Alinhamento de sistemas sonoros: afinando o instrumento
09/07/2020 - 15:17h
Atualizado em 30/07/2020 - 10:40h
#TBT Backstage – Alinhamento de sistemas sonoros: afinando o instrumento
Hoje o nosso #TBT Backstage é também uma homenagem a dois grandes profissionais do áudio que já nos deixaram: Carlos Correia e Ricardo Mizutani. Os dois participam da matéria sobre alinhamento de sistemas sonoros da edição 143, de outubro de 2006. Além deles, um time de craques como Peter Racy, Marcelo Claret e Marcos Ski, entre outros, falam sobre os segredos para um bom alinhamento.
Boa leitura!
Reportagem: Miguel Sá - redacao@backstage.com.br / Fotos: Divulgação
Não são só os instrumentos que têm de ser afinados. O sistema de sonorização também tem de passar por um processo de ajuste antes de cada show: é o chamado alinhamento. Alguns dos técnicos mais prestigiados do país, de vários segmentos, falam de suas experiências com o alinhamento de sistemas sonoros.
Antes de cada show, os músicos - ou os roadies - afinam os instrumentos para que eles soem de forma harmônica e correta. O som também tem de passar por uma espécie de afinação: é o alinhamento do sistema sonoro. Carlos Correia, projetista, técnico de som e consultor, define o processo como “medição, análise e posterior correção, visando à integração eletroacústica dos componentes de um sistema de reprodução sonora”. Para Peter Racy, técnico da Gabisom, alinhamento é “um ajuste fino ou otimização do sistema como um todo, para que seus vários componentes trabalhem integrados se adequando da melhor forma possível à situação (do local de show)”. Marcelo Claret, sound designer, técnico de som e diretor do IAV, lembra que o sistema deve trabalhar dentro da margem de segurança com equilíbrio na extensão de resposta de freqüência e entre as regiões de freqüência.
O alinhamento sonoro ocorre tanto no sistema de P.A. como no palco, mas com objetivos diferentes. No primeiro, a preocupação é ajustar os componentes do sistema de reprodução entre si, com adequação ao local da apresentação. No palco, é feito um trabalho de ajuste do sistema de side fill, levando em conta as sobras do sistema de P.A e o tipo de monitoração que os músicos usam: in-ear, caixas de monitores ou ambos, como explica Ricardo Mizutani. “No palco, em ambientes fechados, a ‘volta’ do som do P.A. é uma parcela muito importante no somatório do que se ouve. Diferentes métodos de trabalho vão surgir se o artista usa, ou não, in-ear. Tem uns que usam fone apenas de um lado, lamentavelmente. Outros usam caixa e fones. Enfim, o técnico de palco deverá se virar para que esta soma confusa de sons possa estar próxima do que o artista, ou músico, deseja em seu ouvido”, conclui.
Hoje, por causa da tecnologia digital, o alinhamento de sistemas passa por um processo de aumento de precisão. Antes, era um processo empírico de montagem com bastante equalização, onde não era possível sequer ajustar os delays entre as regiões de freqüências. Hoje, com o uso de softwares de medição, como o Smaart Live e o advento dos line arrays, com seus programas próprios de alinhamento, fica cada vez mais difícil errar. Algumas das principais ferramentas para o alinhamento são os softwares de análise (Smaart, SIM, Spectra Full e outros), analisadores de espectro, equalizadores paramétricos, gráficos e processadores de sistema de sonorização, como XTA ou BSS, além, é claro, dos ouvidos.
