Carol Olival, da Full Sail University, entrevista Eduardo Pinter
29/01/2021 - 14:45h
Atualizado em 29/01/2021 - 17:08h
Carol Olival, diretora de outreach da Full Sail University no Brasil, entrevista Eduardo Pinter, brasileiro graduado pela Full Sail University, técnico de áudio no mercado há 10 anos presente nos trabalhos de mais alto nível. Na pauta, engenheiro de som x técnico de som, a formação do profissional de áudio e trabalhar com o que gosta!
Carol: Edu, você é formado em Show Production por uma universidade americana. Como você define sua profissão aqui no Brasil?
Eduardo: Boa pergunta! Eu me defino como Técnico de áudio.
Carol: Eu percebo o mercado do áudio ainda um pouco desconhecido do grande público e mesmo quem trabalha nesse mercado ainda com dificuldade de se apresentar e definir sua profissão. A questão do técnico ou do engenheiro, por exemplo. Para você qual a diferença entre o Técnico de Audio e o Engenheiro de Audio?
Eduardo: Na minha opinião o que muda é somente a palavra.
Pra nós brasileiros, engenheiro é quem fez engenharia, mas por exemplo, nos Estados Unidos os profissionais se definem como Engenheiros, mesmo sem terem feito faculdade de engenharia. O que pra nós é técnico, pra eles é engenheiro, no fim das contas não vejo diferença se você fizer um bom trabalho. Eu me defino como Técnico por hábito mesmo.
Edu mixando Foo Fighters no Rock in Rio de 2019
Carol: Edu, eu queria que você contasse um pouco sobre como foi o início da sua carreira, de onde veio a decisão de entrar nesse mercado?
Edu: Acredito que a maioria de nós que trabalhamos no backstage da música são pessoas que já tocaram ou tocam algum instrumento musical. Tivemos banda, ou simplesmente gostamos de tocar/cantar, e acabamos definindo por ficar nesse mercado. Me lembro quando eu tinha uns 14 anos, baixei um software de gravação chamado Mixcraft, me lembro até hoje, nunca tinha ouvido falar de Pro Tools, e já comecei a gravar e “fuçar”, achei todo esse universo incrível. Começou aí, adolescente ainda, que veio a vontade de fazer parte do mercado da música.
Carol: E como foi que tudo começou? Qual foi seu primeiro passo?
Edu: Então, eu tocava em uma banda em 2010 e a gente resolveu gravar um EP. Eu fui atrás de estúdios para gravar nosso som, e acabei encontrando o Epah Estúdios, que foi onde eu aprendi meu ofício. Minha família sempre me apoiou e meu deu força. Na sequência encontrei o IAV, que é um instituto em São Paulo que forma profissionais do áudio, e comecei meu primeiro curso oficial lá, com o Marcelo Claret e uma equipe de técnicos e professores excelentes.
Edu fazendo monitor para Alexandre Pires no festival Vina Del Mar no Chile em 2020
Carol: E onde entrou a Full Sail nisso, Edu?
Edu: Um pouco antes de achar o IAV, estava procurando na internet lugares para aprender áudio e acabei achando a Full Sail sem querer. Na época não rolou de ir, era um sonho muito distante, mas anos depois, viajando com o Marcio Schnaidman do Epah Estudios, aconteceu de estarmos em Orlando e de conseguirmos visitar o campus da Full Sail. Foi fantástico, até o Marcio queria ir estudar lá. O Márcio é uma grande referência, um profissional que ama áudio, tem muita experiência, um grande professor. Ele me incentivou e ajudou muito a estudar na Full Sail.
Carol: Edu, dos trabalhos que você já fez, quais os mais significativos que mais impactaram na sua carreira?
Edu: Eu comecei ao contrário! Quando eu entrei no Epah, tinha uma única unidade móvel de áudio, estavam começando a rolar as transmissões de shows pra TV, e
o Marcio me mandou para o Rio de Janeiro para uma transmissão sem me dizer quem seria o artista. Quando eu cheguei lá, era simplesmente o Slash, de quem eu era fã a vida inteira. Foi engraçado porque eu fui arrumar os microfones no palco e de repente comecei a ouvir uma guitarra ensurdecedora. Olhei pra trás e estava o Slash lá.
Precisei segurar a onda e me concentrar no trabalho, mas foi incrível.
Equipe Epah Estudios no Lollapalooza de 2018
Carol: Nossa, Slash como primeiro artista não é para qualquer um! E na sequência, qual a próxima surpresa que você teve?
Edu: Na sequência o Marcio me chamou para outro show, segunda transmissão da minha vida, e perguntei quem seria o artista e ele disse que era o Elton John. Surreal, porque eu já comecei lá em cima. Esse início me marcou muito, o Slash, o Elton John, todos os Rock In Rio, Lollapalooza. Tive sorte.
