Alooooô Srs. da coluna... Nossa história conta muito sobre o que fizemos e como chegamos até aqui, mas hoje vou ter meu momento de compartilhar como virei habitante do Universo do Áudio. Vem comigo...
Atualmente faço parte do crew da Falamansa, pela paz que essa gig proporciona, pelos bons textos das letras e pela música de raíz... Não que o Rock & Roll tenha saído do sangue, jamais, mas é uma tranquilidade sem tamanho no stage. Posso falar com os artistas, posso entrar no camarim, jogamos games no busão e temos nosso público fiel... Mas isso é conversa pra uma próxima coluna, ok???
Eu nasci com a música no sangue, dentro de mim, tão necessária quanto a comida e o ar… Como é bom, 63 anos depois, ainda poder me dedicar com muito foco e ainda aprendizado aos muitos e diferentes sons & tons!!!…
Quietinho aqui nos meus pensamentos durante essas breves férias do stage, pós uma maratona insana de São João, e ouvindo o novo álbum dos Stones (que por sinal é muito legal, apesar das críticas sobre a mix, compressão extrema, etc...), no talo, resolvi publicar essa coluna.. Já me disseram que minha paranoia em não errar (by Pena e a nossa Stage Brainz) ainda vai me levar pro túmulo, hahahaha. Mas é assim que eu gosto. Se nos anos 80 eu já era assim, imaginem hoje, com toda essa informação digital, comprometimento em cumprir as agendas no tempo, de lapidar nossas consoles e por aí vai!!!
É música 24 horas por dia… De Queen até Tower Of Power no iPod, saio do palco já pensando no próximo, nos riders, nos equipos novos, nas histórias… Entro no busão e lá vem Alan Parsons Project, Genesis & (claro) AC/DC no ear… Sou o maluco que adora chegar pra passagem de som e ficar no local até o final do show conversando com minhas máquinas, sacando a entrada do público, tomando aquele suquinho no camarim. Hotel e tira do foco. É coisa de louco mesmo. Sou muito questionado por esse procedimento, mas é assim que eu sou feliz.
A janela do busão é uma telinha de cinema… Passam todos os filmes… Do “Porão da Casa do Mané”, onde tínhamos uma banda ridícula, com três guitarras base e um pandeirinho sem pele, tocando Fio Maravilha, achando que iriamos pegas as Vandinhas, Sandrinhas, Marias e Aninhas, até o show do dia anterior, não passa nada em branco… As grandes tours, as pequenas, as vitórias, as derrotas, os erros que não foram poucos, as lições não aprendidas… Enfim, sou do tipo que deixar de abrir um canal na hora certa do show me derruba imediatamente, como bom Canceriano que sou… Hahahaha.
Depois do susto que foi ouvir “The Dark Side Of The Moon” e “A Night At The Opera” e claro, o primeiro do Guilherme Arantes (que me direcionaram pro áudio e radicalmente mudaram a minha vida), ter um pouco de sorte e estar no lugar certo na hora certa, com “padrinhos e mestres” certos foi fundamental e um empurrãozinho sem preço… As pedras fundamentais na minha jornada foram, sem dúvida nenhuma, as portas que o Maurício de Sousa e o seu irmão Márcio abriram nos estúdios MSP pra esse boy de construtora metido a besta aqui…
Sou eternamente grato, porque depois de ser despedido do antigo emprego por passar a maior parte do tempo tocando Hammond na máquina de escrever e Moog na calculadora em dia de concorrência - sim o John Lord tinha Mini Moog na fase Mark IV do Deep Purple (dublando John Lord no disco, ops, na Basfita K7 46 “Come Taste The Band”) no escritório da empresa - a casa caiu pra mim!!! Naquele momento acreditei que seria menos doloroso trilhar novos caminhos do que tentar explicar ao patrão, o inigualável Sr. Geraldo, um cara extremamente gente fina, na verdade um mix de Cristopher Cross & Mike Tyson na “máquina da mosca”, o que era Deep Purple ou quem era John Lord!!!
