Ok já vimos Subgrupos, DCAs, Auxiliares Pré e Pós-Fader. Agora vamos pensar nos Bus, Buss, ou Busses, também chamados de Mix Bus... Esse termo do inglês, escrito com duas letras “s” (Buss) para diferenciá-lo da palavra “ônibus”, já foi mais usado no passado. Atualmente, a tendência é usar apenas um “s”, a menos que se vá usá-lo no plural, quando a gramática da língua inglesa requer dobrar a consoante final ficando “Busses”, no plural.
Podemos fazer a analogia de um Bus como uma rede de tubos em que um cano é alimentado por diversos outros canos mais finos. Cada um desses tubos afluentes tem um registro e quando abrimos o registro, permitimos que o seu conteúdo ganhe acesso ao cano de diâmetro maior. Assim, esse cano maior acaba conduzindo uma mistura (nossa mix) de conteúdos que liberamos ao abrir os registros na quantidade que desejamos.
Esse cano maior horizontal na ilustração acima é o que seria um Bus. Quando abrirmos um fader ou knob para enviar sinais a um destino, esses sinais trafegam por um Bus. Em nossa última oportunidade, vimos os auxiliares. Na mix que fazemos em um auxiliar (tanto pré quanto pós-fader) os sinais que enviamos de cada canal chegam à saída do auxiliar por meio de um Bus. É ele que coleta ou recebe os sinais, na intensidade em que abrimos o controle auxiliar em cada canal, e os conduz até a saída auxiliar. E então, antes do conector de saída, é comum os Busses terem um controle master para dosar o nível da mix envidada ao equipamento que a receberá. Se não enviarmos nenhum sinal para um auxiliar, o Bus desse auxiliar fica mudo sem sinal algum. Pode se verificar isso solando a master do auxiliar nos fones ou conectando um amplificador nessa saída em que não foi aberto nenhum sinal.
Talvez essa analogia ou descrição de um Bus auxiliar tenha estimulado a sua percepção de como a sua funcionalidade é semelhante a o que ocorre num Subgrupo. Quando endereçamos sinais a um Subgrupo e abrimos os faders para compor a submix, esses sinais também chegarão aos masters do Subgrupo por meio de um Bus. Aliás, ocorre a mesma coisa até mesmo nos mixers mais simples e minimalistas possíveis. Quando se abre um canal, o sinal dele cai num Bus para chegar à Master.
Abrindo um “zoom mental” a partir dessa analogia, a essência de uma console pode ser definida como “um mixer que contém vários mixers nela”. E cada um desses mixers coloca o mix de sinais dele num Bus ou dois Busses no caso de uma mix estéreo. Daí, além do termo Bus, temos a expressão “Mix Bus” para nos referirmos ao Bus ou Busses que conduzem uma determinada mix.
Estamos cada vez mais mergulhados irreversivelmente no universo de recursos digitais, devido à excelente relação custo / benefício que essa tecnologia nos oferece. Nessa economia, alguns projetistas e engenheiros devem ter coçado a cabeça e pensado:
“O que podemos fazer com esse Bus ocioso que o operador da mesa não precisa usar como auxiliar?”.
E então, alguém teve a brilhante ideia:
“Já que um Bus viabiliza criar mais uma mix, que tal oferecermos a opção de usar esse Bus que ele não precisa como auxiliar como mais um Subgrupo?”!
Assim, temos consoles que permitem ao usuário determinar se os Mix Busses na console serão usados como auxiliares ou subgrupos.
Nessa opção de um Mix Bus servir como Auxiliar ou como Subgrupo, tanto uma mix quanto a outra recebem o seu processamento, e nível final antes de chegarem no seu destino. Mas existe uma diferença importante. Enquanto um Auxiliar entrega o seu conteúdo diretamente ao conector físico ou virtual de saída, o sinal de um Subgrupo ainda passará por mais uma etapa. Isso porque, após ajustarmos o nível da mix de um subgrupo, ela é tipicamente enviada para mais um bus: o Master Bus, que reúne os sinais mixados em todos os Subgrupos para, então, terem o seu nível final definido e poderem ser processados e enviados à saída física ou virtual da console. Confira na ilustração abaixo as semelhanças e diferença de Bus Auxiliar na esquerda com os Bus de Subgrupos na direita.
