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REPORTAGENS / Colunas

Som nas Igrejas - Matrizes de Canais

07/02/2025 - 01:30h
Atualizado em 07/02/2025 - 01:30h

 

Já estamos considerando os patches desde a coluna anterior à última. Na coluna passada , pensamos neles, mas também vimos o áudio em rede , onde eles são essenciais para as conexões entre a console e o restante dos componentes no sistema de som e os de outros sistemas , como vídeo, etc. Agora vamos ver exemplos práticos de soft patch nas Matrizes de Canais.

 

 

São as Matrizes que nos permitem fazer os soft patches dentro da console. Como existe um grande número de fabricantes de consoles e cada um tem seus modelos diferentes, vou me limitar a comentar a funcionalidade básica para quem não conhece as matrizes ou deseja saber mais sobre elas. Espero também estimular ideias com aplicações práticas que ilustram o valor de ter esse recurso na nossa caixa de ferramentas para resolver problemas no trabalho com o som ao vivo. Apenas como curiosidade, o termo “Matriz” vem da matemática , onde existem aplicações numéricas entre colunas e linhas, mas não irei lhe entediar com isso. No áudio, vemos as matrizes usadas em três contextos, que chamarei de Matrizes de Canais, Matrizes de Bus (vários mix), e Matrizes de Saída.

 

 

No caso da Matriz de Canais, teremos uma grade em que as entradas estão relacionadas na vertical e os canais na horizontal. Para direcionar uma entrada para um canal, encontramos o canal em que queremos ter o sinal na lista horizontal e seguimos por essa linha da grade procurando pela linha vertical até chegar na linha horizontal da entrada que queremos enviar naquele canal. Na ilustração abaixo, vemos as entradas e saídas conectadas linearmente , à disposição padrão em que as consoles tipicamente vêm. Em nossa penúltima coluna, eu dei o exemplo de como usar esse recurso nas consoles para aproximar canais acrescentados de última hora, para poderem ficar agrupados com os de entradas do mesmo tipo.

 

 

 

 

Mas agora, vamos supor que o seu líder vocal precisa da voz dele extremamente alta nos seus fones in-ear, a ponto de gerarem uma microfonia aguda quando ele olha para os lados. Nosso primeiro passo seria pedir que ele baixe o volume nos fones. Se essa opção não resolver, talvez a reação natural fosse cortar a frequência de agudos que realimenta. Mas, a maioria das consoles que usamos em igrejas não oferece equalização independente por canal nos auxiliares. Por isso , quando cortamos essas frequências agudas, para resolver a realimentação no retorno por fones, pode ser que acabe faltando clareza no PA. E é aqui que a ferramenta de soft patch na Matriz de Canais vem ao nosso auxílio. Digamos que o microfone do seu líder vocal esteja entrando no canal 11 e que o canal 14 esteja livre. Vamos até a linha horizontal que nasce na entrada 11 e a seguimos até onde ela cruza com a linha vertical que desce do canal 14, e criamos uma conexão nesse cruzamento , como se vê no lado direito da ilustração abaixo. Agora, a voz do líder que chega na entrada 11 está tanto no canal 11 quanto no canal 14 , que não precisamos usar na mix do PA.

 

 

 

 

Aliás , vale a pena até desendereçar esse canal do Bus da Mix L&R. Então, vamos até o auxiliar que faz o retorno do líder para verificar a posição do fader do canal 11 , e com o canal 14 mutado (para não somar esse nível no retorno com o que já estamos enviando pelo canal 11), posicionamos o fader do canal 14 no mesmo nível. Nesse momento, se ainda nos lembramos da frequência que cortamos para matar a realimentação, já podemos ir para a equalização do canal 14 e cortar essa frequência. Se não lembramos, podemos correr atrás de cortá-la quando ela voltar a acontecer nesse canal 14. Agora é só mutar o canal 11 , desmutando o 14 no mesmo instante. Assim, graças ao soft patch, temos o canal 14 exclusivamente para uso no retorno do líder vocal e os ajustes que fizermos para resolver a realimentação nos fones não afetarão a voz dele na mix do PA.

 

 

Como costumo ensinar nos meus workshops, os momentos de maior potencial de problemas, que prejudicam a qualidade do som ao vivo, estão nas transições. É como na aviação : enquanto um avião está voando em altitude de cruzeiro ou no solo, o potencial de problemas é bem reduzido. Tanto é que os pilotos ativam o piloto automático durante o voo. E enquanto a banda conduz a congregação no período de louvor , ou enquanto o pastor está trazendo a palavra, se o sistema foi bem ajustado e conseguimos passar o som com tempo adequado, também temos um potencial reduzido de dificuldades. Então, agora, vamos para outra aplicação prática de soft patch em Matriz de Canais que pode aliviar um estresse quando o pastor está terminando a palavra e um único músico sobe para tocar de fundo, enquanto o resto da banda não se junta a ele para um período de louvor final.

 

 

Se a console tiver subgrupos e VCAs (ou DCAs), recomendados para facilitar muito o controle dos níveis do som da banda, é provável que estes estejam mutados ou zerados durante a pregação. Aí, se abrirmos o subgrupo quando o tecladista sobe, podem aparecer ruídos como os de guitarras ou baixo (porque o músico não está com a mão nas cordas e não mutou o pedal), ou o chiado que resulta do fader de todos esses instrumentos estar em 0 dB ou na região em que a mix ficou perfeita antes da pregação. Também podem vir ruídos dos microfones abertos da bateria se não aplicamos um gate em cada um. Seria o caso de mutar cada um desses canais, individualmente? Pode se fazer isso, mas se a banda voltar e entrar tocando rapidamente, pode não dar tempo de desmutar um por um e aí vai ser preciso baixar o fader antes de desmutar , perdendo a posição exata em que o canal estava perfeitamente encaixado na mix.