Carol: Conta pra gente mais alguma história que você jamais vai esquecer de algum trabalho que já fez?
Edu: Ah, vou contar dois casos aqui que me marcaram. Teve um evento grande – acho que era Rock in Rio – e a gente estava fazendo a transmissão do palco. No último dia ia ter Red Hot Chilli Peppers, de quem eu também sou fã. Eles disseram que eles iam usar equipamento próprio e que a gente não precisava se preocupar, mas no final eles acabaram tendo problemas e pediram para mixar na nossa unidade móvel. O engenheiro de broadcast deles nunca tinham visto a mesa na vida, e a gente precisou montar os canais off-line na mesa, enquanto fazíamos a transmissão de outra banda que estava rolando. Eram 64 canais, a gente não tinha passado som, não tinha feito nada. Foi insano. Acertamos o patch no palco, acertamos a mesa, checamos tudo nos 10 minutos de intervalo entre uma banda e outra, tudo certo pro show. O legal é que quando o show começou, me chamaram para assistir o show no palco, a 5 metros da banda, como recompensa por todo o corre que a gente fez e que deu certo. Fiquei mega empolgado, sentei para assistir o show mas acabou que na segunda música eu dormi! Estava tão cansado no último dia de festival, última banda, sem dormir, e a adrenalina tinha sido tão grande que eu apaguei! Acordei na última música.
Posicionando os microfones do púplico, Rock in Rio 2019
Carol: Eu imagino! E que raiva de dormir num momento desses! Espero que no outro caso que você vai contar pra gente o mico tenha sido menor!
Edu: A outra história tem a ver com o Lulu Santos. Eu faço monitor para o Lulu, e num dos primeiros shows que eu fiz com ele, ele tocou uma música que eu ouvia no meu mp3 player indo estudar no IAV, há uns 8 anos atrás, não sabia nada de áudio. Caiu a ficha pra mim, eu pensei: “Tô colocando o som no ouvido do Lulu Santos, que eu ouvi tanto quando estava estudando. Ele vai ouvir o que eu quero que ele ouça e ele está feliz com meu trabalho (eu acho)”. Eu não sabia o que era um cabo, escutava as músicas dele e agora estava trabalhando com ele. Foi demais.
Carol: Quem são as referencias hoje para você em áudio?
Edu: Todas as pessoas que me ajudaram, me ensinaram, principalmente a galera do Epah, o Márcio, Marcelo Freitas, Guido, Guto, Markinho Maluf, o Renato Carneiro.
O Renato me ensinou muito, e ainda ensina muita gente. Ele é um cara que não segura informação nenhuma, ele sabe muito de som e agrega com um lance pessoal de como ele trata as pessoas. Eu quero ser como ele um dia.
Edu mixando Foo Fighters no Rock in Rio de 2019
Carol: Edu, tem uma história com o Foo Fighters, não tem?
Edu: Ah, sim! A gente estava no RiR e ia rolar Foo Fighters, sou fã deles. O Marcelo Freitas estava mixando para a TV quase todas as bandas, e eu pedi pra mixar junto com ele o FF. Ele, super generoso, me deixou mixar e foi animal. A gente sabe das negociações todas que tem para ver quem vai mixar o que, e essa oportunidade foi demais. Foi um trabalho com muita cooperação, o Arthur Luna estava lá, o Renato Carneiro, o próprio Marcelo Freitas e o Marcio Schnaidman. Foi uma das primeiras e únicas vezes que mixei para TV.
Carol: Nós falamos muito do que você fez e do cansaço e da responsabilidade e da pressão de quem trabalha no backstage do áudio. O que você acha que o profissional dessa área precisa ter como característica e perfil para ser bem sucedido?
Edu: A gente sempre conversa sobre isso. É um combo que envolve a parte técnica com a pessoal.
Não adianta manjar de tudo, ser um gênio, mas não saber lidar com as pessoas. Também não adianta ser muito gente boa, saber se relacionar com todo mundo, mas deixar a desejar na parte técnica e som.
Agora que eu tenho um pouco de experiência, eu vejo que tem uma galera mais nova que está muito a fim de fazer acontecer. Hoje em dia tem muita informação disponível para quem quer estudar e pesquisar. Está tudo tão acessível, que não tem desculpa para não aprender. Mas, resumindo, é importante estar no lugar certo, na hora certa e saber aproveitar a oportunidade. E tem a questão do inglês que hoje é fundamental, tanto para a questão do acesso à informação quando pela comunicação que a gente precisa ter com as bandas internacionais, no meu caso por exemplo.