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REPORTAGENS / Colunas

Simplesmente, Mágico: Rick Wakeman em Curitiba

26/06/2024 - 18:30h
Atualizado em 26/06/2024 - 18:33h


Aspecto da “Final Solo Tour 2024” do músico inglês Rick Wakeman (Teatro Ópera de Arame, Curitiba) (15/04/2024). Fonte: Cezar Galhart


 

 

Tal qual a música, a iluminação cênica se apresenta no palco como composição, principalmente visual, dotada de sensibilidade, técnica e combinações harmônicas. Se na música as notas se harmonizam ou se chocam, na iluminação são as cores que proporcionam sensações similares. E assim como a música, a iluminação também contempla princípios como ritmo e sincronismo. Nos shows, no entanto, a justaposição entre as notas musicais nem sempre deve ser sincronizada com as luzes. Diferente disso, a iluminação pode gentilmente ceder seu protagonismo para as melodias e divisões rítmicas musicais. Nesta conversa, essa fusão entre música e luzes será analisada a partir do recital – de fato, um show da turnê de despedida – de Rick Wakeman, no Teatro Ópera de Arame em Curitiba, combinando virtuosismo com minimalismo, simplicidade com magia.

 

 

Historicamente, o Rock Progressivo, originado na década de 1960, tem sido um gênero ou estilo associado ao Rock’n’Roll, mas que se destaca pela incursão de elementos de outros estilos – como o Jazz e o Folk – mas, principalmente, da música intitulada erudita, influenciada pela música de concerto, regida pelos princípios da Fuga ou mesmo da Opereta, entre muitas abordagens que buscam qualificar ou classificar a produção sonora associada aos artistas desse movimento, desde os anos de 1970.

 

 

Também no âmbito da História, o Rock Progressivo proporcionou diversas contribuições. No campo da iluminação cênica, as técnicas precursoras e inovadoras de Michael Tait, que desde 1969, por acompanhar uma das mais importantes bandas do Rock Progressivo (a banda inglesa Yes), revolucionou a relação luz-palco e no fim da década de 1970, ao fundar a Tait Towers, estipulou um outro patamar de projetos e estruturas dos espetáculos. A mais destacada contribuição, no entanto, sempre estará associada ao desenvolvimento musical virtuoso de bandas das mais sui generis, como King Crimson, Van der Graaf Generator, Gentle Giant, ou ao mais emblemático quarteto, formado por Pink Floyd (nos momentos em que são classificados como progressivos), Rush (na fase progressiva), e principalmente as bandas inglesas Genesis e Yes.

 

 

Dessa última, ainda na ativa e com diversas formações desde o surgimento em 1968, dezenas de músicos se destacaram ou ainda se evidenciam, pela participação única e memorável em um único álbum (como exemplo, o tecladista suíço Patrick Moraz que apenas participou do fenomenal álbum Relayer, de 1974), como outros músicos que integram o Panteão imaginário de artistas que influenciaram e influenciam gerações de músicos. E, nesse seleto e devoto grupo, ressalta-se a imponente presença e participação de Rick Wakeman.

 

 

Richard "Rick" Christopher Wakeman, nascido em Londres (Inglaterra) no ano de 1948, tem formação como pianista clássico treinado, formação esta que se iniciou aos sete anos sob a condução da renomada pianista e professora Dorothy Symes, com quem teve aulas por onze anos, chegando a trabalhar como músico eventual até ingressar na prestigiada e exigente escola Royal College of Music.

 

 

Foi após a matrícula nessa conceituada instituição que Wakeman passou a ser contratado para trabalhar com artistas como Ike & Tina Turner, Elton John, Cat Stevens e principalmente David Bowie, com quem trabalhou a partir de 1969 (participou dos álbuns Space Oddity, de 1969, e Hunky Dory, em 1971). Também, ingressou em uma banda chamada The Strawbs, que era produzida pelo versátil músico e produtor Tony Visconti, condição pela qual essa banda foi convidada para a abertura do show de outra banda em franca ascensão no cenário progressivo europeu: Yes.

 

 

Foi em 1971 que Wakeman recebeu o convite do magistral baixista Chris Squire, por telefone, para integrar a banda Yes, com quem gravou três álbuns seminais em sequência: Fragile (1971), Close To The Edge (1972) e Tales from Topographic Oceans (1973), retornando para gravar Going for the One (1977), Tormato (1978) e, novamente, já na década de 1990 em Union (1991), Keys to Ascension (1996) e Keys to Ascension 2 (1997), além de várias compilações e álbuns ao vivo.

 


Rick Wakeman em sua “Final Solo Tour 2024” (Teatro Ópera de Arame, Curitiba) (15/04/2024). Fonte: Clóvis Roman/Acesso Music

 

 

Em sua quarta passagem pelo Brasil (as anteriores foram em 2001, 2012 e 2014), Rick Wakeman se apresentou no mês de abril de 2024 em quatro capitais (Porto Alegre, São Paulo, Brasília e Curitiba), com um show intimista, divertido e nostálgico, integrante daquela que tem sido promovida como a turnê de despedida dos palcos. Praticamente como um recital – por ser um concerto instrumental solo – Wakeman executou peças de alguns dos seus opulentos álbuns da década de 1970 – tendo ele uma extensa carreira, com 99 álbuns lançados desde 1970, entre gravações de estúdio e registros ao vivo, excluindo as participações em bandas e outros artistas - como também três medleys, homenageando David Bowie, The Beatles e a banda Yes.

