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Bruno Mars: modernizando o clássico

18/06/2020 - 16:05h
Atualizado em 30/07/2020 - 10:41h

#TBT Backstage

 

O assunto do TBT de hoje é iluminação. Vamos ver como a Revista Backstage, na edição 271, de junho de 2017, mostrou o projeto de iluminação do pop star Bruno Mars em seu show no Brasil. A matéria é de Cláudia Cavallo, que entrevistou o lighting designer Roy Bennet e o design de produção Cory FitzGerald.

Boa leitura!

 


 

Claudia Cavallo: redacao@backstage.com.br | Fotos: Florent Déchard / Peter Aquinde | Seven Design Works / Divulgação | Ilustração: Clara Porfírio

 

Tenha você 8 ou 80 anos, a nova turnê 24K Magic do cantor Bruno Mars tem algo familiar e, ao mesmo tempo, inovador. O visual nostálgico de lâmpadas PAR ou painéis luminosos trazem uma certa sensação de viagem de volta ao tempo, mas só até percebermos que as fontes de luz são, na verdade, LEDs e moving lights de última geração em sistemas móveis, integrados a uma cenografia totalmente automatizada, que incorpora uma série de elementos projetados para causarem impacto tanto ao vivo quando nas câmeras de telefones celulares.

 


Bruno está sempre atento ao visual, na perspectiva do público

 

O projeto de iluminação é assinado pelo Lighting Designer Cory FitzGerald, que trabalhou em conjunto com LeRoy Bennet e Joel Forman, Production Designer and Production Manager, respectivamente, além de uma equipe de profissionais. Das conversas iniciais sobre a turnê até a primeira apresentação em março deste ano foram cerca de seis a sete meses, includindo três semanas de ensaios com a cenografia em avançado estágio de montagem no gigantesco estúdio da companhia Rock Lititiz, na Pensilvânia (USA), e três dias na Antuérpia (Bélgica), cidade de estréia.

 


O show é uma versão ousada do estilo dos anos 80, 90 e R&B



A estrutura foi concebida para montagem em grandes arenas, o que, já de começo, gera o desafio de se encontrar soluções para esconder elementos de grandes proporções até o exato momento em que eles precisam ser revelados para causar o devido impacto. Entretanto, embora uma banda de abertura apresente-se no mesmo palco, a cenografia permanece um segredo bem guardado até o primeiro acorde do show de Bruno Mars. Mesmo os últimos ajustes são feitos em total sigilo, por detrás de uma cortina que baixa, cobrindo não só a frente, mas também as laterais do palco, assim que a banda de abertura termina sua performance. Uma sequência de músicas atuais, upbeat e bem conhecidas pelo público ‘esquenta’ a platéia durante os preparativos, até os telões mostrarem mensagens provocativas indicando que o show vai começar. De repente, a cortina sobe e o público fixa o olhar em Bruno e nos vocalistas, posicionados individualmente em cinco painéis luminosos de diferentes cores, uma referência aos anos ‘disco’. Este o único momento em que Bruno Mars e seus músicos, os Hooligans, não estão se mexendo. Do começo ao fim do show, os pés dessa nova geração de artistas multi-task não param, e eles parecem ter nascido sabendo dançar, cantar e tocar, sempre juntos, tudo ao mesmo tempo, com perfeição.

 

 

Planejamento
Os primeiros conceitos para a nova turnê começaram a ser discutidos em julho do ano passado, entre Bruno, Cory FitzGerald e Joel Forman. Em dezembro, LeRoy Bennett juntou-se à equipe para criar a cenografia geral, dando unidade e um visual conciso a um apanhado de idéias, além de desenvolver o projeto de produção.