 

 

E tem ainda outra questão. Se desendereçarmos o teclado para endereçá-lo direto no Bus da Mix L&R , ainda vai ser preciso ajustar o nível dele , que ficará alto demais para esse momento de som de fundo para o pastor. E aí, quando é que vamos endereçá-lo de volta com o resto da banda enquanto estão todos tocando , precisando achar o nível em que fica bom porque o fader dele não está mais na posição em que estava quando encaixado na mix? Além disso, para o momento de som de fundo, o tecladista pode selecionar um timbre de cordas ou um pad muito mais suave que o do Rhodes que usou no louvor. Se você ajustar tudo para esse momento, vai conseguir correr atrás de voltar tudo para onde estava quando a banda subir?

 

 

Todos têm as suas rotinas e técnicas de mixar, mas para resolver essa questão, vou dar uma dica que pode simplificar bastante na hora dessa transição.

 

 

Vamos supor que as saídas do nosso tecladista estejam entrando nos canais 9 e 10, ok? Também vamos supor que, como é frequentemente o caso, não tenhamos dois canais livres, apenas o 15, porque já usamos o 14 para o retorno do vocalista. Então, assim como fizemos para resolver a realimentação dos fones do líder vocal, o que vamos fazer é o seguinte. Seguindo a linha horizontal da entrada do teclado no canal 9 (ou 10) , vamos até o canal 15 e criamos uma segunda cópia dele ali. Talvez você esteja pensando: “Ah , mas se não copiar o canal 10, vai chegar só um canal”. É verdade. Mas o nosso propósito agora é apenas dar um pouco de som de fundo para a voz do pastor. Nesse momento , não queremos que ninguém esteja atento a quaisquer efeitos estéreo e, sim, às palavras de conclusão da mensagem que o pastor está transmitindo. Então, um som monocanal baixinho não vai incomodar ninguém. E é claro que deixaremos o pan desse canal no centro ou próximo a ele.

 

 

Por outro lado, se você for abençoado por ter também o canal 16 livre, use-o! Então vamos fazer essa cópia estéreo nos canais 15 e 16. Lembrando que , se quisermos criar um canal estéreo para economizar espaço na tela da console ou tablet , ou disponibilizar mais faders na página da superfície de trabalho da console , precisamos sempre começar o par estéreo em um canal ímpar. Por isso, iremos até a entrada 9 e seguiremos pela linha horizontal dela até o canal 15 , fazendo a conexão ali. Então, vamos até a entrada 10 e seguimos a linha horizontal dela até o canal 16 , fazendo a conexão ali. Pronto, agora vemos na ilustração abaixo as entradas originais do teclado nos canais 9 e 10 com cópias dele nos canais 15 e 16.

 

 

 

 

Feito isso, para não termos mais aquela correria para o teclado fazer som de fundo no final da palavra do pastor, deixamos os canais 15 e 16 endereçados diretamente na bus Mix L&R e podemos fazer todos os ajustes de nível e, talvez , equalização neles, sem nos preocuparmos. Quando a banda voltar a tocar, os canais 9 e 10 estarão iguaizinhos a como estavam e inseridos no subgrupo e/ou VCA do louvor , como estavam quando terminou de tocar na música anterior. Assim, enquanto o pastor fala, podemos deixar o subgrupo dos instrumentos mutado ou o VCA do grupo de louvor zerado e só abrir na hora que a banda toda for tocar em nível de louvor congregacional. E é claro que, se a banda toda for tocar como fundo para a voz do pastor, aí , sim, abrimos o subgrupo dos instrumentos e baixamos o conjunto todo dos instrumentos para adequar o seu nível. Só que , por estar a banda toda tocando , não teremos ruídos gerados por instrumentos sem os seus instrumentistas.

 

 

Algumas observações finais sobre esse esquema. Inclusive, essa primeira também vale para a cópia do líder vocal que fizemos antes. Quando estiver na passagem de som, não se esqueça de ajustar o ganho desses canais “cópia” que não entram na mix do PA. Existe uma tendência de não lembrar deles , por estarmos focados em criar a mix para a congregação. Aliás, como a cópia do teclado vai acabar ficando por volta de -15 a -20 dB com o nível do teclado no louvor em torno de 0 dB, às vezes eu até o deixo desmutado por estar tão fraco que não chega a influenciar a mix do louvor.

 

 

E uma última observação importante é que na hora de montar ou desmontar os instrumentos, é preciso lembrar de mutar essa cópia. Tipicamente , a gente muta o subgrupo dos instrumentos ou baixa o VCA do louvor, mas é preciso lembrar que essa cópia vai direto para a master. É claro que, por estar em talvez -20 dB, o estalo não será tão forte quanto se estivesse em 0 dB, mas ainda assim, para quê pôr em risco os drivers do PA ou fones, não é verdade?

 

 

Espero que esses exemplos práticos tenham facilitado a compreensão da funcionalidade da Matriz de Canais para soft patches. Em nossa próxima oportunidade, veremos Matrizes de Bus. Até lá, boas mixagens!

 

 

 

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