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COLUNISTAS

Som nas igrejas

12/01/2024 - 00:24h
Atualizado em 12/01/2024 - 10:56h


 

Ao longo do último ano e pouco, consideramos o processo de mixar, focando nos diferentes tratamentos a que sujeitamos os sinais que recebemos para chegar numa mix de qualidade. Mas saber conseguir a máxima qualidade de uma mix envolve mais do que apenas ajustar níveis, equalização e processamento. Para alcançarmos uma qualidade superior, é preciso ter uma boa compreensão do sistema que operamos, entendendo como trafegam os sinais sob nosso controle, para determinarmos as melhores formas de processá-los.  

 

 

Quando conectamos um microfone na entrada de um sistema de som, ele atua como um transdutor, convertendo a energia acústica que o seu diafragma recebe a um sinal elétrico de poucos milivolts. Esse sinal, inicialmente frágil, que ele fornece iniciará, então, uma viagem através de conectores, cabos e equipamentos até chegar ao equipamento de destino, onde passará por outro transdutor e pelo ar para ser, finalmente, recebido pelo sistema auditivo do seu ouvinte remoto ou congregantes presenciais.

 

 

Com a pluralidade das formas de se ouvir um som atualmente, os equipamentos envolvidos acabam variando em complexidade e qualidade. Eles podem ter início em um megafone extremamente simples, por ter ambos os transdutores de captação e projeção incorporados no mesmo aparelho. Eles passam pelos celulares em que ouvimos conteúdo por streaming com fones de ouvido, caixinhas Bluetooth ou no sistema de som do carro. Existem sistemas de PA simples, sistemas que oferecem mais recursos e, por fim, os caríssimos sistemas profissionais capazes de processar centenas de canais para a sonorização de estádios em turnês de nível internacional.

 

 

Na Igreja corpo de Cristo que se estende ao redor desse nosso planeta, as possibilidades de escala ou complexidade dos sistemas técnicos também são imensas. No caso teórico em que se tivesse verba ilimitada, dá praticamente para se dizer que é sempre possível se gastar mais em equipamentos. Mas, como no contexto da igreja, lidamos com recursos ofertados e, possivelmente, ofertados com sacrifício, cabe aos que estão envolvidos na aquisição de equipamentos ser coerentes em encontrar a melhor relação custo-benefício dos equipamentos a serem adquiridos. Esta expressão não significa insistir no equipamento mais barato, que frequentemente acabará saindo caro, ok? Mas, sim, se refere a investir em equipamento que atenderá com qualidade, durabilidade e complexidade condizente com a capacidade de operação pela equipe de voluntários, além de uma previsão para flexibilidade para poder atender bem à igreja que o adquiriu por 10 a 20 anos ou até que a demanda dela sofra uma mudança radical.

 

 

Uma das razões que tenho me proposto a cooperar com a Revista Backstage nesses anos é para justamente aumentar o nível de conhecimento dos que servem nessa área. Pois quanto mais se conhece, quanto maior for a percepção do que existe à disposição e como pode ser bem utilizado, mais bem preparado se estará para tomar decisões assertivas de aquisição. E para, quando envolver uma situação de aquisições maiores, haver um embasamento que permita conversar inteligentemente com o profissional projetista ou revendedor para que os recursos da sua igreja não sejam desperdiçados como tristemente acontece em muitos, senão a maioria dos casos.

 

 

Então, vamos pensar em diversas situações práticas, progressivamente mais complexas ou sofisticadas, vendo o que acontece com o sinal a partir do momento que se pluga um mic na entrada destes sistemas de som. O sinal recebido na entrada do sistema irá trafegar por um número maior ou menor de equipamentos, conforme a dimensão do sistema necessário para atender a cada necessidade.

 

 

Caixas com Amplificação e Mixer Integrados

Atualmente, os fabricantes têm produzido estas caixas de som ativas com circuitos de maior ou menor simplicidade que permitem conectar e mixar poucos canais de entrada, sem precisar depender de uma mesinha de som. Isto pode ser bastante prático para situações de ensaios, grupos pequenos e cultos infantis, por exemplo em que se juntam dois ou três canais como voz e instrumento. Alguns também oferecem o recurso de reprodutor de arquivos musicais digitais como MP3 que podem ser usados como playback na ausência de instrumentos ou para tocar uma música referência que se deseja aprender num ensaio. O tempo de montagem é mínimo bastando conectar na energia e, somente após conectar os microfones e instrumentos, ligar a caixa.