 


Tanto Roy quanto Cory afirmam que seu cliente é o tipo de artista que sabe o que quer e participa ativamente de todo o processo criativo de suas turnês. Inicialmente Bruno pretendia cuidar da produção pessoalmente, mas preferiu reconsiderar. ‘Fui chamado para uma reunião em dezembro, pouco antes do Natal, quando ele me apresentou algumas referências do que tinha em mente para a turnê. Nesta etapa do processo, é importante ouvir o artista, entender o que ele está buscando, descartar o que não é necessário, focar no que ele está realmente tentando dizer e não se comprometer a fazer exatamente o que ele pede, porque muitos fatores precisam ser levados em consideração. Ouvi o Bruno, entendi o que ele queria e propus fazermos algo dentro do mesmo estilo, mas mais limpo e mais ousado, revela Roy. ‘Bruno é super envolvido na concepção de seus shows do começo ao fim. Ele tem uma visão incrível sobre o que quer ver e está sempre muito atento a como o visual vai ficar na perspectiva do público. Tomamos por base várias referências de shows que o influenciaram, o que incluía uma série de aspectos característicos dos anos 80, 90 e do estilo R&B. A partir de então, atualizamos a estética original de forma que o resultado final representasse o ele tinha em mente’, explica Cory.


Roy e Cory tem trabalhado juntos em apresentações e turnês de Bruno Mars desde 2011, o que contribuiu para o excelente resultado do projeto cenográfico.

 


Light PODs no teto remetem às montagens dos grupos Queen, AC/DC e Michael Jackson 

 

Projeto sob medida
O palco foi desenvolvido sob encomenda, pela empresa TAIT Towers. Caixas de luz de LED iluminam o chão em sincronia com o ritmo das músicas. As partes superior e inferior do palco recebem um longo contorno que serve também como luz de platéia. Cinco colunas verticais, no fundo, funcionam ora como painéis luminosos, ora como grid vertical com fontes de remetem às lâmpadas PAR. Há ainda um telão de LED que aparece e some como que por encanto, caixas de luz em formato de L que entram em cena ao longo do espetáculo e plataformas que sobrem e descem.


Vinte caixas de luz no teto do palco remetem originalmente às montagens do grupo Queen, nos anos 90. Considerando-se que a 24K Magic é uma turnê do seculo XXI, as antigas PAR, neste caso, foram substituídas por 420 Robe Spikies, sendo 21 luminárias por caixa, distribuídas numa configuração uniforme 3x7. ’Além de serem eficientes e rápidas, essas luminárias são compactas, o que nos possibilitou colocar um grande número delas dentro de cada caixa’, justifica Roy. Outra facilidade proporcionada pelo avanço da tecnologia é a automação do sistema, o que possibilita a movimentação dessas caixas de luz, formando diferentes cenas, em harmonia com a dinâmica do show.


Um recurso originalmente simples mas versátil e eficiente são as cinco colunas verticais no fundo do palco, cobertas com material de alto contraste que reflete uniformemente a luz de fitas de LED, dando a aparência de painéis luminosos. Essas colunas são giratórias e, do lado oposto, 375 luminárias Robe Spikies posicionadas verticalmente (5 fileiras de 15 unidades por coluna)  lembram antigos grids de lâmpadas PAR. Ao longo do espetáculo, os dois lados das colunas são explorados cenograficamente de variadas maneiras.

 


Entre as colunas, 48 Philips Vari-Lite VL6000 são distribuídas em seis grids verticais, juntamente com 53 VL4000 posicionadas de forma a reforçar as luzes de fundo, laterais e efeitos. ‘Assim como para vários jovens artistas, é realmente importante para o Bruno como fica o visual do show quando reproduzido na midia social. A luz brilhante e as cores vibrantes da VL6000 aparecem muito bem em câmeras de telefones celulares.’, comenta Roy Bennett. ‘O Vari-Lite VL4000 BeamWash faz tudo aquilo que você precisa fazer, é rápido, brilhante e permite criar todo tipo de texturas’, acrescenta Cory FitzGerald.