O próximo passo depois da Turma da Mônica, onde eu era músico e técnico coringa, e tinha um equipamento de sonhos, composto por um Revox A700, um Sony não lembro a marca, um mixer Quasar e dois microfones, no estúdio da Black and White, apadrinhado prlo Márcio e pelo Maurício, foi entrar no Vice-Versa e contar todas as mentiras possíveis ao Luiz Botelho (cada um tem o “mestre Yoda” que merece, e esse é o maior deles!!!) que, graças a Deus, não acreditou em nenhuma e apenas na minha vontade de ser alguém no áudio…
Lá no Vice (em 1979), fora meus mestres Marcus Vinícius, Wilson “Relax” Gonçalves, Ricardo “Franja” Carvalheira e Nelsinho Dantas, tive também a sorte de conviver e trabalhar com dois dos meus grandes ídolos na música: Sá & Guarabyra. O que eu vi (e ouvi) sair daqueles violõezinhos, pedaços de papel e fitinhas cassete foi uma verdadeira aula de criatividade e bom gosto!!! Junto com aquela paciência toda com a minha “ansiedade de principiante” sempre vinha um toque ou outro, que me abriram muito os olhos e ouvidos muito mais rápido sobre o que era aquele mundinho do áudio e o que era fazer parte dele.
E as bandas de Sá & Guarabyra??? A Ponte Aérea (Nonato, Constant, Pedrão e Beto), Paulinho Calazans, Alaor Neves, Ruriá Duprat, Sérgio Kaffa, Pedrão (do Som Nosso), Rui Motta, entre outros… socorro!!! Era uma festa qualquer show dos caras, numa garantia absoluta que quase todos os engenheiros de som que não estivessem na estrada ou no estúdio circulariam pelo backstage. Da música de Sá & Guarabyra não preciso falar nada (cada um coloca o que desejar na sua Cdteca e azar de quem não ouve Sá & Guarabyra), mas eu gostaria de deixar explícito nessa matéria que são dois caras que eu aprendi a “amar de paixão” e vou levar isso pro resto da vida!!! Sabe aqueles amigos que quando você encontra e abraça passa um filminho muito bom das coisas???… Então… E olha que lá se vão mais de trinta anos… Thanks maninhos, e muito obrigado por tudo até aqui!!!
E a minha primeira sessão de gravação oficial no Vice-Versa então??? Foi com o Rogério Duprat… Lá estava eu, um ex-boy frente a frente com o gênio no estúdio!!! Lembro-me muito bem do frio na barriga quando chamei o Rogério pra ouvir a mix na técnica… A frase de foi essa: “Farat, nunca ouvi um som tão lindo desse estúdio B, só que eu não estou vendendo bateria moleque… Esse jingle é para uma empresa de adubos, por favor, remixe isso com mais critério para o que a peça foi feita!”… Hahaha. Imaginem ouvir isso do mago Duprat, logo na primeira sessão de mixagem!!!... Depois vieram Nossoestúdio, Artmix, Mosh da Pompéia e KLB Studios. Pode ser que um dia eu volte ao indoor.
Agradeço a Deus por ter padrinhos desse porte na minha vida profissional… A humildade de todos foi extremamente proporcional as suas genialidades e minha estrada não seria a mesma sem aqueles valiosos conselhos e uma infinita paciência! Quem sou eu pra falar desses caras insanos e sensacionais???!!! Ficarão eternamente nos nossos ouvidos e na minha história pessoal e profissional!!!
E o stage??? O boy de construtora metido a besta que jamais tinha imaginado o que seria o mundo digital hoje, com suas consoles bárbaras, sistemas in ear, e recursos infinitos, chegou ao mundo do monitor frequentando a Universidade Livre de Monitor Gabisom (seria injusto não citar as grandes escolas by Loudness, Transasom, Roberto Ramos, Tukasom entre outras...) e de lá pra Milton Nascimento, Ivan Lins, Maria Bethânia, Rita Lee, Fabio Jr., Ritchie, Capital Inicial, Maurício Manieri, Guilherme Arantes, Chrystian & Ralf, Charlie Brown Jr., RPM, Free Jazz, Blues Festival, Projeto SP, A Chorus Line, entre outros… Depois da primeira picada da mix ao vivo eu nunca mais me curei. Da Tour “Voo de Coração” do Ritchie, até a atual tour fa Falamansa, lá se vão 43 anos de monitor. Espero continuar por muitas mixes, porque ainda tenho muito o que aprender no mundo do áudio e sair da zona de conforto é a regra para uma carreira de verdade!!!… É uma delícia sermos desafiados pelo job, suas características musicais e técnicas, e como já disse o comprometimento e foco na entrega, onde fiz, e ainda faço grandes amigos. Chega, estou falando muito!!!
Foi mais ou menos, pra não dizer exatamente, isso que aconteceu… Vem muito mais histórias, aprendizado e personagens por aí!!! Mês que vem volto aos papos técnicos...