 

 

Um dos elementos que pode dificultar ou até inviabilizar o uso deste sistema é um ambiente tão pequeno e/ou necessidade de um som tão alto que fica difícil trabalhar com o microfone aberto sem dar início à microfonia, e não haver como tentar aplicar um paliativo por, tipicamente, não haver equalização por canal. Nesse caso, para evitar a microfonia é preciso adotar técnicas mais básicas e fundamentais como conhecer os ângulos de captação do microfone e o de projeção do/s driver/s da caixa, evitando que o microfone capte o som direto ou refletido dos agudos e médios. Já no caso de uma microfonia nos graves, que não são direcionais, é preciso respeitar a regra mais fundamental da microfonia aumentando o nível acústico produzido pela voz da pessoa para que o microfone “ouça” mais forte o som de quem fala ou canta do que o som que vem da caixa. Algumas caixas possuem filtros passa-altas que podem ajudar nesse sentido, porém ao custo de cortar os graves de instrumentos ou dos arquivos reproduzidos em MP3.

 

 

Tecnicamente, a simplicidade oferecida por este tipo de equipamento é interessante desde que não seja necessário que a mix seja muito precisa ou dependa de ajustes como equalização etc. e não seja necessário que um operador fique continuamente mixando as entradas, pois os controles costumam ficar atrás dessas caixas e ficar muito tempo bem próximo a uma caixa que amplifica o som para um grupo pode facilmente expor a pessoa a níveis prejudiciais à sua audição.

 

 

Em relação ao fluxo de sinal, os sinais nas entradas passam diretamente da etapa de pré-amplificação que eleva o nível de poucos milivolts fornecidos pelo microfone a um nível line que é mixado e alimenta o amplificador conectado aos transdutores que converterão esse sinal elétrico em energia acústica. Enfim, é um sistema um pouco mais sofisticado que o megafone que mencionei inicialmente e que, com certeza, proporciona uma qualidade melhor por ter uma faixa de frequências mais ampla e permitir o ajuste de nível de várias entradas.

 

 

Sistemas com Mesas de Pequeno Porte

Não desprezem os começos humildes (Zc 4.10)”!

Uma das grandes vantagens dos sistemas pequenos, bem dimensionados, é a economia de tempo de montagem que proporcionam. Recentemente montei um sistema com uma mesinha Mackie com seis canais com prés e quatro canais estéreo ligada diretamente em duas caixas amplificadas da Fostex (essas com uns 30 anos de estrada). A banda composta por um vocal, dois violões (um com pedal estéreo) um teclado e cajon, proporcionou um som “cheio” com detalhes agradáveis. O sistema atendeu com qualidade muito boa aos cento-e-poucos membros da minha igreja presentes na reunião de confraternização de final de ano, que foi realizada em um salão sem tratamento acústico de uma chácara.  O retorno foi feito por uma mesinha de fones alimentada pelos Inserts dos canais da Mackie. Estas saídas foram convertidas em direct-outs com o auxílio de uma abraçadeira “enforca gato” nos plugues TS, para evitar que fossem inseridos até o final na mesa, mutando o sinal, e pegassem apenas a cópia do sinal de entrada para enviá-lo para a matriz de fones. A ausência de caixas de retorno projetando som na parede lisa de fundo na área que estavam os músicos ajudou bastante a não “embolar” o som.

 

 

Já devo ter disso isto antes, mas quando os músicos e todos os elementos num sistema são de qualidade, o resultado dificilmente não será bom. E o trabalho do operador é mínimo, bastando levantar o som com uma estrutura de ganho correta e ficar atento a alguma variação ou outra de nível. Aliás, os recursos nos canais da mesa que usei são limitados a um filtro passa altas fico em 75 Hz, e três faixas de equalização fixa: Agudos em 12 kHz, Médios em 2,5 kHz e Graves em 80 Hz.

 

 

Em relação ao fluxo de sinal, em comparação com apenas a caixa amplificada, nesta confraternização agregamos uma segunda caixa amplificada, a mesinha Mackie e a matriz de retorno por fones. Os sinais dos músicos vinham diretamente até as entradas da mesa por cabos de 10 m onde, após serem pré-amplificados, a cópia do seu sinal era derivada para retornar individualmente para a mesinha de fones. O Auxiliar 1 da mesa Mackie foi comutado para pré-fader e usado para somar o violão do líder de louvor com a voz dele antes de enviar para a matriz de fones. Os outros sinais de retorno seguiam diretamente para as entradas da matriz.

 

 

O que é essa matriz? É um equipamento que recebe até oito entradas e permite que seis músicos as mixem para ser amplificadas e enviadas aos seus fones. Além das quatro entradas mono, ela tem uma entrada estéreo com controle por canal de saída e mais uma estéreo que cai direto na master de cada canal. Originalmente fabricada por volta dos anos 2000, pela empresa OZ Audio, fornecedora de componentes OEM da Mackie, a Mackie acabou comprando esse projeto dela, mas infelizmente a retirou do mercado pouco tempo depois. A sua aplicação principal era atender a estúdios e salas de ensaio, mas atende muito bem a pequenas bandas em que ela fica centralizada entre os músicos. Em nossa próxima oportunidade, voltaremos com as consoles digitais compactas. Até lá!

 

 

Som nas igrejas
David Distler

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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