Um telão de LED desce em frente às colunas, sem que ninguém perceba e, em determinadas musicas, imagens do cantor e da banda são projetadas em tempo real para alegria do público localizado nas áreas mais distantes do palco. Em alguns momentos, Spikies iluminam através do telão, dando uma nova perspectiva ao espaço cênico.
As surpresas não param por aí . Quinze colunas em forma de L, sustentadas por 72 motores entram em cena flutuando, dando um aspecto ainda mais tridimensional à cenografia. O movimento dessas peças é controlado por um sistema TAIT Navigator, que centraliza a automação de todas as partes móveis do cenário.
Falando em automação, oito motores (quatro eletromecânicos e quatro hidráulicos) fazem subir plataformas, em diferentes alturas, acrescentando níveis ao palco e revelando  painéis de LED para projeção de imagens. O projeto cenográfico levou em consideração o campo de visão do público em todos os diferentes pontos de um estádio ou arena e usou os elevadores para melhorar a visibilidade.

 


Fogos de artifício, que não podiam faltar, são sequenciados no fundo do palco. Ha canhões de luz focados no artista todo o tempo e 7 Spots Robe BMFL são usados como luz chave para todos os músicos. O controle do sistema de iluminação é feito através de duas consoles MA2 Full Size e uma MA2 Light. A turnê 24K Magic é uma das mais comentadas no cenário internacional, reforçando o talento e competência de Bruno Mars, e mostra que este multi-vencedor de prêmios Grammy tem carisma passos de dança e arranjos musicais em comum com seus ídolos, mas há algo mais: liderança e o envolvimento em cada detalhe da produção de seu trabalho. O show chega ao Brasil em novembro e é diversão é garantida, seja você um fã à moda antiga que grita e dança o show inteiro, ou da nova geração, que traz a midia social como companhia.

 

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA AMPLIAR

 

 

 

 


 

 

Cory FitzGerald tinha apenas 12 anos quando iniciou as suas aventuras no mundo da iluminação, ajudando um amigo a pendurar lâmpadas num acampamento de verão. ‘Estou nisso desde então’, reflete, com o entusiasmo de quem fez a escolha certa na vida. Atuando primeiramente como programador e, mais tarde, como lighting designer, começou a ter os seus próprios clientes há cerca de 8 anos. O trabalho com Bruno Mars entra em seu currículo a partir de 2011, quando passou a acompanhar o artista em quase todas as suas apresentações. A sua página na Internet apresenta uma longa lista de nomes e eventos que incluem Beyoncé, Justin Bieber e Jennifer Lopez, entre outros.

 

Qual foi o principal desafio em modernizar, sem distorcer, o estilo dos anos 80 ou 90 na cenografia da turnê 24K Magic?
Tentar atualizar um visual clássico não foi complicado com o que a tecnologia moderna oferece. Interessante foi tentar criar um visual consistente e grandioso, mas imitando a tecnologia antiga de forma simples e concisa e, ao mesmo tempo, criando um show cheio de dinâmica. A tendência é complicar demais, porque hoje podemos fazer muito mais, mas nós queríamos realmente dar ao show um visual e um feeling do clássico R&B.

 

Como o trabalho com o Bruno Mars tem evoluído a longo dos anos?
Eu percebo que o trabalho foi ficando cada mais vez mais complexo. Paralelamente ao desenvolvimento musical, os shows foram se tornando mais dinâmicos e hoje usamos mais efeitos especiais, assim como mecanismos de palco automatizados e mais sofisticados.

 

O que contribuiu para o sucesso da sua carreira desde as primeiras pequenas oportunidades aos 12 anos até  você conquistar os seus próprios clientes e chegar aos grandes nomes?
Eu tenho tido a sorte de trabalhar com alguns artistas que, particularmente, gostam de se envolver na concepção de seus shows e têm interesse especial em criar algo novo e um visual dinâmico para suas apresentações. Eu diria que foi sorte, acima de tudo.


Quais são as principais habilidades que um lighting designer da nova geração precisa para crescer nessa profissão?
Acho que é muito uma questão de estar no lugar certo, na hora certa. Dedicação também ajuda, alem da capacidade de visualizar o resultado do projeto tanto pelo ponto de vista do público ao vivo quanto de quem assiste o show pela TV ou em midias eletrônicas. Este é um detalhe importante para essa geração Internet.

