Vinte anos podem representar tempo suficiente para diversas transformações. Na Iluminação Cênica, representou a transição das luminárias convencionais – predominantemente produzidas com lâmpadas halógenas – para o uso dos LEDs (Light Emitting Diode) como fonte de iluminação artificial. Isso proporcionou avanços significativos em projetos energeticamente mais eficientes, novas possibilidades e configurações, além de outros aspectos, nos âmbitos técnicos, conceituais e financeiros.
Foi com praticamente esse mesmo intervalo de tempo que a banda americana Bon Jovi realizou sua última apresentação na capital paranaense. E no mesmo lugar, há 24 anos: a Pedreira Paulo Leminski. Em 29 de outubro de 1995, como parte da turnê “These Days”, seria realizado o primeiro show da banda na capital paranaense e último de uma série de três que aconteceriam no Brasil naquele ano (no dia 27 no Rio de Janeiro e no dia seguinte em São Paulo).
Figura 1: Show da banda americana Bon Jovi em Curitiba (27/09/2019) (Pedreira Paulo Leminski). Fonte: Caroline Hecke.
Nesse intervalo de praticamente duas décadas e meia, muitas mudanças ocorreram: o local do show, as tecnologias de comunicação e interação e também na banda. Não somente pela saída de um dos fundadores (o guitarrista e compositor Richie Sambora) mas pela sonoridade e proposta musical, passando do Hard Rock de Arena para canções em formato Pop, mesmo que ainda tenha elementos do Rock’n’Roll.
Para a última turnê recém encerrada (no dia 2 de outubro em Lima, capital do Peru), This House is Not For Sale Tour iniciada em 08 de fevereiro de 2017, foram 95 shows, com duas passagens no Brasil – em setembro de 2017 para três apresentações (Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo) e quatro em setembro de 2019 (Recife, São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro). Na capital paranaense, a abertura foi com a banda também americana Goo Goo Dolls.
Figura 2: Show da banda americana Bon Jovi em Curitiba (27/09/2019) (Pedreira Paulo Leminski). Fonte: Caroline Hecke.
A formação atual da banda Bon Jovi, além de Jon Bon Jovi, Tico Torres e David Bryan que estão juntos desde o início, completa-se pelas contribuições de Hugh McDonald no baixo e backing vocals e de Philip Eric Xenidis, exímio e carismático músico conhecido como Phil X nas guitarras base e solo, além de talking box e backing vocals. Somam-se à banda ainda os músicos John Shanks (guitarra e backing vocals) e Everett Bradley (percussão e backing vocals).
Esta turnê foi projetada originalmente para ginásios e arenas poliesportivas, com as estruturas de iluminação inicialmente idealizadas de maneira a utilizar todo o espaço cênico, restrito e destacado, inclusive com o apoio do plano horizontal superior com elementos suspensos. A partir de dezembro de 2018, houve uma alteração estrutural e também conceitual para estádios e outros espaços e estrutura – como festivais - sem modificação na essência da turnê: muito dinamismo, diversos elementos e princípios do Design e uma homenagem ao Rock'n Roll.
Figura 3: Show da banda americana Bon Jovi em Curitiba (27/09/2019) (Pedreira Paulo Leminski). Fonte: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
O projeto da turnê tem a assinatura do Designer de Produção e Iluminação Doug "Spike" Brant, atualmente proprietário da Nimblist. No currículo, projetos para turnês e shows de Beastie Boys, Beck, Mary J. Blige, Beyoncé e Pearl Jam, entre outros artistas e produções para eventos e TV. A ideia central também se manteve: a construção de uma ambientação que contemplasse a trajetória da banda nas últimas três décadas.
Em Curitiba, o palco na Pedreira Paulo Leminski foi estruturado com passarelas que se estendiam pelas laterais e frente, trazia luminárias como elementos dinâmicos e envolventes, vídeos e animações, sequências automatizadas e muita intensidade. Para cada canção, Jon Bon Jovi estava acompanhado da banda, do público e de dezenas de refletores PAR LEDs, que respondiam com sincronismo ao desempenho de cada canção e às reações da plateia, emocionada e empolgada.
Figura 4: Show da banda americana Bon Jovi em Curitiba (27/09/2019) (Pedreira Paulo Leminski). Fonte: Stereo Pop/Felipe Almeida.
O show poderia ser analisado sob dois enfoques: visual e musical. Como produto e espetáculo visual, há um cuidado para que haja um show marcante, repleto de nuances e estímulos, cuja iluminação propicia momentos de diversão pura e despretensiosa, e em outros instantes, atenção e ênfase focal nos detalhes, valorizando expressões e interações. A banda, mesmo estática na maior parte do tempo, tinha nas luminárias o movimento combinado para o enaltecimento dos contrastes – conceituais e propositais – e dos ritmos em velocidades e condições distintas.
O repertório contou com vinte e uma canções músicas, com hits tais como Bad Medicine, You Give Love a Bad Name, Keep the Fai", Lay Your Hands On Me, Wanted Dead or Alive, It's My Life e Have a Nice Day. Para Curitiba, as diferenças foram relacionadas à inclusão de Captain Crash and the Beauty Queen From Mars e I'll Be There For You. Ainda do último álbum, This House Is Not For Sale, Knockout, Roller Coaster, além de We Don't Run, Amen e We Weren't Born To Follow. Para fechar, Livin' On A Prayer, cantada em uníssono, e fechando um show memorável.
Evidenciou-se o comprometimento e entrega da banda – que no fim de uma turnê de praticamente dois anos, com poucas pausas - proporcionou um espetáculo musical admirável e satisfatório para todos os participantes. Bon Jovi consegue ser uma banda que se mantém relevante e interessante, empenhada em agradar e atender às expectativas, cujo retorno a Curitiba colocou a banda a um patamar de reverência similar aos outros grandes espetáculos registrados e eternizados nas últimas décadas, principalmente para o público, formado por apreciadores e pelos mais fervorosos fãs.