Passo a passo Marcelo Claret destaca a importância não só do alinhamento das freqüências, mas também da freqüência em função do tempo. Isso garante que não haja interferências destrutivas do tipo comb filter ou cancelamentos de fase. O alinhamento das freqüências garante o equilíbrio entre os graves, médios e agudos. Carlos Correia resume os passos da forma como faz o alinhamento dos sistemas: “O primeiro é a medição, a análise acústica e o diagnóstico dos possíveis problemas do sistema; depois, passamos à fase dos ajustes de fase e tempo entre os componentes, níveis entre as diversas faixas de freqüências e depois fazemos uma audição com música para que possamos ter uma idéia dos resultados. Caso não nos agrade, fazemos tudo novamente até que consideremos o resultado satisfatório”, conclui. Peter Racy esmiuça a forma como trabalha no seu dia-a-dia. Ele ressalta que parte do princípio de que o sistema seja bem dimensionado para a situação na qual será utilizado em termos de potência, cobertura e qualidade do som. Também é necessário que o sistema esteja corretamente setorizado e que haja controle suficiente de cada zona de sonorização (ganho, delay e equalização em cada ramal). É preciso ainda que o sistema esteja corretamente instalado, respeitando os parâmetros definidos durante o projeto. “Podemos então pensar em integrar todos os subsistemas e setores de modo a obter uma cobertura homogênea de toda a área sonorizada”, comenta.
Há várias situações diferentes pelas quais o técnico pode passar ao montar uma sonorização. Desde um sistema simplificado, onde há apenas L&R e subgraves, até sistemas complexos, como o do show dos Rolling Stones, onde foi feita a sonorização da praia de Copacabana em uma extensão de mais de um quilômetro, com diversas torres de delay. “Em um sistema simplificado não há muito a se fazer além de certificar-se que todas as áreas estão cobertas pelo L&R, acertar a fase do L&R em relação ao subgrave e, com um equalizador, filtrar algumas freqüências indesejáveis que podem ser conseqüência do próprio sistema ou da sala reagindo ao sistema”, comenta Peter. “Em sistemas mais complexos, temos ainda que integrar diversos subsistemas com o objetivo de formar uma cobertura uniforme e coesa. Na Gabisom, tive a oportunidade assistir a inúmeros “gurus” e cada um tem seu método particular. Antes de iniciar um procedimento de análise, todos, sem exceção, fazem a verificação de cada ramal (ganho, delay, equalização, microfone) para certificar-se de que está tudo conectado corretamente”.
De acordo com Peter, em geral, o processo acontece da seguinte forma: “Gerando pink noise, abre-se uma via de cada vez e confere-se cada canal de amplificação independentemente”. Neste momento, o profissional procura identificar se há vias trocadas e componentes ou equipamentos danificados. Depois, é feita uma comparação do L&R das vias das altas freqüências, médias e graves para detectar desequilíbrio entre um lado e outro.
O próximo estágio é ligar apenas a via de graves e somá-la à de subgraves para verificar se elas estão somando ou se é necessário inverter a polaridade da via de subgraves para que haja esta soma. “Para quem não utiliza software para auxiliar na análise, existem truques, como gerar um sinal entre 60 a 80Hz em ambas as vias, inverter a polaridade de uma via, e caçar um ponto nulo enquanto se ajusta o delay do sub. A fase do sub estará otimizada com o grave apenas naquela freqüência escolhida. As demais freqüências estarão bem próximas, mas não otimizadas. Portanto, a escolha desta freqüência deve ser feita de forma consciente, levando em conta o tipo de música, a resposta do equipamento, o local, etc.”.
Quando esta parte do processo se encerra, o técnico pode tocar alguma música de referência no sistema e andar pelo local do show para ter uma primeira impressão da sonoridade do sistema na sala, identificando possíveis correções na resposta. “Tudo conferido, partimos para a análise inicial, onde levantamos a resposta do sistema principal à procura de alguma anomalia. Pode ser um excesso ou falta de resposta em determinada região de freqüência” diz Peter, que faz algumas observações: “quando usamos instrumentos para análise, é importante trabalhar com apenas um lado do P.A. ligado e o microfone posicionado no eixo central dele e a uma distância média. A diferença no tempo de chegada de dois P.As ao microfone causará erros de leitura”.
