Observações sobre trabalhar com estúdios de Nashville
31/05/2024 - 15:27h
Atualizado em 31/05/2024 - 15:55h
Caro leitor.
Depois de um processo longo que envolveu muito trabalho, investimento e boa vontade. Finalmente estou dando início a um novo ciclo da minha carreira. Há alguns meses recebi minha autorização de trabalho para exercer a função de restaurador e projetista de equipamentos de áudio em solo norte americano. Para iniciar o novo ciclo, vou falar um pouco das particularidades desse que para mim é um novo mercado de trabalho. Então sigo com esse artigo bem diferente do habitual. Para começar deixo claro que o texto tem base nas minhas observações sobre minha área de trabalho, mas no geral vale para todos que fazem a indústria da música.
Dentro de um cenário profissional existem regras básicas. Iniciando, vamos distinguir o que é um estúdio para uso profissional / comercial e o que é um ‘Project Studio’ também conhecido como “Home Studio” . Um Home Studio aqui nos EUA, por definição, ou é um estúdio de uso privado, apenas para uso do artista (proprietário) desenvolver seus projetos, ou se refere ao estúdio caseiro. Normalmente fica instalado num quarto, usado por um estudante ou músico amador.
Portanto são usos bem diferentes.
Já os estúdios comerciais têm um funcionamento como qualquer outra empresa. Na verdade, a relação comercial dentro de um estúdio profissional é muito direta e transparente. Cada minuto conta. Sim, tempo é dinheiro. Não há distrações nem desperdício de tempo, tais como assuntos variados e uso de celular. Todos os dias os técnicos e assistentes chegam bem cedo e deixam o estúdio pronto para começar sessão. Tem hora para começar e hora para terminar. Passou disso, todos recebem um bom extra. Por isso a hora rende... Aliás, o correto posicionamento profissional faz parte da cultura local. Por exemplo: para exercer a função como restaurador de microfones, eu precisei provar minha habilidade por meio de documentação. A partir disso, venho tendo a oportunidade de atender os estúdios comerciais na área de Nashville.
O faça você mesmo (Do- It- Yourself ) está intimamente ligado a cultura norte americana. Todas as pessoas têm acesso a tudo e qualquer um pode comprar ferramentas, instrumentos e peças para tentar fazer ou reparar qualquer coisa: de cortador de grama até microfones. Basta pedir on line que em 2-3 dias chega na porta. Mas no meio profissional isso não se aplica. O dono do estúdio nunca vai chamar o “amigo” para dar uma olhada o ar-condicionado. Tampouco o engenheiro de áudio vai abrir um microfone ou um compressor para tentar consertar. O DIY só acontece quando você vai fazer pra você mesmo, assumindo todo o risco , e não há uma relação comercial.
Há especialistas que estão realmente preparados para exercerem as funções. São profissionais qualificados com certificação na área. Como disse antes, o dono do estúdio não vai chamar um “cara que mexe” com A/C. Ele vai chamar uma empresa, seja grande, média, pequena ou um técnico especializado, com certificado. Definitivamente não há espaço para os “caras que mexem”. Aqui não tem o “faz tudo”. Compreendo que geralmente por apertos financeiros ou mera curiosidade, as pessoas optam por tentar fazer coisas que não estão habituadas. Mas daí a vender isso como produto ou serviço já é diferente...
O respeito é outra regra comum numa relação comercial entre o contratante e contratado: não se admite perda de prazo ou de horário nessa relação. Tanto para fazer o trabalho como para pagar o trabalho. Contratempos podem acontecer, porém quando acontece, é sinal de respeito avisar à outra parte com alguma antecedência. Isso é uma atitude normal, nada especial. Mais um ponto importante dessa relação é o preço dos serviços: o mercado de uma forma geral sempre regulou os preços. A depender de oferta, demanda e qualidade, mais caro fica o serviço. Claro que também tem os com preços razoáveis e serviços medianos. Mas no mercado tão cheio de exigências, talvez a linha média não seja uma a melhor opção. Pelo que tenho visto por aqui, o critério principal para a escolha de um profissional não é o preço e sim a qualidade. Isso faz com que os bons procurem se tornar melhores.
Outro ponto positivo é que ninguém vai por um preço no seu trabalho ou dizer que está caro. Se você foi chamado é porque confiam e respeitam você. Se não aceitarem o orçamento, simplesmente vão te avisar. Apenas isso. Ainda no capítulo preço, o mercado de serviços especializados é muito coeso. Ele está aberto para novos players que chegam para expandir com novas ideias e soluções, mas não para aqueles que pensam que derrubar preços é uma boa estratégia. O que em médio / longo prazo arruinaria o mercado como um todo.
O senso de comunidade é essencial para manter esse mercado forte.
Na próxima edição voltarei com os assuntos costumeiros.
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