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Áudio imersivo: entrevista com Carlos Ronconi

28/06/2021 - 01:35h
Atualizado em 28/06/2021 - 11:48h

 

O que é o audio imersivo?

O áudio imersivo é todo aquele que você sente vindo de todas as direções. Você, na vida real, está imerso no som. Então o áudio imersivo é exatamente a transcrição desse ambiente para o audiovisual.

 

 

O conceito de áudio imersivo pode ser aplicado a formatos antigos, como o Dolby Surround ou até mesmo o Fantasound, usado nos anos 40, no filme Fantasia, da Disney?

Sim. Eu acredito que o conceito de áudio imersivo inclusive tenha vido dessa fase, né? O Fantasound, que a Disney usou nos anos 40, era exatamente a tentativa de fazer com que as pessoas sentissem o som mais imersivo, porque na realidade o Fantasia era projetado em uma tela enorme. O Disney fez o desenho para uma tela gigante, então ele queria que tivesse a mesma sensação na audição, com a mesma grandiosidade. Ou seja, que a pessoa ficasse envolvida no som. O Fantasound tinha sete canais. Ele rodava, inclusive, num magnético perfurado paralelo ao filme. Os dois eram sincronizados. Por isso era um sistema muito caro para ter em qualquer cinema. Só alguns cinemas é que podiam exibir o Fantasia com o sistema Fantasound, mas pode ser considerado um dos precursores do som imersivo sim. Depois veio o Dolby Surround, que era um sistema LCRS, ou seja, quatro canais: três na tela e um canal de Surround. O 5.1, que já colocou mais canais de surround, 7.1 e o Dolby Atmos, que é o último formato usado. Acho que podemos considerar (o conceito de) audio imersivo a partir daí: a tentativa de criar mais de dois canais de percepção de som.

 

 

Quando a prática do conceito começou a se tornar uma realidade?

O cinema sempre tinha uma briga, de leve, com a televisão. Ou seja: a televisão é cria do cinema, mas sempre que a televisão inovava o cinema também tinha que se inovar para roubar de novo o público pra assistir na sala. Então a cada passo que a televisão dava, o cinema dava uma contrapartida. E assim veio o cinemascope, tela larga, alta resolução, som imersivo, Dolby Stereo e tudo mais. Tudo isso veio para melhorar a experiencia do usuário indo ao cinema. A experiencia coletiva maior que a realidade.

 

 

O audio imersivo se desenvolveu mais por causa dos games?

O áudio imersivo não se desenvolveu mais por causa de games. Na realidade há poucas workstations de game hoje que usam áudio imersivo. A maioria usa estéreo. Você tem o XBox1, de Atmos, o Playstation 5, agora também Atmos, mas você não tem muitas workstations.

 

 

Trabalhou com Dolby Atmos?

Sim, trabalhei. Já fizemos(na Globo) várias experiencias em Dolby Atmos. O primeiro produto que fizemos em Dolby Atmos foi o carnaval de 2017. Foi um teste. Fizemos a transmissão para o aplicativo da Dolby. Infelizmente não estava no ar para todo mundo. Antes disso, a Globosat tinha feito uma versão do Rock in Rio em Dolby Atmos. Depois, em 2018, nós fizemos alguns jogos da copa em Dolby Atmos para uma plateia seleta lá no Museu do Amanhã(Rio de Janeiro). A nossa primeira experiência no ar foi o Rock in Rio 2019, na qual colocamos o evento no ar em Dolby Atmos também para uma região na Barra da Tijuca para a pessoa poder decodificar em casa através de um canal experimental. Mesma coisa o futebol em São Paulo. No campeonato paulista, os jogos do Corintians foram em Dolby Atmos. A experiência foi fantástica.

 

 

 

Qual a diferença de audio 3D para o estéreo?

O áudio 3D te dá a profundidade. Dá a noção dos sons vindo de todas as direções: de trás, de frente... Quando você tem um audio estéreo, você está com um par de caixas na frente ou um fone de ouvido, você sente o som sempre naquela dimensão ali: na sua frente ou de um lado para o outro na sua cabeça. Inclusive o centro do headphone é o meio da cabeça. Então se uma pessoa aparece pra você na tela lá na frente, o som está no meio da sua cabeça. É muito estranho isso. O 3D não. Te dá possibilidade de binauralização, o que coloca a pessoa, mesmo ela usando fone,  na frente, na tela. O 3D te dá essa sensação de espaço.

 

 

Tem diferença entre gravar e mixar entre estéreo. 5.1 ou som imersivo?