Existem muitos problemas que podem acontecer na resposta de um P.A. Há técnicos que já procuram logo o equalizador para resolvê-los, mas isto pode não ser a atitude mais correta. “Pode ser posicionamento do P.A., emitindo muita energia sobre uma superfície causando fortes reflexões que cancelam com o som direto. Pode ser devido ao equipamento não ter um bom controle de diretividade e produzir o famoso ‘comb filter’, devido à interação caótica entre os próprios componentes do P.A. Na maioria dos casos , equalizador deve ser o último recurso para correção, depois de tentadas todas as outras possíveis soluções: reposicionamento do PA, revestimento de superfícies, atenuação, etc”. Peter ainda fala sobre o quanto prefere utilizar equalizadores paramétricos para a equalização do sistema quando isto é possível. “É preferível utilizar equalizadores paramétricos de boa qualidade no sistema. Além de oferecerem mais flexibilidade e precisão do que os gráficos, em geral introduzem menos deslocamento de fase”, afirma. “É claro que estes equalizadores serão utilizados apenas para cortes. Nunca para ‘puxar’ uma região, pois o headroom do sistema diminuirá muito. Os estágios seguintes começarão a clipar muito cedo, diminuindo a eficiência e o volume final”, ressalta. Resolvidos os fenômenos mais aparentes, devemos ter uma curva de resposta sensata e que agrade aos ouvidos”, afirma o técnico Peter Racy.
Os mesmos procedimentos devem ser tomados com relação aos subsistemas. Deve-se ter o cuidado de fazer o alinhamento apenas com o subsistema a ser alinhado ligado e com o microfone de análise posicionado na frente dele, sempre com referência na curva de resposta P.A. principal. É importantíssimo acertar o delay e o volume entre o P.A. principal e os subsistemas de forma que pareça que o som tenha origem psicoacústica no P.A. principal e que os sistemas de delay e front fill não se sobressaiam. “Mais um passeio por toda a área sonorizada, ouvindo música, confirmará se está tudo certo ou se algo precisa ser reajustado, dando atenção especial às zonas de interseção de dois ou mais subsistemas. Note se a interação destes subsistemas provoca alguma anomalia. Usando os ouvidos, confira os tempos de delay de diversos pontos. O tempo que funciona bem na frente pode não funcionar tão bem para as laterais. Encontra-se um tempo médio”.
Line array O line array representou muita mudança na forma como se faz o áudio, e não poderia ser diferente no que diz respeito à forma de se alinhar o sistema. O line array não é apenas um “ajuntamento” de caixas: é um sistema que, para funcionar em sua plenitude, depende de posicionamento correto e processamento adequado. “Se não houver o alinhamento correto, do ponto de vista de empilhamento, do ângulo de curvatura e com o alinhamento no tempo para depois fazer a equalização, pode jogar tudo fora”, comenta Claret.
Uma das características mais marcantes deste tipo de sistema é o controle de diretividade do som. Antes de ser montado, é feito um projeto da sonorização utilizando o software proprietário de cada sistema. Utilizando os dados colocados pelo sound designer, o software ajuda a evitar problemas como rebatimentos no teto e laterais, além de uma concentração racional de energia sonora nos lugares certos do local do show. Mas a montagem precisa realmente ser feita de forma correta, de acordo com as especificações. “No meu entendimento, a principal diferença de procedimento no alinhamento entre o line array e o sistema convencional está na montagem e posicionamento correto do line array em relação à área a ser sonorizada”, comenta Carlos Correia.
Mizutani relembra que “o grande avanço dos modernos line arrays não está somente na melhor cobertura, está antes de tudo na possibilidade da predição do sistema e conseqüente padronização de montagem. Os modernos line arrays - os verdadeiros - vêm com um software. Pela primeira vez nos é oferecido um método que vai muito além do ‘achismo’. O software auxilia o técnico da empresa de som a determinar o número adequado de elementos (as caixas), a altura e inclinação do bumper, a curvatura mais adequada entre os elementos, etc. Se antes não havia uma padronização, agora, com os line arrays, é possível reduzirmos o leque de resultados ótimos para um determinado ambiente”.
