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A graxa reage II: #queremos trabalhar

17/08/2020 - 16:21h
Atualizado em 01/10/2020 - 16:56h


Reportagem: Miguel Sá / Fotos: Divulgação / Nelson Cardoso

 

No dia 02 de agosto aconteceu, em São Paulo, a Passeata com Cases. O ato acabou tirando a “graxa”, como são chamados os profissionais do backstage, da imobilidade perplexa causada pelo baque da pandemia. No dia 16 de agosto foi a vez do Rio de Janeiro: mais de trinta categorias ligadas a eventos se reuniram na orla de Copacabana para se fazer ouvir.

 

Um dos organizadores, o produtor e empresário Beto William, da Focus, foi veemente sobre a necessidade de o segmento de eventos marcar sua posição. “Quando vi o movimento dos cases em são Paulo, surgiu uma indignação: continuamos parados depois de cinco meses e tem ações sendo feitas equivocadamente. Por exemplo, os bares estão sendo liberados e está aglomerando mais do que o esperado. Então a solução é voltar (os eventos) com todas as recomendações de máscara, álcool gel, limpeza, mas tem que voltar a pulverizar o público. Não adianta liberar os bares da avenida Bras de Pina, por exemplo, que é um polo gastronômico, e lá virar uma grande boate. Se liberar as boates e as casas de show, volta o público normal que frequentava esses lugares e não aglomera como está aglomerando. O tiro está saindo pela culatra”, afirma.

 

 

Ainda que esteja havendo ajuda aos profissionais, com iniciativas de distribuição de cestas básicas, e alguns profissionais consigam o auxílio do governo, Beto ressalta que isto é insuficiente. “Cesta básica não paga conta, não paga luz, não paga água, aluguel... Uma cesta básica com arroz, feijão, farinha e óleo....  Como ele fala para o filho que não tem o dinheiro para comprar um biscoito? E o que está acontecendo é isso. Tem uma ajuda do governo que, tudo bem, é um dinheiro, mas o povo quer trabalhar. Quer voltar a viver daquilo que escolheu viver. Então você vê as pessoas voltando à sua vida normal, a praia lotada de gente... Isso não deixa de ser aglomeração. Como você pode não entender que quatro milhões de pessoas vivem de entretenimento e estão passando por essa situação?”, aponta o produtor.

 

 

O radialista e apresentador de eventos Fernando Oliveira, também organizador do ato, destaca que a volta dos eventos tem que ser com responsabilidade, e cita exemplos de fora do Brasil para mostrar que isto é possível. “Já percebemos que na Inglaterra já teve o primeiro show sem aglomeração, com separação. As academias também estão voltando com todas as medidas. O que nós queremos são medidas organizadas para voltar a trabalhar. Nem que seja com 50% da capacidade. O que não pode é as famílias ficarem no zero, com fome. A cultura e o entretenimento sempre ficam em último lugar nesses casos. Porém, nunca se precisou tanto da cultura como agora na pandemia. As pessoas estão consumindo lives, estudando, livros, então por que ainda não estão consumindo teatros e cinemas com espaço de cadeiras livres e máscara? A orla está aí lotada e o entretenimento e cultura ficam por último. Estamos aí para dar esse grito”, diz Fernando.

 

 

Francisco Ribeiro, o Chicão, iluminador que trabalha com Humberto Gessinger, também chama a atenção para possibilidades de reabertura de eventos. “Estão faltando regras. Criar umas regras e um evento teste para todo mundo ver como vai ser, e conscientizar o pessoal todo, com cada um se cuidando, e vamos conseguir sair dessa até o final do ano, se Deus quiser”, diz.

 

O empresário Vicente Vitale, da Novalite Iluminação, reforça o grito. “Estamos querendo mostrar aqui a quantidade de categorias envolvidas em um evento. Não é só artista e músico. Aqui tem garçom, produtores, seguranças, paramédicos... São mais de 30 categorias paradas. Estamos em um blecaute total. Por que pode ter 80 pessoas dentro de um BRT e não pode ter um evento?”, pondera. Vicente ainda conseguiu acesso às linhas de crédito para manter o pagamento de salários e outras despesas básicas da empresa, mas aponta o caráter de urgência da volta dos eventos. “A ajuda do governo serviu para pagar salário, mas já são quatro meses parados. Por isso chegamos aqui agora. Conseguimos não demitir ninguém e manter a nossa equipe, mas chega um momento que fica muito difícil. Você vê um mote de gente necessitada”, diz.

 

 

Mauricio Mattos, produtor de agência artística, reforça o coro por critérios claros de reabertura dos eventos. “Os shows pararam e nem eventos corporativos conseguimos fazer, então toda a nossa classe e mão de obra que envolve o showbusiness está parada. Queremos um retorno com responsabilidade, então estamos pleiteando um protocolo de segurança sanitária para podermos trabalhar. O que pedimos é uma orientação”, coloca. Vicente reforça: “Eles simplesmente proíbem”.

 


Da esquerda para a direita: Maurício Mattos, Vicente Vitale, Chicão e Marlon Ribeiro (iluminador)

 

 

A passeata

Com a concentração marcada para as nove horas em frente ao Othon Palace Hotel, na orla de Copacabana, o ato começou às 10 horas em ponto. Em clima de paz e confraternização, com familiares e filhos dos profissionais presentes, o ato chamou atenção dos passantes, que a todo momento pediam informações sobre o que estava acontecendo, mostrando concordância com os pleitos do movimento.

 

 

 

Entre os participantes era possível achar artistas de circo, garçons, seguranças, paramédicos, técnicos, empresários e carregadores de empresas de produção e iluminação. Chamou atenção a ausência das empresas de áudio, representadas apenas por Daniel Melo, da Som e Cia e Cláudio Ribeiro da Kiva Eventos.

 

 

No decorrer do trajeto, que seguiu a orla, foram cantadas palavras de ordem chamando a volta ao trabalho. No encerramento, foi feito um minuto de silêncio pelas vidas perdidas durante a pandemia da covid-19.

 

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