Anuncio topo
REPORTAGENS / Colunas

Os segredos do Urei LA3A

21/08/2024 - 17:02h
Atualizado em 21/08/2024 - 17:03h


 

Caro leitor.

Vou falar sobre um equipamento que se tornou um dos mais reconhecidos por todos do mercado fonográfico. Um pouco mais de meio século depois do seu lançamento o LA3A continua sendo um dos mais desejados compressores entre os profissionais do áudio. Em minha opinião, da metade dos anos 50s até o final dos anos 70s foi a era de ouro dos projetos de equipamentos analógicos para estúdios de gravação e broadcast.


 

 

No final dos anos 1960, o engenheiro Brad Plunkett projetou o LA3A quando ocupava o cargo de diretor da engenharia na UREI. O compacto compressor foi lançado em 1969. Ele foi posicionado como opção de menor custo em face ao consolidado LA2A. Mais leve e mais moderno. Totalmente transistorizado e construído ao redor da fotocélula T4, foi um grande sucesso imediato e produzido por mais de uma década.

 

Em 2004 a Universal Áudio começou os estudos para fazer um clone do original LA3A. A UA adquiriu algumas unidades do UREI LA3A e começou a fazer a engenharia reversa. Para eles já havia um bom caminho andado. Pois já fabricavam a reedição de LA2A que usava a mesma fotocélula T4. Só tiveram que mudar a “lata” para caber em um rack 2U.

 

Segundo artigos da UA, para fazer o clone eles conseguiram um bom lote de componentes obsoletos e investiram tempo e dinheiro para tentar recriar transformadores mais próximo o possível dos usados pela UREI. Foi um árduo trabalho de pesquisa que consumiu uma boa grana.

 

Finalmente saiu o primeiro protótipo. Checaram a curva de resposta com um analisador de áudio e fizeram o teste A/B com uma unidade original restaurada. Pronto! Partiram para a linha de montagem. Eles reeditaram com sucesso um clássico.

 

 

 

Alguns segredos:

Todo grande sucesso tem inovações. Não se conquista notoriedade fazendo igual como todos fazem. Há alguns segredos do sucesso do LA3A que estão na forma de conceber e fabricar o equipamento. Por esse motivo resolvi retomar meus estudos e análises sobre os clássicos equipamentos. Usei todo meu conhecimento e instrumental para chegar as conclusões seguintes, começando pelo transformador de entrada, que foram fabricados sob encomenda pela United Transformer Corporation (UTC).

 

 

Acredito que a UTC foi a mais importante empresa em desenvolvimento e manufatura de indutores daquela época. Quem tem o conhecimento um pouco mais aprimorado sobre transformadores, sabe o quanto é difícil projetar um. Especialmente para entrada de áudio. É necessário um enorme investimento financeiro e intelectual, sem comentar a experiencia que só os mais antigos e dedicados profissionais têm para resolver problemas complexos que não são ensinados na escola. São segredos muito bem guardados que passam além de cálculos complicados e detalhes sobre laminação, tipo e pureza do fio de cobre e a maneira como são dispostos os enrolamentos. Isso é o que eu costumo chamar de Black Magic.

 

 

O centro:

A Fotocélula T4 é o centro do funcionamento de LA3A. Consiste em um conjunto com três fotocélulas. Duas para atenuar o sinal de áudio e uma para controlar o VU em modo GR. As fotocélulas são resistores dependente de luz (LDR). A luz de controle é emitida por uma pequena placa fosforescente. A placa é um dispositivo metálico coberto de fosforo (P) em um involucro de plástico que emite luz fluorescente. A intensidade da luz depende da tenção (AC) e frequência entregue pelo amplificador que controla a placa.

 


 Á esquerda: original em restauração; À direita: reedição da UA vista por dentro

 

 

O segredo está na velocidade de resposta dos LDRs, pois a resposta da placa fosforescente é extremamente rápida. O tempo de attack é dado pelo atraso da célula(LDR) em sair de um valor ôhmico alto, maior que 10M ohms, para um valor médio, onde começa a zona de atenuação. A reação do LDR em conjunto com a curva de resposta do amplificador que comanda a placa fosforescente determina comportamento do “Knee” na atuação do compressor. Exatamente por isso ele tem um comportamento singular na atenuação.

 

 

 

 Amplificador de saída (Drive)

 

O estágio de saída traz também uns segredos. Embora pareça um típico classe AB, o qual a principal caraterística é baixa distorção e ótimo rendimento, o projetista foi além. A fim de garantir uma menor distorção do sinal, o drive conta com um arranjo que permite ajustar o Bias garantindo a polarização um pouco acima da tensão regular na base dos transistores de saída.

 

E finalmente o último dos segredos que encontrei: o uso de tensão DC em uma das bobinas do enrolamento primário do transformador de saída. Acredito que a ideia por trás disso seja gerar um campo magnético contrário e cancelar um possível ruido. O curioso e que não mais foi adotado em nenhum circuito desde então.

 

 

 

Curva de resposta de frequência e THD de uma unidade original UREI LA3A aferida em laboratório.

 

 

 

Considerações finais

O mercado está cheio de reproduções baratas do LA3a. Uma pior do que a outra. Outro dia me trouxeram uma dessas para eu examinar. O equipamento parecia bacana por fora. Nas informações dizia que era montado com transformadores tal... e a fotocélula era feita por uma pessoa/empresa nos EUA. blá blá blá... Pois bem. Coloquei o equipamento na bancada, liguei aos instrumentos e para surpresa do dono, e não minha, o equipamento tinha o timbre pobre e comportamento de compressão totalmente diferente do que se propunha. Depois de tudo que foi escrito nesse artigo, você caro leitor entende o porquê de ser tão difícil fazer uma reprodução honesta. O fato é que as reproduções feitas por aí a fora, na maioria das vezes, só serve para promover o autoengano ou decorar o home estúdio.

 

 

 

  • COMPARTILHE
voltar

COMENTÁRIOS

Nenhum cadastrado no momento

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Escreva sua opinião abaixo*