Condições adversas Marcelo Claret comenta que um planejamento de turnê e um projeto adequado de sonorização são o primeiro passo para um alinhamento adequado. “Você chega lá e faz só o que é possível, mas aí já partiu de uma premissa errada”. Segundo ele, a falta de tempo para realizar as coisas corretamente, a falta de planejamento e até de pessoas capacitadas para realizar o estudo da melhor maneira de sonorizar o local pode prejudicar o processo de alinhamento. Ele ainda lembra da confusão que, às vezes, é feita entre equalização do sistema e alinhamento propriamente dito. Mizutani completa dizendo que entre as dez mil possíveis causas para um som ruim, “a primeira, com certeza, seria um alinhamento inadequado. Em um sistema mal alinhado você é obrigado a ‘entortar’ muito a equalização de cada instrumento. Como o equalizador de canal da mesa de mixagem possui no máximo quatro bandas, fora o filtro passa-altas, em um instrumento de largo espectro acabam faltando recursos para deixar o som dele mais natural, mais real. Então, aquela conga, por exemplo, não soa como conga, faltam harmônicos. Mas não é só ela. Some-se aquele tamborim que não soa como tamborim, mais aquele baixo de uma nota só, mais aquela guitarra muito abafada, mais a voz fanha, etc. Enfim, a mixagem já nasce comprometida se o alinhamento for ruim”, conclui.
Sérgio Jachelli, que faz o P.A. da cantora gospel Aline Barros, lembra que era freqüente encontrar equipamentos não alinhados, o que não acontece mais hoje. “Melhorou em geral”, afirma Sérgio. “As firmas ‘cansadas’ continuam (a trabalhar), mas nós não temos pegado mais elas”, conta. “Há mais respeito pelo artista gospel”. Em todo o caso, o técnico sempre leva CDs de referência com ruído rosa e música, além de um analisador de espectro P.A.s para evitar maiores surpresas.
Mizutani lembra que os equipamentos usados também podem trazer problemas na hora de trabalhar. “A maioria dos transdutores vendidos no mercado que equipam os sistemas mais comuns de sonorização profissional é de boa qualidade, mesmo os nacionais. As falhas estão no projeto de caixa e alinhamento inadequados, na maioria das vezes. Quanto ao projeto da caixa, como técnicos operadores, não podemos fazer muito a respeito. Mas se temos a ampla liberdade de alterar alguns parâmetros do processador digital, é possível melhorar muito a performance do sistema. Enfim, com recursos em mãos, é possível equilibrar a resposta de freqüência, melhorar a percepção da resposta a transientes, uniformizar a cobertura com cortes mais adequados, diminuir a distorção etc. Mas lembre-se que isso não é uma tarefa para todos: é necessário um bom conhecimento de eletroacústica para se mexer na ‘intimidade’ de um processador de sistemas, ou algum alto-falante pode ir para o espaço”, previne.
O técnico Marcos Ski, que faz o monitor da dupla Gean e Geovani e também já trabalhou como técnico de P.A, conta que, nas viagens pelo Brasil, encontra-se, por exemplo, muitos sistemas fora de fase. Algumas vezes é necessário mexer no alinhamento de som para obter o mínimo de qualidade. “Pegamos todos os tipos de sistemas, do A ao Z”, diz, se referindo à qualidade das sonorizações que encontra pelo país. Ele comenta o aumento do número de line arrays, tanto nacionais como importados, como Attack, Selenium e D.A.S., mas lamenta muito quando a equipe técnica encontra um daqueles equipamentos que copiam, de forma errada, equipamentos de marcas famosas ou os “line array covers” que já surgem pelos grotões do Brasil.
Responsabilidade Mas e quando não tem jeito? E quando o sistema está realmente montado de forma totalmente inadequada? “Sempre tem de haver algum tipo de alinhamento do sistema, mesmo que não seja completo, perfeito ou do nosso agrado. Caso contrário, não se consegue trabalhar, nem de modo precário”, expõe Carlos Correia. “Eu já passei várias situações muito problemáticas onde tive até que desmontar e remontar completamente o sistema sonoro, ou o show não poderia ter ocorrido”, conclui, ressaltando que se deve ter tato com os profissionais que montaram o sistema de forma inadequada.