Não necessariamente. Eu posso gravar um audiovisual da maneira como eu sempre gravo, privilegiando diálogos, colocando os efeitos... O que eu posso gravar diferente são os meus ambientes. Meus efeitos, por exemplo, se eu estou fazendo um diálogo dentro de um shopping e quero colocar e mostrar para as pessoas aquela amplidão, aquele espaço do shopping, ou de uma floresta por exemplo, posso gravar o ambiente da floresta em ambisonics, que é um formato que capta 360 graus. Eu posso gravar isso em ambisonics e poder gerar um 5.1, 7.1, 7. 4 ou o que eu quiser a partir dessa informação. A informação do ambisonics me permite gerar tudo. Desde um estéreo binaural até um sistema imersivo 7.1.4. Esse tipo de coisa eu posso gravar já pensando em espacialidade. Mas o resto, diálogo, essas coisas, eu gravo normalmente como gravaria para um filme em estéreo. Sem problema. Em música também você pode pensar muito em espacialização. Na verdade, ambisonics se presta muito para gravar música clássica. Nesse tipo de música você depende do ambiente para a música ser mais apreciada. Então eu acho que essa é a grande vantagem de se gravar em um formato ambisonics, mas não necessariamente precisa ser assim.

 

 

Para mixar é necessário uma sala especial?

Sim. É claro. Se você vai monitorar estéreo, você precisa ter duas caixas. Se você vai monitorar em mono, vai poder ter uma caixa só. Se você vai monitorar em imersivo, Dolby Atmos ou seja qual for o formato, você precisa ter mais caixas exatamente para dizer de onde é que o som está vindo, e essa é a grande vantagem de poder trabalhar com Dolby Atmos: ter a sensação que o som vem de lugares bem definidos. Quando você vai assistir um filme em Dolby Atmos no cinema você tem várias caixas entre as de surround, no teto e caixas da frente. Então essa capacidade de reproduzir sons de vários pontos é que faz com que o Dolby Atmos seja um formato imersivo muito profundo. E quando você está em um ambiente doméstico, pode ter um sistema aí 7.1.4, com sete caixas na horizontal, mais 4 no teto e um sub, o que te dá também essa sensação de som vindo de todos os lados. Então, para mixar é necessário que você faça o uso de um estúdio que esteja equipado para tal. Com mais caixas do que um simplesmente estéreo. Mas para reproduzir você pode usar um soundbar, por exemplo, que é uma das coisas que vai alavancar muito essa possibilidade de você ter a imersão nas residências. Você não ocupa tanto espaço, não precisa de tanta caixa e, mesmo assim,  consegue ter a sensação bem próxima de que tivesse várias caixas na sala.

 

 

Como é feita a reprodução pro ouvinte final?

Uma das dicas é essa. Ele ter caixas de som espalhadas pela sala. Normalmente três caixas na frente , duas caixas no surround, duas nas laterais e quatro caixas no teto. Ou se você não tiver nas laterais, ter 5.1.4, com duas caixas no teto, ou ainda ter um sistema com o que eles chamam de far up: as caixas da direita, da esquerda e da frente tem um pequeno alto falante que joga o som para o teto. O teto reflete o som de volta - tem que ser um teto ou alguma coisa lisa -  para quem está assistindo. Então você tem a sensação que o som vem de cima para te dar essa espacialização. É muito comum em sistemas mais simples que não necessitam de som colocado no teto, mas o ideal seria ter uma sala própria para isso. Ou seja, uma sala com cinco caixas ao redor e quatro caixas no teto. Mas você também pode ter, como eu falei, soundbars, que são barras de som que renderizam essa coisa e, através de psicoacústica, com reflexões na parede, no teto, eles geram esse ambiente imersivo. Eu tenho um sistema da LG e a sensação quando escuto um filme em Dolby Atmos ou um filme estéreo é bem diferente. Mesmo usando um soundbar numa sala pequena.

 

 

Como fica a qualidade de som para o ouvinte final na área de streaming?

Vários equipamentos já estão prontos para isso. Você tem notebooks da Apple e da LG com um pacote Microsoft que você compra separadamente (para ter Dolby Atmos), tem os smartfones da Sansung, todos eles com Dolby Atmos. Você tem os smartfones mais novos da Apple com Dolby Atmos, além dos os Ipads novos. Então você tem várias maneiras de aproveitar essa imersão usando também dispositivos móveis. Obviamente quem está tirando muita vantagem desse sistema Dolby Atmos, de imersão, é o próprio streaming. Você tem hoje em dia Netflix, Amazon Prime Video, Apple TV, Disney e agora a Fox também, todos eles exibindo o filme em Dolby Atmos. Então, antes até do que as TVs aqui no Brasil, os serviços de streaming estão tirando mais proveito desse som imersivo. A Netflix, inclusive, recomenda que os produtos novos sejam feitos e entregues em Dolby Atmos. A linha Marvel quase toda já está mixada em dolby atmos, inclusive alguns flmes de catalogo foram remixados em dolby atmos. Temos três ou quatro estúdios no Brasil que fazem dublagem já equipados para trabalhar com Dolby Atmos, então temos uma variedade muito grande no streaming comercial. Agora, o streaming tipo Youtube e Facebook, esse ainda vai demorar um pouco, porque na realidade você não tem como trafegar agora, nesse momento, nesse formato por aí. Alguns testes estão sendo feitos, mas não estão sendo aprovados ainda.

 

 

A internet e os celulares então já suportam isso...

Sim. Já suportam. O 4G já suporta isso. O Wi Fi também, e você vai pode ter isso logo em grande escala com o 5G. Estamos caminhando para um áudio imersivo cada vez mais presente na vida das pessoas.

 

 

 

 

 

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