- Por favor fale um pouco do histórico dos 45 anos de existência da sua empresa. Sempre foi com shows e eventos?
Sim, o foco da Opus sempre foi direcionado para realização de espetáculos. No primeiro momento, nossos conteúdos eram concentrados em Porto Alegre, cidade que fundamos a empresa. Porém, aos poucos, fomos abraçando as oportunidades e nos espalhamos pelo Brasil.
Atualmente temos o privilégio de levar cultura e entretenimento para as mais diversas cidades do nosso país, administramos casas de espetáculos do Nordeste ao Sul e expandimos os nossos negócios de forma 360 graus.
Além de sermos uma realizadora de shows, administramos casas de espetáculos, agenciamos artistas, temos uma plataforma própria de venda de ingressos, somos uma criadora de projetos próprios/conteúdos e nos envolvemos em todas as áreas do nosso negócio.
- Como está sendo vivenciar este momento? Na sua experiência é muito diferente de outros momentos difíceis do mercado? É possível listar outros momentos difíceis?
Sim, é um momento muito diferente. Pela primeira vez o mercado de eventos parou completamente e ainda assim, por mais de um ano. Nosso segmento envolve situações múltiplas: tem a gestão da nossa empresa, nossos parceiros e fornecedores paralisados, uma programação nacional para administrar e um público para orientar. Além, é claro, de todas as questões que envolvem a saúde pública. Apesar disso, tiveram sim outros momentos difíceis ao longo de todos esses anos, com exemplo a H1N1 e a greve dos caminhoneiros que exigiram mudanças de programação e que de certa forma, também afetaram a economia.
- Quando foi possível notar que este seria um momento diferente de outras crises?
No primeiro momento só ouvimos falar da Covid-19 na China. Mas o assunto começou a chamar a atenção, se tornar mais sério e a espalhar-se para outras regiões. Na sequeência quando o vírus saiu da China e os demais países começaram a fechar um a um percebemos que seria diferente. Em questão de poucos dias, o Brasil parou também.
- A sua empresa atua em diversos lugares do Brasil. É possível dizer que há lugares onde a situação é melhor ou pior para o segmento? Ou está tudo da mesma forma?
Não.
A situação foi complicada em todo o Brasil.
E o mais complexo no momento foram as mudanças constantes de fases que nos exigiam abrir e fechar os nossos espaços com pouco tempo de planejamento.
A versão dos teatros com capacidade reduzida também prejudica, obviamente, o nosso negócio. Nem todo espetáculo consegue garantir um resultado positivo com a capacidade atual – então, em muitas situações não vale a pena realizar ainda.
Atuamos com capacidade reduzida durante a pandemia em São Paulo, Natal, Fortaleza e no Rio de Janeiro.
Gostaria de aproveitar esse espaço, para agradecer o público que compreendeu esse momento, respeitou os protocolos e esteve atento as mudanças da nossa programação.
- Em 2019 havia dois teatros a serem inaugurados com os quais sua empresa iria trabalhar. Teve algum plano que precisou ser refeito?
Sim. A construção do Teatro Città no Rio de Janeiro sofreu ajustes constantes de planejamento durante a execução. Paramos por um tempo devido a fase vigente no período e reduzimos também a quantidade de profissionais envolvidos durante a obra. Nesse momento estamos com a obra ativa e ansiosos pela inauguração.
Aproveitamos esse momento complexo para realizar também sonhos antigos. Logo mais, divulgaremos a nossa administração de uma casa de espetáculos em Curitiba.
- A sua empresa está com projetos encaminhado com parceiros internacionais. O Sr. Tem informações de como as coisas estão indo em outros países?
Sim. A Opus possui uma unidade de negócio que chamamos de Gestão Artística. Atualmente somos responsáveis pela carreira do Seu Jorge, Luccas Neto, Alexandre Pires, Maurício Manieri e Daniel.
Nesse momento, temos tournês programadas na Europa a partir do mês de Julho.
Referente aos demais países, assim como no Brasil, os Estados Unidos tem regras diferentes em cada Estado, mas esta semana atingiu 70% das pessoas vacinadas e iniciou a abertura de praticamente todos os eventos, sem distanciamento e com máscaras opcionais.