E de quem seria a responsabilidade pelo alinhamento? A princípio, todos respondem que é da empresa de sonorização, mas Marcelo Claret lembra de um detalhe: depende da função para a qual a empresa foi contratada. Se a empresa foi chamada apenas para a locação de equipamento, o responsável pelo ajuste do sistema de sonorização seria um profissional contratado pela organização do show ou evento. Segundo ele e os outros técnicos, as principais empresas de sonorização têm uma preocupação com o alinhamento correto do som.
Fabrício Neiva, técnico de P.A. do grupo Uakti, ex–técnico do Skank e consultor da Serenata Musical, faz comparações entre os sistemas de som de ontem e de hoje e fala sobre o uso da tecnologia digital no alinhamento de sistemas sonoros.
O técnico de som Fabrício Neiva não pára. Entre os shows do grupo mineiro Uakti, presta consultoria para os clientes da Serenata Musical, em Belo Horizonte, ajudando-os a entenderem suas novas consoles digitais. Foi durante esses trabalhos de consultoria que ele tomou contato com equipamentos, como o programa Smaart Live, que faz medições que ajudam muito no trabalho de alinhamento de um sistema sonoro. Entre as dificuldades do passado e as ferramentas do presente, Fabrício Neiva nos conta um pouco da sua experiência com alinhamento de sistemas de som.
Revista Backstage - Para que se faz o alinhamento de um sistema sonoro?
Fabrício Neiva – Todo o alinhamento que a gente faz é para tentar fazer que essas duas fontes, ou vinte e trinta, como a gente tem em um P.A., se comportem como uma só. Hoje, (os sistemas sonoros) têm subgraves, falantes de 15”, 10”, e drivers, e cada sistema tem os seus componentes. Dentro de cada caixa, as bobinas têm suas diferenças entre elas, e precisamos colocar isso em ordem. Também precisa que tenha uma cobertura sonora, dentro do ambiente em que queira fazer o som, para que todas as pessoas ouçam a mesma coisa. Isso seria o alinhamento: colocar tudo isso em ordem de modo que o som saia parecendo ser de uma fonte só, e que ela faça a cobertura de toda a sua área.
Que tipo de equipamento se usa para isto?
Fabrício – Hoje, nos sistemas mais desenvolvidos, para uma otimização melhor das caixas, existem os processadores digitais. Antigamente era o crossover, que tinha somente as freqüências de corte. Depois, começou a inversão de fase. Com os processadores digitais conseguimos fazer o equilíbrio entre as caixas e se você usa amplificadores de modelos diferentes pode ajustar o nível entre eles. Para a leitura de freqüências, o que todo mundo usava era o analisador de espectro, que ainda é uma ferramenta essencial. É um instrumento para se orientar. Hoje, já existem softwares bem sofisticados. O que se usa mais hoje é o Smaart Live.
Como é o passo-a-passo do processo?
Fabrício - A primeira coisa que se tem de fazer é a definição de como vai ser o delay entre as bobinas - a fábrica informa (as diferenças entre as bobinas) - e colocar estes dados no processador. Em segundo lugar, vem a estrutura de ganho. Os limiters são a proteção que vai ter para o sistema. Depois, vai começar a ouvir e equalizar. Hoje em dia, dá para equalizar as bandas de forma independente nos processadores. A partir daí, começa a melhorar a eficiência do seu som. Os softwares e analisadores servem para lhe dar uma orientação melhor. Uma curva retinha não significa que o som está bom. O que define um som bom é o ouvido. Se houver um comb filter, se você perceber e não souber exatamente a região, os instrumentos auxiliam para fazer uma correção mais precisa. Uma vez, estava fazendo um show em um ginásio de péssima acústica e estava sobrando uma freqüência que eu escutava uma e o analisador mostrava outra. Eu ia na minha, mas eu estava escutando o primeiro harmônico, que o local refletia mais (do que a fundamental). Eu tirava esse harmônico e não resolvia. Tinha que tirar a fundamental. Quando vi, o analisador tinha acertado. Essa é a utilidade do aparelho.