 

 

Pontualmente no horário de 21h00min, Rick Wakeman surgiu no palco, ovacionado pela plateia que em pé aplaudiu esta entrada e o término de cada canção do espetáculo. Em um set de instrumentos formado por um Korg Nautilus com outro Korg Kronos 2 – ambos sintetizadores e workstation –, o “mago” iniciou a apresentação com Jane Seymour (primeira faixa do Lado B do segundo álbum The Six Wives of Henry VIII, de 1973) que, após uma breve e bem-humorada apresentação, com um pedido de desculpas pelo conhecimento de língua portuguesa limitado à lembrança dos nomes de dois dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos – Pelé e Rivelino -, Wakeman continuou com Catherine Howard, terceira canção do mesmo álbum.

 

 

Nessas canções, Wakeman apresentava melodias dinâmicas e complexas, envolto em um palco com luzes predominantemente vermelhas e uniformemente distribuídas, marcadas com Moving Lights projetando fachos com gobos – molde ou dispositivo que projeta padrões geométricos - meticulosamente escolhidos para texturizar a superfície do palco com pequenos círculos, com âmbares saturados, mesclados com luzes brancas para a mesma padronagem.

 

 


Aspecto da “Final Solo Tour 2024” do músico inglês Rick Wakeman (Teatro Ópera de Arame, Curitiba) (15/04/2024). Fonte: Cezar Galhart

 

 

Ótimo “storyteller”, Wakeman antecipou a primeira homenagem da noite, destacando a satisfação de trabalhar com alguns artistas (enquanto outros deveriam ser esquecidos), para manifestar o apreço e privilégio por gravar com David Bowie. Ao executar no piano de cauda a belíssima rendição do medley de Space Oddity/Life on Mars? (respectivamente do álbum homônimo de 1969 e a segunda de Hunky Dory, de 1971), Wakeman, em uma atmosfera sombria escarlate, mostrou uma mudança no formato e cor dos gobos, com círculos de verde claro a serem convertidos, e revelando duas grandes figuras em forma de flores, dançando suavemente.

 

 

A transição do piano para o sintetizador foi antecipada com uma breve contextualização. Para as canções apresentadas na sequência, Wakeman havia gravado com uma grande orquestra, coral e banda – naquela noite, somente ele. Sozinho, executou com exuberância uma compilação de canções do espetacular álbum The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Round Table, de 1975, com os temas ArthurGuinevereThe Last Battle e Merlin the Magician.

 

 

As luzes, azuladas e densas, passaram a tonalidades violetas, com as cores complementares âmbares, projetando figuras que se assemelhavam aos redemoinhos da obra Noite Estrelada de Vincent Van Gogh, belamente planificadas no espaço cênico. Importante destacar que os desenhos das luzes se mantinham estáticos quase que a totalidade do espetáculo, permitindo às melodias e aos ágeis dedos do concertista a dinâmica de movimento e intensidade.

 

 


Aspecto da “Final Solo Tour 2024” do músico inglês Rick Wakeman (Teatro Ópera de Arame, Curitiba) (15/04/2024). Fonte: Cezar Galhart

 

 

Novamente ao piano, um dos momentos mais esperados, com um arranjo único para o medley intitulado Yessonata, com trechos de Close To The EdgeAnd You and IHeart Of SunriseLong Distance RunaroundRoundabout, entre partes e passagens de diversas outras canções, gravadas principalmente na década de 1970, naqueles que são considerados os momentos mais marcantes de Wakeman com a banda inglesa Yes.

 

 

Para finalizar o repertório (antes do bis), mais um medley em homenagem ao “quarteto de Liverpool” - The Beatles -, com uma apresentação introdutória que justificaria a escolha das canções, enaltecendo a grandiosidade e humildade de um artista homenageado com a Excelentíssima Ordem do Império Britânico, pelas suas realizações proeminentes. Nesse momento, Help! (1965) e Eleanor Rigby (1966) foram executadas nos sintetizadores, com arranjos fidedignos aos originais, porém complementados com a marca de Wakeman – improvisos deslumbrantes e frenéticos.

 

 

No bis, e novamente ao piano, trechos daquela que é, provavelmente, a sua mais conhecida obra: Journey to the Centre of the Earth (1974). Desse imponente álbum, Wakeman executou – e da forma como as canções foram compostas, nas palavras do artista - o Lado A inteiro (no formato original em vinil), com The Journey/Recollection. Como um fechamento cíclico, as mesmas texturas visuais do início do espetáculo foram utilizadas, propiciando uma impressão de déjà-vu e uma reconfortante sensação de realização, pela oportunidade ímpar de presenciar um espetáculo empolgante e nostálgico.

 

 


Aspecto da “Final Solo Tour 2024” do músico inglês Rick Wakeman (Teatro Ópera de Arame, Curitiba) (15/04/2024). Fonte: Cezar Galhart

 

 

Como mencionado anteriormente, no fim de cada canção e, principalmente, no encerramento desse marcante e deslumbrante show, a plateia, em pé, aplaudia em reverência ao “mago”, que iluminado no centro do palco, despediu-se dos fãs, naquela que pode ter sido a última turnê – mas que nunca será esquecida pelos privilegiados espectadores que assistiram a um espetáculo visual esplêndido, sonoramente mágico e inesquecível.

 

 

Abraços e até a próxima conversa!

 

 

 

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