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REPORTAGENS / Colunas

Sonhos e música na Serra da Cantareira

26/01/2025 - 22:47h
Atualizado em 26/01/2025 - 23:06h

 

À NOSSA AMIZADE!

 

Sonhos e música na Serra da Cantareira, por Luiz Carlos Sá

 

Acordei devagar. Abri a janela pra dar de cara mais uma vez com o vento do começo de tarde agitando a copa das árvores. Queria saber o nome de cada uma delas,  companheiras de viagem musical na serra da Cantareira, Mairiporã, onde quase perdi a conta do tempo, embalado por músicas, gravações e amizade. Os dias aqui têm sua própria medida.

 

 

Lavar o rosto, escovar os dentes, essa é a rotina habitual. Mas hoje é véspera da partida, então já sigo ajeitando minha mala, aos poucos. Aos poucos, sim, porque não me será fácil deixar esta casa, este lugar, esta mata, que foram meu lar musical por doze dias. Em se tratando de um “lar musical” , doze dias podem valer por muito mais.

 

 

A Indomável Produções, comandada por minha eficientíssima amiga Paula Cunha, alugou esta casa especialmente para que eu e meu parceiro Gabriel Sater -“vigiados” de perto por nosso produtor, arranjador, violonista e também parceiro em várias composições, João Gaspar - pudéssemos dar a partida no sonho de gravarmos esse álbum juntos, com uma seleção de dez das trinta e poucas músicas que compusemos em mais de uma década de parceria.

 

 

 

Gabriel chegou até mim através de Paulo Ribeiro e Pedrão Baldanza.

 

 

Um belo dia, do nada, Pedrão, meu parceiro, amigo e companheiro de inúmeras viagens que foi-se precocemente para a banda do Céu, chegou pra mim e falou:

- Meu amigo Paulo Ribeiro me apresentou umas músicas do Gabriel Sater, filho do Almir. Você devia ouvir e conhecer o cara, acho que tem tudo a ver contigo.

 

 

A observação musical do experiente Pedrão não deu erro: a liga mostrou-se forte desde a primeira parceria, “Boca do Mato”. Gabriel mandava as músicas e as letras me pareciam já estarem prontas, tão fácil era fazê-las, visto que – apesar do que poderia parecer a priori uma distância imensa de formação e tendências  - as melodias me evocavam pessoas e lugares presentes desde sempre em minha vida. Muitas delas me pareciam mesmo terem sido feitas por mim. Uma liga que só senti com Rodrix e Guarabyra voltava a estar presente nessas composições.

 

 

E viemos em frente, através dos anos, ou por raros momentos presenciais ou por muitas horas online à frente dos respectivos laptops. Passamos pela pandemia, ele no seu Pantanal de origem, eu no meu Portugal de exílio pandêmico. Aportamos em novelas, desde a música Cabelos de Fogo para Pedacinho de Chão até  Noite de Tempestade, que tocou no remake de Pantanal. E de repente, numa noite em que eu me hospedava com Gabriel e Paula, fui levado à casa de Almir Sater. Não deu outra... parceria com pai e filho em Voa Vagalume e a primeira entre eu e Almir, Eu Sou Mais do Que Sou.

 

 

Mas enfim, hoje é o primeiro dos últimos dias dessa viagem que vai se prolongar até 2026. Ontem terminamos a parte de estúdio externo que gravamos no estúdio de Marco Bavini, na Vila Albertina, bem ao pé da Cantareira, recebidos com carinho por Bavini e Alê, tutores também de uma dupla de carinhosos caramelos que nos recepcionavam nas tardes de gravação, a bordo de uma fabulosa mesa DDA analógica, onde eu venci uma incipiente gripe através deum micro Neumann com prés da Universal Audio  e me transformei num Pavarotti prèt-à-porter. Essas nossas sessões no Bavini Studio eram completadas por incursões à padaria Florestal, onde devorávamos vários pães na chapa com parmesão e saída de requeijão. Que é isso? Ah, vocês vão ter que ir lá e provar...

 

 

Saio do quarto para uma sala já plena de amigos: sim, é a despedida, e um churrasco mezzo pantaneiro, mezzo paulistano, pilotado pelo Celso, BomDrasto de Gabriel, deixa seu aroma no ar. Zuca, já xodó de todos, lambe nossas pernas, pula no sofá e jura que cachorro também é gente, mostrando educação ao não se deixar fascinar pela linguiça de Maracaju. Os veganos também terão seu lugar na salada preparada por Selene, mãe de Gabriel, assessorada por Bellinha, figura de frente da Indomável e suporte diário da nossa estadia, fielmente acompanhada por seu Tatá. Dentistas que são, os dois precisam ficar atentos às aventuras de nossos maxilares por esse interminável banquete que vai até a noite esfriar, mostrando as primeiras nebulosas da névoa Cantareira. Completam o grupo o baixista Alex Mesquita e o baterista Paulinho Vicente, nossa “cozinha” (assim é chamado o duo baixo/bateria que sustenta o ritmo de toda banda que se preza) dos sonhos. Como bons “cozinheiros” são também bons pratos!

 

 

Nenhuma despedida seria mais digna.

 

 

Que horas fui dormir? Não sei, mas era muito tarde, o quintal da casa tomado pela névoa, o silêncio profundo da mata amainado pelos grilos, pelo voo dos pássaros noturnos, pelas criaturas da noite, enfim. Todos foram embora, só ficaram Bellinha e Tatá, que me deixarão amanhã em Guarulhos, onde um avião vai me levar de volta à vida normal, matando saudades da família mas encarando outra, a saudade dos amigos, dos parceiros, da Serra...

 

 

Obrigado Gabriel, João Gaspar( Gasparzinho, o violonista camarada!), Indomável Produções, Bavini, Alê, Bellinha, Paula, Tatá, Selene, Celso, Alex, Paulinho... como é bom rever amigos e fazer novos, dormindo e acordando na névoa da Cantareira. Em 2025 continuaremos a sonhar e realizar esse álbum, que já começou a bordo dessa vibrações incríveis de amizade, união, vontade e música.

 

 

 

 

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