mitomano ® "I Like Trying to Be Cute,
César brinca com o limite entre o belo e o grotesco. Assista o videoclipe em www.mitomano.com.
Cesar Munhoz tem ainda um programa de lives semanais com a Full Sail University em que ele discute arte, entretenimento e faz conexões com temas as vezes inusitados, as vezes do dia-a-dia de todos nós usando sua ótica artística para promover o debate e o troca de ideias. Que podem ser vistos aqui https://www.youtube.com/watch?v=YFeQ7O2U4yE)
César, como artista você é extremamente vanguardista e inovador. O que te move na direção de compor o inesperado e o que te inspira?
Seja uma música, um vídeo, um novo show, o que me move é a vontade de produzir algo que eu mesmo gostaria de ver, ouvir ou de presenciar. Quando é um trabalho feito para um cliente, uso essa vontade como motor pra entregar algo que funcione no projeto desse cliente e que seja inesquecível. Meu papel é fazer com que as pessoas tenham uma história pra contar depois de experimentar algo que eu fiz. Acho que a impressão vanguardista que as pessoas têm das coisas que faço vem das referências que carrego no coração, que são os artistas conceituais dos anos 50, 60 e 70, que tinham propostas de choque e estranhamento, como John Cage e o movimento Fluxus.
Transitando por tantos papéis diferentes, o que você define como as principais habilidades que um profissional precisa ter para cada papel e como desenvolver todas elas sem perder o foco?
Uma coisa que aprendi desde cedo é que começar um trabalho tentando satisfazer os outros é uma armadilha. Você não tem controle disso, por mais planejamento e pesquisa de mercado que você faça ou ache que está fazendo. O foco se revela quando você se toca disso. A partir daí, procure se associar com parceiros e clientes que tenham uma visão parecida com a sua e se esforce pra entender as referências deles. Assim você consegue prestar um serviço que faça sentido pra eles. O outro ponto é ter uma educação sólida de finanças e inteligência de negócios. Assim, você consegue manter sua matriz de renda sempre bem equilibrada, alimentar o seu corpo, suas necessidades básicas e seu processo criativo.
César Munhoz ao vivo na The Funhouse, Seattle, durante sua primeira turnê pelos Estados Unidos. Foto: William Braden.
Você tem experiência dentro e fora do Brasil, como você compara os mercados em que você já trabalhou e como você enxerga o mercado brasileiro hoje?
Vejo a ideia de mercado como uma miragem. Você cria uma imagem na cabeça, segue na direção dela, no meio do caminho vai ajustando a direção e muitas vezes acaba num lugar bem diferente da sua ideia inicial. Acho que as ferramentas de pesquisa e planejamento disponíveis para o artista independente não conseguem captar o tipo de informação que ele precisa pra se conectar com o público e não acho que isso vá mudar. Tem que equilibrar o instinto e os números. Também vejo uma ideia de mercado que depende menos de localização geográfica e mais de nichos.
Ao vivo em Curitiba, 2013. Foto: Daniel Sorrentino
Suas criações são únicas e incluem muita experimentação sonora e visual, o que você busca entregar através do seu trabalho? O que é sucesso para você?
Hoje o importante pra mim é o prazer de criar, de ver o que criei e achar massa, e de conversar com as pessoas que viram o que criei e me divertir junto com elas. Depois de quase 20 anos fazendo o que faço, aprendi a deixar que a ideia de sucesso se reconfigure e se mostre sozinha. Acho um perigo definir uma ideia de sucesso e se fixar nela, porque se você trabalha com arte experimental, que é uma coisa tão difícil de definir e que mexe tanto com as pessoas, mirar num tipo de sucesso ou em outro é uma receita pra quebrar a cara. É mais fácil falar do que fazer, porque no final do dia, você está contando, plays, likes e followers como todo mundo, mas isso é meio e não finalidade.
