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REPORTAGENS / Colunas

Compressão - Parte 2

03/10/2023 - 22:45h
Atualizado em 03/10/2023 - 22:49h


 

Em nossa última coluna, iniciamos a análise do compressor que retomaremos agora.

 

 

Vamos considerar os ajustes do compressor, com base no efeito que queremos proporcionar aos ouvintes. Para isto, dividimos a compressão em leve, média e pesada. Estou generalizando, visando estimular o raciocínio, ok? Assim, como grande parte do que fazemos no áudio, a ideia não é lhe dar uma fórmula a ser seguida a ferro e fogo, mas sim proporcionar os traços largos de um esboço, em cima dos quais você deve experimentar quando estiver passando o som ou treinando com gravações, e avaliar como incorporar estes conceitos na sua caixa de ferramentas técnicas.

 

 

Ratios abaixo de 2:1 – Compressão Leve.

Comprimem de forma suave e transparente,

permitindo que a expressiva maioria do envelope sonoro permaneça inalterado.

Ratios entre 2:1 e 3:1 – Compressão Moderada.

Alteram um pouco dos transientes,

sem descaracterizar o envelope sonoro

Ratios entre 3:1 e 4:1 – Compressão Média

Passam a alterar mais dos transientes

podendo já alterar um pouco do ataque do envelope, do nível geral de sinal e inclusive a sua tonalidade.

Ratios de 4:1 a 10:1 – Compressão Pesada

A compressão vai se tornando cada vez mais pesada, alterando o envelope da dinâmica,

e o sinal perde as características originais de ataque entre outras.

Ratios de 20:1 a ∞:1 – Limiter

Permitem que cada vez menos do sinal passe pelo Threshold,

até alcançar o ∞:1 em que não passa nada.

 

 


E qual a utilidade prática dessas taxas de compressão?

Entre outras coisas, a Compressão Leve e imperceptível é útil para economizar potência no seu sistema. Imagine o que acontece quando a banda faz o sinal de entrada crescer, simultaneamente, em 20 canais. Se você conseguiu aplicar compressão leve nesses canais, ela pode poupar o seu sistema de precisar produzir (e poupar os ouvidos da congregação de suportar) 10 a 20dB a mais, sem que seja percebida uma diferença no conteúdo individual de cada voz e instrumento. 

 

 

Compressão de Média a Moderada indo além dos benefícios da compressão leve, vai segurando cada vez mais dos picos, proporcionando um som de nível mais uniforme, sem descaracterizar a naturalidade dos envelopes sonoros. Os picos são contidos, proporcionando conforto aos ouvintes, mas sem gerar alterações na sonoridade das vozes e instrumentos.

 

 

Compressão Pesada tem efeito agressivo sobre o envelope original. É útil quando se altera intencionalmente o sinal por motivos artísticos ou quando o sinal que vem do palco é de nível extremamente inconsistente. Essa compressão altera, inclusive, a tonalidade do sinal.

 

 

Compressão Tipo Limiter garante que o nível não passará do ponto determinado no Threshold. Ele pode ser útil na proteção das caixas, para evitar picos que levem à distorção numa transmissão ou gravação, mas não é porque está ativado que se pode forçar o nível cada vez mais alto! Isto até permite dar a impressão de que o sistema de som rende mais, mas ocorre ao custo de potencial dano às caixas e distorção digital.

 

 

 

 

 


A compressão é um conceito que pode ser difícil de assimilar. Para torná-la mais compreensível, ilustrei acima, uma analogia dada pelo mestre Pat Brown em seus workshops. Imagine que o sinal que enviamos ao compressor fosse um camarada pulando numa cama elástica com suas subidas sendo os picos de sinal. A imagem transparente do camarada no fundo é sempre na mesma altura, representando o sinal de entrada enviado pelo instrumento. Agora, vamos esticar uma lona por cima da cama elástica que será o nosso compressor. Enquanto os pulos do nosso amigo não atingirem o limiar da superfície inferior da lona, ele sobe livremente. Mas assim que a cabeça dele bater na lona, ela exercerá uma pressão contrária à energia com que ele subiu, empurrando-o de volta para baixo. Se a lona estiver frouxa (compressão leve), a cabeça dele conseguirá empurrá-la para cima e ele subirá acima das bordas dela. Mas quanto mais esticarmos a lona, aumentando a sua compressão, menos a cabeça do nosso amigo conseguirá subir. Para finalizar a analogia, substituímos a lona por uma laje de concreto – coitado! A laje exemplifica o ∞:1 do Limiter, pois não importa se o camarada subir com energia infinita, ao chegar na laje ela não cederá, limitando a altura alcançada pelo nosso amigo à altura dela.  