A finalização é no equalizador gráfico ou paramétrico que fica na saída da mesa, que você equaliza a seu gosto. Hoje, os sistemas de line array têm uma outra maneira de se trabalhar. Normalmente, eles já vêm com o seu processamento. Eles (as fábricas dos line arrays) indicam o processador, os papers têm os valores todos definidos, você não tem que se preocupar com isso. E existe um negócio muito bom hoje que são os programas que cada line array tem para alinhamento do sistema.
Quando você obedece a todas essas normas, a eficiência dos sistemas aumenta muito. A cobertura fica igual (em toda a área do show), e é o sonho de todo mundo o cara que está a dez metros da caixa ouvir o mesmo som do que está a quarenta ou cinqüenta metros. Hoje se trabalha com essa precisão no áudio, mas exige conhecimento. As pessoas têm de estudar mais e não ter medo de trabalhar no software. E para trabalhar com precisão em áudio, precisa ter precisão na montagem. Isto é fundamental. Esses line arrays que não têm software não estão cumprindo isto. Line array não são caixas. É um sistema de precisão e precisa obedecer ao que ele fala. Tem de ter com um sistema desses um inclinômetro digital e também uma trena eletrônica para medir distâncias.
E como o alinhamento era feito antes do digital?
Fabrício – Antigamente, você não conseguia mexer no delay entre as bobinas. Havia alguns processadores, os primeiros, que eram fixos. Então, não importava se na sua caixa era melhor cortar, por exemplo, em 200 Hz ou 250 Hz. O crossover vinha com 200Hz e tinha que obedecer aquilo ali. Depois, a gente começou a variar o ponto de corte, aí começou a melhorar. Depois, vieram as inversões de fase, que foi a primeira forma de alinhamento da bobina. Depois, com os processamentos digitais, foi corrigindo tudo isso. Um dos sonhos que eu tenho era voltar no tempo para tentar lembrar como era aquele som. Eu achava bom para a época. Você só vai achar bom um Mercedes quando andar em um.
Qual é a importância dos recursos digitais?
Fabrício - Passei a errar menos e conseguir um padrão sonoro, apesar dos diferentes modelos de caixas. Isso é quase impossível, mas você chega dentro de um padrão aceitável de variação. Com estes softwares aprendi, primeiro, a errar menos. Eles analisam o som que você está fazendo com o que você está ouvindo no P.A. Ele compara os dois e você consegue enxergar essa comparação, ver onde pode estar errando. O Lake Contour já vem com um Smaart Live integrado. Hoje, mesmo os processamentos digitais de marcas inferiores já conseguem uma boa sonoridade. Outra coisa é que alguns amplificadores de fonte digital, novos, já vêm com DSP interno. Nesse DSP você pode fazer os cortes. Tudo o que fazia no processador pode fazer no amplificador, então não vai mais precisar do processador, e você vai controlar as bobinas que estão ligadas em cada canal.
De quem é a responsabilidade pelo alinhamento?
Fabrício – Quando se trabalha na estrada, não se tem tempo para ficar analisando bobina por bobina. Esse trabalho tem de ser feito pela empresa. Ela tem que entregar o sistema pronto. Você tem de equalizar só o final no equalizador gráfico da saída da mesa. Muita gente tem mania de chegar e ficar mexendo em freqüência de corte sem conhecer. O trabalho não se faz na hora ali. O trabalho é em cima de estudo, pesquisa, e as empresas de áudio têm de fazer esse tipo de trabalho.
E as empresas se preocupam?
Fabrício – Hoje, nas grandes empresas, que têm uma marca definida, é tranqüilo. Você chega e está tudo pronto, não tem problema nenhum. O grande problema é a falta de grana, e cada um opta por um tipo de produto, copia caixas, muda os transdutores, mudam tudo e na verdade nem sabem como é que funciona esse negócio.