Como e quanto o mercado brasileiro está preparado para consumir esse tipo de arte mais voltada a experimentação?
Acho que o Brasil é uma experimentação em si e se você olhar com calma vai ver muita experimentação na Pabllo Vittar, na pisadinha, na Tropicália, na Bossa Nova, nos Titãs, no bacalhau do Chacrinha e no cidadão que experimenta todo dia um jeito novo de sobreviver. Acho perda de tempo esperar que o Brasil passe a gostar de Brian Eno e Marina Abramovic coletivamente, como se Brian Eno e Marina Abramovic fossem o caminho natural das coisas. E, principalmente depois da pandemia, a noção de gosto com localização geográfica foi desintegrada de vez.
Ao vivo em São Paulo, Festival Outkasts, 2010. Foto: Fred Costa
Olhando sua trajetória e avaliando sua dedicação, quanto você diria que é inspiração e quanto é transpiração na vida de um artista?
É 100% transpiração. A inspiração é o fator X que permeia tudo o que o artista faz. Artistas são indivíduos que, justamente por não se encaixarem naturalmente no ritmo "normal" das coisas, aprendem desde cedo a criar sua própria forma de sobreviver. O artista transita entre a magia e o mundano e é preciso ter muita coragem, foco e força de trabalho pra ser artista. Meu profundo respeito a todo indivíduo que se autodenomina artista.
Qual o papel da tecnologia no desenvolvimento do mundo das artes? A criatividade é uma característica pertencente somente aos seres humanos?
Minha principal ferramenta de trabalho é o computador. É também meu principal instrumento musical. Tenho amigos que são avessos a criar música no computador, mas tenho um pouco de preguiça de conversar com eles, porque fica aquele papo binário de "isso é melhor que aquilo", que é uma conversa que morre em si e não gera caminhos. E no final, toda forma de realizar algo é uma tecnologia, então uma corda de baixo bem afinada é tão "tecnologia" quanto a última versão do Pro Tools. Sobre criatividade ser uma exclusividade dos humanos, acho que já está escancarado por aí que não é. Eu compraria um quadro pintado pelo Pigcasso, aquele porco pintor. Acho muito massa as imagens geradas no Deep Dream. E as canções feitas em colaboração entre humanos e inteligência artificial já dominam as paradas. Se isso é bom ou ruim, o tempo vai dizer, mas que é realidade, é.
Ao vivo em São Paulo, Festival Outkasts, 2010. Foto: Fred Costa
Ainda dentro do tema da tecnologia, como você enxerga o mercado do NFT e a venda de arquivos digitais originais?
É uma forma engenhosa de tentar resgatar o valor monetário da obra do artista. É o fim da picada que a maioria das pessoas veja música, séries e filmes como algo que "sai da torneira" e que ninguém quer pagar pra ter acesso. Gerar renda é uma necessidade do artista como é pra qualquer outro profissional e, nesse ponto, acho genial que estejam recorrendo a ideias como os NFTs.
Que tipo de tendência você enxerga para o mercado das artes dos próximos 10, 15 anos? Que tipo de inovação você gostaria de ver acontecendo no mercado?
Quero ver mais conexão direta entre artista e consumidor. Quero ver o consumidor de arte tendo mais noção de custo-benefício. Pagar 19,90 pra ter acesso a milhares de filmes dos quais você assiste 10 faz menos sentido que encontrar maneiras de alimentar o artista que você ama e que não necessariamente tem visibilidade suficiente pra conquistar milhões de plays pra sobreviver na cauda longa. Também quero ver ideias como os NFTs funcionando sem depender de uma infra-estrutura massiva de eletricidade, plástico e metal que está acelerando o aquecimento global numa velocidade absurda. Tem que rever isso aí urgente, porque não adianta nada ganhar uma montanha de dinheiro e daqui 5 anos ver sua casa embaixo d'água porque a cidade litorânea em que você morava foi engolida por um oceano.