Então, pensando com essa perspectiva sobre os Mix Busses, o que é que eles nos permitem na prática? O primeiro e mais básico é criarmos grupos de canais com características que nos facilitam mixar. Por exemplo, grupos de: Backing Vocais, Coral, Teclados, Bateria, Percussão.
Criamos esses grupos, pelos botões de endereçamento em que determinamos em qual Bus ou Busses o sinal do canal trafegará. Depois, definimos o destino dos sinais nesse Bus. Tipicamente, um Subgrupo será endereçado para o Master Bus. Mas se for interessante, um Mix Bus estéreo também pode ser enviado para saídas independentes, para ser disponibilizado como Stem, que é um subcomponente da nossa mix, por exemplo de teclados, que será usado para outra mix ou gravação ou, ainda, ser destinado a uma Matriz, como veremos futuramente.
As consoles digitais nos permitem processar o grupo desses sinais reunidos em nossa Mix Bus tratando os seus sinais com EQ global, compressão de grupo e efeitos como reverbs etc. Depois de tratados e processados, podemos reunir esses Subgrupos dosando o nível de cada grupo na intensidade ideal para a nossa mix final na Master Bus. E como a Master Bus é, também, um Bus, ainda podemos tratar detalhes finais nela antes de enviar as nossas Mix Master para o próximo equipamento na cadeia de sinal.
Então, depois que recebemos do palco os componentes que iremos mixar, os Busses são os principais elementos que nos permitem estruturar a mix. Neles, nós organizamos, agrupamos processamos e ajustamos os sinais, e por fim, determinamos o nível final com que a mix de cada Subgrupo será colocada na Master Bus. E a Master Bus conduz o conteúdo que os nossos ouvintes receberão de nós até a saída física ou virtual da console.
Nas consoles analógicas que ofereciam Subgrupos, a funcionalidade dos Busses como Auxiliar ou Subgrupos era predeterminada. Um auxiliar era somente um auxiliar e usá-lo como Subgrupo só seria possível se a sua saída fosse devolvida por um cabo a um canal de entrada da mesa que poderia servir para o controle de nível e EQ global do grupo. E então, se fosse preciso comprimir ou adicionar efeitos na mix desse “Subgrupo”, ainda teria que se insertar um compressor ou módulo de efeitos pelo conector Insert. Hoje, as consoles digitais nos oferecem fazer isso de forma muito mais prática e com menor risco de expor o sinal a interferências e ruídos em conexões não balanceadas. Além de evitar a possibilidade de um mau contato que cada conexão por cabo físico oferece. As conexões virtuais ocorrem dentro da própria console em pistas de circuitos, ou circuitos integrados. Isso nos proporciona facilidade e rapidez, e a economia e leveza por não precisarmos de um monte de cabos.
No universo dos operadores de som, existem os que mixam mais focados na sua intimidade com sons e musicalidade e, também, aqueles que irão mixar somente após configurar todos esses caminhos de sinais dentro da arquitetura interna das consoles. Inclusive, é devido à essa complexidade que nasce da grande variedade de recursos oferecidos pelos sistemas digitais, que se torna cada vez mais presente a função do engenheiro de sistemas. Uma mix de qualidade pode ser produzida tanto pelos menos achegados aos pormenores técnicos quanto por aqueles que se debruçam sobre esses detalhes. Afinal, o básico em uma mix é equilibrar sons para produzir um mescla agradável e existem vários caminhos possíveis para se chegar nesse fim. Mas, quanto mais se compreender das ferramentas usadas para produzir a mix, mais seguro se estará de conseguir produzi-la com consistência, reforçando e até “blindando” a sua competência e a qualidade dos seus serviços seja como voluntário ou profissional.
Em nossa próxima oportunidade, continuaremos a nossa análise vendo os Patches, conexões físicas e virtuais que precisamos para conduzir as nossas mix aos seus destinos. Até lá!