 


 

 

Roy Bennett, como é conhecido, é uma das grandes referências mundiais em design de produção e iluminação de espetáculos. Além de ter iniciado sua carreira com o inesquecível Prince, ele vem trabalhando com Paul McCartney há mais de doze anos. No final de 2015, recebeu dois dos mais prestigiosos premios da indústria: o ‘Knight of Illumination Award’, na categoria ‘Concert Touring Arena’, pela turnê ‘Artrave: The Art Pop Ball’, de 2014, de Lady Gaga; e o ‘Parnelli Awards’, na categoria ‘Set/Scenic Designer of the Year’, pela turnê de 2015, do grupo Maroon 5. Sua capacidade de combinar eficiência com criatividade o levou a conquistar uma posição de destaque no mercado internacional, mas conversando com Roy, percebe-se que a sua habilidade em manter a calma sob pressão é o segredo por trás do sucesso deste carismático profissional.

 

Lembro de você no Rock in Rio 2, em 1991, nos shows do Prince, George Michael e INXS. Seus cabelos eram longos, você usava meias em vez de sapatos e deslizava de um lado para o outro enquanto operava a mesa de luz. O que permanece igual e o que mudou em sua carreira ao longo desses anos?
(Risos) Aquilo era porque eu usava pedais sob a mesa e eu conseguia controlá-los melhor sem sapatos. Com relação ao que permanece igual: a minha paixão pelo que faço. Isso é, provavelmente, a coisa mais importante. Quanto ao que mudou: a tecnologia que, cada vez mais, permite-me realizar mais fielmente o que crio dentro da minha cabeça.

 

Numa entrevista para a revista TPi você comentou que trabalhar com o Prince foi seu grande desafio. Por quê?
O que o Prince ensinou a mim foi algo que ele ensinou a si mesmo: como estender limites, se superar. Constantemente ele me colocava em situações nas quais eu tinha que encontrar uma solução por vezes imediata... Tive muita sorte de trabalhar com ele. Eu tinha a liberdade de experimentar.

 

Produção de eventos, é um trabalho sob tensão. O tempo é mais curto que o necessário e, conforme os prazos vão apertando, é comum todo mundo ficar com os nervos a flor da pele. Como você lida com o stress de ensaios e períodos pre-estreia, por exemplo?
Stress? Stress? (risos). Estou nesta atividade há mais da metade da minha vida. Aprendi cedo a não me estressar, apenas manter o foco e seguir em frente. O que fazemos é entretenimento, é para ser divertido!

 

Você vem atuando na China e esta agora iniciando um projeto para ensinar, desenvolver e orientar jovens profissionais e empresas a usarem tecnologia de uma forma eficiente e criativa naquele país. Como você pretende fazer isso?
Eu sempre achei que não existe certo ou errado, você simplesmente vai encontrando novos caminhos. Não posso ensinar ninguém a ser criativo, mas posso explicar a razão por que escolhemos fazer algo de uma determinada maneira, como se organiza uma produção, a orquestração das diversas partes de um espetáculo. Posso ensinar práticas eficientes. Quando estudantes vão para a universidade aprender a trabalhar com iluminação, teatro etc, eles saem com um ótimo nível técnico, mas com relação a liberdade para criar e experimentar, isso não acontece de fato. Acho que como um designer a coisa mais importante é entender onde estão os parâmetros e pensar em como você pode estender, ampliar esses parâmetros, sem deixar a teoria ou preconceitos técnicos se transformarem em amarras. Não posso ensinar ninguém a ser criativo, mas posso mostrar criatividade para as pessoas e dar a elas a oportunidade de absorverem o que puderem.

 

Que conselho daria para jovens profissionais que não tem a sorte de fazer parte deste grupo que você ensina diretamente?
É importante ter a mente aberta, entender que, por vezes, a melhor opção é ‘desapegar’. Ao desapegar de uma idéia inicial você acaba encontrando soluções que são ainda mais interessantes. Ao longo dos anos tenho visto pessoas que não desapegam porque são muito preciosistas. Desapegar não significa ser desleixado, mas sim conseguir criar algo a partir de qualquer coisa.

 

 

 

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