Já tinham aberto com jogos para milhares de pessoas juntas. A Argentina está com a vacinação abaixo da realizada no Brasil, até o momento. Europa estava mais devagar com a vacinação, mas também acelerou um pouco como estamos fazendo agora. Nova Zelândia e Austrália tiveram a facilidade de conseguirem fechar as fronteiras e há meses estão realizando eventos sem distanciamento. Barcelona fez um evento-teste para 5.000 pessoas. Seguindo este exemplo, Londres, Paris e outras cidades também fizeram eventos - teste.
Para nós utilizar essas referências é muito importante, além de ficarmos felizes com o sucesso dos eventos testes.
- Já acontecem, em diversos lugares, alguns eventos testando formatos pós-covid. O Sr. tem acompanhado estes eventos? O que acha que pode ser trazido para o Brasil? O que acha que teria de ser adaptado para a realidade daqui?
No formato atual no Brasil, de protocolo com distanciamento, com capacidade reduzida para abaixo de 50% fica complicado para o produtor viabilizar, a conta não fecha.
A exemplo do Drive-Thru, implantado em vários Estados e das Lives que só se viabilizaram com patrocinadores. No evento-teste de Barcelona citado acima, para entrar o público tinha que apresentar um teste antígeno (teste rápido 15min) que não estava contaminado, como resultado foram 2 pessoas infectadas e que, os infectologistas envolvidos ainda suspeitam que, podem não ter pego no evento. Este estudo mudou a percepção do governo sobre os eventos, que começaram a abrir seguindo os mesmos protocolos, sem distanciamento.
Hoje no mundo existem diversos formatos sendo trabalhados:
- Eventos para vacinados + testados
- Eventos para testados
- Eventos mistos em áreas distintas para vacinados + testados sem distanciamento e com máscaras e outra área para não vacinados com distanciamento e máscaras
- E, em alguns países, já liberando sem mais restrições.
É difícil afirmar qual é o melhor formato para o Brasil. Particularmente, acredito que sem dúvidas é ter muita responsabilidade no formato que será apresentado ao público. Tenho convicção que é possível realizar um evento, respeitando os órgãos, garantindo uma boa experiência e mantendo todos protegidos.
- É possível já dizer o que permanece dos atuais protocolos quando passar esse momento da pandemia?
Foi comprovado cientificamente que, mais do que o álcool gel 70º, o uso da máscara corretamente (N95 PFF2) é um dos sistemas que mais protegem todos porque o vírus entra pelas vias aéreas. Ela voltará a ser acionada sempre que voltar um novo risco de epidemia.
Os países orientais já estavam habituados com ela, no ocidente passamos a utilizar com a pandemia. A vacina contra o Covid19 e outras novas gripes, provavelmente, entrarão na nossa rotina de vacinas anuais.
- Apurei que sua empresa tinha projetos a serem desenvolvidos com realidade aumentada. Acha que este tipo de espetáculo pode ser adaptado e ganhar uma importância maior dentro da realidade de pandemia/pós pandemia?
A Opus tem como missão a experiência ao vivo. Nosso prazer é realizar o sonho dos fãs e a gente sabe, que as tecnologias atuais nos permitem resgatar oportunidades do passado e fazer com que o público viva o presente.
Ao mesmo tempo, durante a pandemia realizamos mais de 100 lives, construímos inúmeros projetos com marcas parceiras e criamos junto com o Teatro Bradesco, um teatro digital. Foi um aprendizado intenso e rápido e que aconteceria de forma mais lenta e progressiva em uma situação normal. Acreditamos que, após o final da pandemia, as pessoas irão querer estar em contato com as outras, todos estão sentindo falta da presença, do físico. Mas depois desta euforia, o que aprendemos durante a pandemia certamente irá evoluir e encontrar novos formatos. Quem pode nos dizer para onde o futuro nos conduzirá?
- Há eventos teste previstos no Brasil? Existe alguma articulação a respeito?
Sim, a Abrape, uma das associações das quais a Opus Entretenimento faz parte, está participando da organização de eventos-teste em Santa Catarina (5 eventos) e em São Paulo (11 eventos). Outros Estados estão começando a se movimentar neste sentido. Um ponto que é importante que todos entendam é que não existe somente um formato de evento. E se um segmento do mercado está abrindo, em formato semelhante, porque os eventos não poderiam voltar, dentro dos mesmos protocolos e segurança sanitária? Foi muito difícil fazer os governos entenderem isso.