 

 

Vamos para algumas considerações conceituais. Assim como na equalização, desejamos que a atuação do compressor (excetuando a compressão pesada para fins artísticos) não chame atenção para si. Ele deve proporcionar um efeito coerente com a música e, a menos que o estilo musical contemple isto, ele não deve distorcer excessivamente a dinâmica do envelope original do sinal. O que seria essa dinâmica? As variações naturais e musicais da  voz ou instrumento. Portanto, usamos o compressor para segurar picos sonoros que vêm muito acima do nível médio do instrumento. Deixar um compressor atuando direto como Limiter, com limiar baixo, terá o efeito de achatar as ondas do sinal. Isto dá uma impressão de que o som está mais forte, mas sacrifica a dinâmica da sonoridade natural da voz ou instrumento, aproximando o formato da curva sonora ao de uma onda quadrada. E por não existirem as rampas naturais inclinadas entre os picos e vales de sinal, as ondas quadradas obrigam os drivers e falantes nas caixas a passarem quase instantaneamente da posição máxima à mínima, não permitindo que “respirem”. O resultado é acelerar o seu aquecimento e em caso de superaquecimento estes podem ser destruídos.

 

 

O compressor também nos permite trazer um instrumento mais para frente na mix, pois se garantimos que as suas passagens mais fortes não “estourem” ou que ele fique muito mais alto que os outros elementos da mix, teremos segurança para deixar o fader do seu canal mais elevado do que poderíamos sem compressão. Isto faz que os seus sons mais suaves, com seus detalhes, passem a ser ouvidos na mix sem serem “enterrados” pelo som dos outros canais da mix. Este efeito é positivo, mas no som ao vivo é preciso trabalhar com cuidado, pois ao usar uma compressão muito pesada e deixar o canal bem para frente na mix, no caso de canais captados por microfones, os sons mais suaves evidenciados pela compressão podem não ser os do instrumento mas, sim, reflexões que o microfone captou do som amplificado. Isto pode sujar o som do canal e até causar uma microfonia rápida e forte, sem muito aviso prévio. No caso de instrumentos captados em linha, não há tanto risco de microfonia (com violões, por exemplo, pode haver), mas poderá elevar ruídos de fundo como hum e chiado. Embora nem sempre seja perceptível no PA, porque as caixas projetam o som do alto e este se mistura com a acústica e os sons da congregação, se além do PA a mesma mix for enviada para a gravação ou disponibilizada no streaming, este problema será bem mais facilmente percebido por quem usa fones.

 

 

Outro problema que pode surgir é quando a compressão é usada num subgrupo ou master sem a compressão dos canais estar bem ajustada. Por exemplo, se numa banda com baixo, teclado e violão, o sinal do baixo não estiver adequadamente comprimido no canal, e aplicarmos compressão no subgrupo dos instrumentos, quando a mix de instrumentos chegar mais forte no compressor do subgrupo por causa de uma maior energia produzida pelo baixo, o compressor atuará como deve, baixando o nível na taxa de compressão que determinamos. Mas por atuar na mix no subgrupo, o compressor não atuará só no sinal do baixo e, sim, sobre toda a mix dos instrumentos endereçados ao subgrupo. Daí, ao comprimir a mix de instrumentos, empurrando o nível do sinal para baixo, em proporção à energia do baixo, ele acabará baixando, na mesma intensidade, o som do violão e do teclado, que não haviam subido assim e não precisavam ser comprimidos.  Na prática, isto faz o som destes dois “inocentes” poder até sumir da mix enquanto o baixo estiver tocando mais forte.

