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COLUNISTAS

Sonhos e música na Serra da Cantareira

20/01/2025 - 20:10h
Atualizado em 26/01/2025 - 23:05h

 

À NOSSA AMIZADE!

 

Sonhos e música na Serra da Cantareira, por Luiz Carlos Sá

 

Acordei devagar. Abri a janela pra dar de cara mais uma vez com o vento do começo de tarde agitando a copa das árvores. Queria saber o nome de cada uma delas,  companheiras de viagem musical na serra da Cantareira, Mairiporã, onde quase perdi a conta do tempo, embalado por músicas, gravações e amizade. Os dias aqui têm sua própria medida.

 

 

Lavar o rosto, escovar os dentes, essa é a rotina habitual. Mas hoje é véspera da partida, então já sigo ajeitando minha mala, aos poucos. Aos poucos, sim, porque não me será fácil deixar esta casa, este lugar, esta mata, que foram meu lar musical por doze dias. Em se tratando de um “lar musical” , doze dias podem valer por muito mais.

 

 

A Indomável Produções, comandada por minha eficientíssima amiga Paula Cunha, alugou esta casa especialmente para que eu e meu parceiro Gabriel Sater -“vigiados” de perto por nosso produtor, arranjador, violonista e também parceiro em várias composições, João Gaspar - pudéssemos dar a partida no sonho de gravarmos esse álbum juntos, com uma seleção de dez das trinta e poucas músicas que compusemos em mais de uma década de parceria.

 

 

 

Gabriel chegou até mim através de Paulo Ribeiro e Pedrão Baldanza.

 

 

Um belo dia, do nada, Pedrão, meu parceiro, amigo e companheiro de inúmeras viagens que foi-se precocemente para a banda do Céu, chegou pra mim e falou:

- Meu amigo Paulo Ribeiro me apresentou umas músicas do Gabriel Sater, filho do Almir. Você devia ouvir e conhecer o cara, acho que tem tudo a ver contigo.

 

 

A observação musical do experiente Pedrão não deu erro: a liga mostrou-se forte desde a primeira parceria, “Boca do Mato”. Gabriel mandava as músicas e as letras me pareciam já estarem prontas, tão fácil era fazê-las, visto que – apesar do que poderia parecer a priori uma distância imensa de formação e tendências  - as melodias me evocavam pessoas e lugares presentes desde sempre em minha vida. Muitas delas me pareciam mesmo terem sido feitas por mim. Uma liga que só senti com Rodrix e Guarabyra voltava a estar presente nessas composições.

 

 

E viemos em frente, através dos anos, ou por raros momentos presenciais ou por muitas horas online à frente dos respectivos laptops. Passamos pela pandemia, ele no seu Pantanal de origem, eu no meu Portugal de exílio pandêmico. Aportamos em novelas, desde a música Cabelos de Fogo para Pedacinho de Chão até  Noite de Tempestade, que tocou no remake de Pantanal. E de repente, numa noite em que eu me hospedava com Gabriel e Paula, fui levado à casa de Almir Sater. Não deu outra... parceria com pai e filho em Voa Vagalume e a primeira entre eu e Almir, Eu Sou Mais do Que Sou.

 

 

Mas enfim, hoje é o primeiro dos últimos dias dessa viagem que vai se prolongar até 2026. Ontem terminamos a parte de estúdio externo que gravamos no estúdio de Marco Bavini, na Vila Albertina, bem ao pé da Cantareira, recebidos com carinho por Bavini e Alê, tutores também de uma dupla de carinhosos caramelos que nos recepcionavam nas tardes de gravação, a bordo de uma fabulosa mesa DDA analógica, onde eu venci uma incipiente gripe através deum micro Neumann com prés da Universal Audio  e me transformei num Pavarotti prèt-à-porter. Essas nossas sessões no Bavini Studio eram completadas por incursões à padaria Florestal, onde devorávamos vários pães na chapa com parmesão e saída de requeijão. Que é isso? Ah, vocês vão ter que ir lá e provar...

 

 

Saio do quarto para uma sala já plena de amigos: sim, é a despedida, e um churrasco mezzo pantaneiro, mezzo paulistano, pilotado pelo Celso, BomDrasto de Gabriel, deixa seu aroma no ar. Zuca, já xodó de todos, lambe nossas pernas, pula no sofá e jura que cachorro também é gente, mostrando educação ao não se deixar fascinar pela linguiça de Maracaju. Os veganos também terão seu lugar na salada preparada por Selene, mãe de Gabriel, assessorada por Bellinha, figura de frente da Indomável e suporte diário da nossa estadia, fielmente acompanhada por seu Tatá. Dentistas que são, os dois precisam ficar atentos às aventuras de nossos maxilares por esse interminável banquete que vai até a noite esfriar, mostrando as primeiras nebulosas da névoa Cantareira. Completam o grupo o baixista Alex Mesquita e o baterista Paulinho Vicente, nossa “cozinha” (assim é chamado o duo baixo/bateria que sustenta o ritmo de toda banda que se preza) dos sonhos. Como bons “cozinheiros” são também bons pratos!

 

 

Nenhuma despedida seria mais digna.

 

 

Que horas fui dormir? Não sei, mas era muito tarde, o quintal da casa tomado pela névoa, o silêncio profundo da mata amainado pelos grilos, pelo voo dos pássaros noturnos, pelas criaturas da noite, enfim. Todos foram embora, só ficaram Bellinha e Tatá, que me deixarão amanhã em Guarulhos, onde um avião vai me levar de volta à vida normal, matando saudades da família mas encarando outra, a saudade dos amigos, dos parceiros, da Serra...

 

 

Obrigado Gabriel, João Gaspar( Gasparzinho, o violonista camarada!), Indomável Produções, Bavini, Alê, Bellinha, Paula, Tatá, Selene, Celso, Alex, Paulinho... como é bom rever amigos e fazer novos, dormindo e acordando na névoa da Cantareira. Em 2025 continuaremos a sonhar e realizar esse álbum, que já começou a bordo dessa vibrações incríveis de amizade, união, vontade e música.

 

 

 

Sonhos e música na Serra da Cantareira
Luiz Carlos Sá

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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