- Que lugares vocês estão vendo como os mais adiantados nessas retomadas? Onde eles acertaram?
Além da Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos já descritos nas questões anteriores, Israel está retomando sem restrições agora e sem que seja necessário mais mostrar o passaporte da imunidade. O Covid19 foi uma doença que o mundo teve que lidar, quase ao mesmo tempo, e cada um assumiu diferentes medidas sanitárias e estratégicas considerando também condições geográficas, tamanho, recurso financeiro.
- A Abrape fez um trabalho forte junto ao congresso para a aprovação do Perse. De que forma ele pode ajudar na retomada?
Em articulação com os governos municipais, estaduais e federal, através de associações, como foi feito com a Abrape e o Perse, é possível criação de medidas que auxiliem o segmento. Os desafios são grandes: redução de impostos, crédito às empresas, manutenção da enorme força de trabalho, auxílio em relação à transferência e cancelamentos de espetáculos. Além desses itens, a Abrape montou protocolos de eventos, discutiu diretamente com diversos governos sobre a retomada; montou uma pesquisa do consumidor com a Provokers e Ambev para entender como estava a cabeça do nosso público durante toda pandemia e qual a disposição dele de voltar a consumir eventos presenciais; construiu uma plataforma chamada Radar Abrape, que nos atualiza com informações de aberturas e fechamentos de cidades, países, além de monitoramento de vacinação no Brasil.
- De um ponto de vista como empresário, o Sr. Tem notícias de como os produtores de evento se articularam em outros países para conseguir passar por esse momento? Tem notícia de soluções que poderiam ter sido feitas aqui? E o que foi feito aqui que o Sr. Viu que não foi tentado fora?
Os eventos-teste realizados fora do país serviram de modelo para implantá-los no Brasil. Nos Estados Unidos, como o governo impediu os eventos de acontecerem, alguns produtores receberam recurso direto do governo, a partir do prejuízo que tiveram. No Brasil, mesmo que o governo libere recurso para o setor, este vai para um banco, que só libera se o produtor passar por uma série de critérios que, em função da própria pandemia, muitas vezes, ele não consegue cumprir. O Perse, da forma completa como foi pensado, foi algo realizado aqui e que poderia ser utilizado como referência também fora do país.
- Algo mais que gostaria de comentar?
Como falamos muito na pandemia, gostaria de reforçar que embora o momento atual tenha sido muito difícil a Opus se reinventou. Nos tornamos produtores de conteúdo, uma empresa digital, trabalhamos em homeoffice e fizemos o possível para manter o nosso quadro de funcionários. Tivemos reduções, é claro, mas a nossa ousadia nos permitiu inovar no meio do caos. Aproveitamos as oportunidades com intensidade e em breve contaremos novidades que infelizmente ainda não posso compartilhar, mas que demonstram o quanto acreditamos no nosso negócio.
Também acredito que na pandemia o mercado de eventos se uniu e teve a oportunidade de se organizar e rever o cenário de forma geral. Estratégia setorial e aliança organizacional associadas a entidades que envolvem empresas de agências de artistas, promotores, locais, circo, dança, venda de ingressos, turismo, teatro, parque temático, espetáculos podemos dizer que foi a parte boa. Aprovar uma lei para o setor em poucos meses mostra que, apesar de todos os problemas, temos força. Afinal geramos muito resultado para o Brasil (em um ano sem pandemia)
R$ 314,2 bilhões de faturamento (4,5% do PIB)
R$ 640.246 empresas, em toda a cadeia de serviços (8,1% do total)
R$ 6.400.000 empregos diretos, terceirizados e MEI’S
R$ 76 bilhões em massa salarial (4,3% do total)
R$ 51,4 bilhões em impostos federais (2,8% do total)
R$ 590 mil eventos realizados
R$ 203 milhões de participantes nos eventos
Fonte: Ministério da Economia - RAIS e Receita Federal; Portal do Empreendedor; IBGE; Elaboração e estimativas – ABRAPE. 2019