 

 

Outro caso semelhante ocorre com o compressor na master. A rigor, a voz do vocal do líder de louvor vem em primeiro plano. Se ele não estiver devidamente comprimido, quando for somado (mixado) com os instrumentos na master, o compressor atuará sobre ele potencialmente baixando o nível dos instrumentos. Se não houver um equilíbrio na mix, o inverso também pode acontecer, os instrumentos muito fortes podem ativar a compressão na master empurrando a voz ou vozes para baixo. Enquanto o primeiro caso não é natural, ele é menos preocupante que o segundo caso em que se perde a voz guia para a congregação. Aliás, existem aplicações em rádio onde se programa um compressor para baixar a música de fundo quando entra a voz do apresentador.

 

 

Para evitar estas situações, aplique primeiro a compressão adequada nos canais de entrada. Se a sua console oferece compressão nos subgrupos, pode-se aplicar depois uma compressão de moderada a média para  “colar” os elementos mixados no grupo. Esta compressão atuará sobre os picos de um ou outro instrumento que sobressaírem em relação aos demais deixando o nível sonoro do grupo mais uniforme, homogêneo ou “colado”. E se for aplicar um Limiter na master, deixe o Threshold dele bem alto e o tempo rápido para segurar apenas os picos que escaparam da compressão nos canais e subgrupos.

 

 

Considerando as possibilidades de variação dos níveis que vem do palco numa grande quantidade de canais, é bem possível que algo que foi inicialmente ajustado acabe não sendo comprimido ou sendo comprimido demais. As consoles digitais nos ajudam neste sentido com recursos para visualizar de forma simplificada a atuação do compressor na própria tela de mixagem. O ideal é que se ajuste na passagem de som o limiar dos compressores de todos os canais para atuarem minimamente sobre o nível médio de sinal. Durante a apresentação, isto proporcionará uma referência visual de que, sim, o nível vindo do palco continua coerente com o que foi ajustado e quando for necessário, o compressor atuará sobre os picos mais fortes. Se o nível que vem do palco subir muito, você verá a atuação mais pesada do compressor e se ele baixar muito (pela mudança de um efeito de guitarra, timbre de teclado, ou músico inseguro, por exemplo) você verá que o compressor parou de atuar.

 

 

 

 

Sidechain e Ducking

Mencionei, há pouco, a técnica usada nas rádios para baixar a música de fundo quando o apresentador começar a falar. No som ao vivo, os compressores  dotados de entrada Sidechain nos permitem usar um recurso parecido. Um exemplo clássico é fazer o Ducking do sinal do baixo quando entra o som do bumbo. Digamos que o seu bumbo esteja no canal 1 e o baixo no canal 10. Nos parâmetros do Sidechain do canal do baixo, você escolhe o sinal do canal 1 para ativar o compressor. Todas as vezes que o sinal do bumbo passar do limiar, o compressor atuará reduzindo o nível do sinal do baixo para que os sons mais detalhados do bumbo tenham chance de aparecer sem serem mascarados ou encobertos pelos sons do baixo que ocupam a mesma faixa de frequencias. Além disto, você poupa o seu sub ou suas caixas de precisarem reproduzir o dobro de energia com as mesmas frequencias ou evitar que elas gerem comb filter.

 

 

Embora este tema tenha sido dividido em duas colunas (sendo esta a segunda), é importante notar que não se pode ignorar o conteúdo da primeira. O resultado audível da compressão, a atuação sobre o envelope sonoro, resulta tanto da taxa de compressão comentada aqui, quanto dos ajustes do Attack e Release vistos na primeira parte. Se o tempo do ataque estiver muito longo no canal da caixa, por exemplo, a taxa de compressão que determinamos nem atuará sobre o som principal produzido pelo impacto da baqueta...

 

 

Espero que estas dicas e exemplos tenham lhe ajudado a compreender mais dessa ferramenta versátil que é a compressão. Agora é mão na massa, para se familiarizar com a resposta do compressor ou compressores que você tem à mão.  Boa sorte, e até a próxima quando prosseguiremos com o tema da dinâmica.

 

 

 

 

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