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COLUNISTAS

Som nas Igrejas: Evolução e uso dos patches

06/09/2024 - 17:41h
Atualizado em 06/09/2024 - 17:41h


 

Quem procurar o termo 'patch' em inglês encontrará mais de uma dúzia de definições. Para os nossos fins, a que mais se aproxima seria a de 'uma conexão destinada ao uso por um tempo limitado'. Mas no nosso caso, não é tanto esse 'tempo limitado' que se aplica, e sim a possibilidade de reconfigurarmos essa conexão para outra aplicação. Este uso da palavra teve sua origem com as centrais telefônicas há uns 130 anos.

 


 


As telefonistas recebiam um pedido de ligação e conectavam fisicamente o cabo com o sinal da chamada recebida na linha que a conduziria ao destino desejado. Vale a pena reparar nos plugs, na imagem sobreposta no canto inferior direito. Sim, se você não sabia, naquela época já eram usados os ancestrais dos TRS (ou P10 estéreo). Devemos a invenção dos nossos sistemas balanceados aos primórdios da telefonia. Depois de muito apanharem com perdas e ruídos nas conexões, os engenheiros desenvolveram essa tecnologia. Levando em conta as distâncias entre telefones, essa ainda não era uma solução definitiva, mas ajudou a reduzir em muito a pobre qualidade que tinham antes de balancearem o sinal.

 

Passando para os estúdios de gravação, é comum vermos ali os chamados patchbays, que em sua face posterior recebem os cabos que vêm das entradas e saídas das consoles e dos equipamentos periféricos, como pré-amplificadores, módulos de efeitos, compressores e gravadores. Com eles, quando o operador deseja conectar um equipamento ao outro, não é preciso entrar atrás dos racks ou da console para fazer a conexão. Basta pegar um cabo e fazer o tal patch, conectando a saída de um equipamento à entrada desejada no outro. Isso poupa os conectores dos equipamentos de estúdio de serem desgastados e os técnicos de precisarem entrar em espaços difíceis para acessá-los.



 


 

 

Voltando ao universo de PA, nos grandes shows é comum que os sinais precisem ser enviados e recebidos entre múltiplas fontes e destinos. Poderíamos considerar aqui os splitters como talvez um dos tipos de patch mais elementares, em que um sinal é recebido do palco e o splitter faz cópias dele para, por exemplo, a mesa de PA, a de gravação e a de monitor. A rigor, os splitters analógicos deveriam ser feitos por meio de transformadores para isolar eletricamente o sinal de cada um dos seus destinos. Porém, devido ao custo elevado de um sistema com múltiplos transformadores por canal, muitos sistemas funcionaram e funcionam até hoje sem esse cuidado, com as possíveis desvantagens de se sobrecarregar uma fonte de sinal como microfones a condensador ou ter variações do nível de sinal quando uma das consoles interligadas altera muito o ganho. As enormes mesas analógicas do passado também podiam trazer um patchbay no seu case para facilitar as conexões e preservar os seus conectores.

 

Com o advento da tecnologia digital e dos protocolos que permitem trafegar com o áudio em rede, hoje todos os sinais podem trafegar por um único cabo de rede, e determinamos digitalmente os caminhos que desejamos que esses sinais trafeguem entre os conectores físicos ou digitais das entradas e destinos. Então, ao invés de ficarmos conectando metros e mais metros de cabos analógicos, sujeitos a serem contaminados por interferências, programamos os patches numa tela da console, tablet ou computador, e os sinais trafegam no domínio digital.

 

Vale abrir um parêntese para considerar o seguinte: muitos sistemas de PA ainda não estão totalmente livres das conexões analógicas. Tipicamente veremos conexões analógicas entre os instrumentos e as entradas dos sistemas. Também, mesmo em grandes sistemas de PA usados em turnês, ainda vamos encontrar periféricos analógicos vintage de primeira linha, venerados pelo seu desempenho e o timbre que conferem aos sinais, e estes ainda são conectados por cabos analógicos.

 

Dentro de um equipamento digital, podemos fazer o chamado “soft patch” conectando, por exemplo, uma entrada física a um determinado canal. Enquanto, por padrão, imaginaríamos usar o sinal que chega na entrada física 1 no canal 1, podemos, por meio de um soft patch, enviar esse sinal para qualquer outro canal. Com esse recurso, as consoles passam a oferecer flexibilidade total nos conectores de entrada e saída, e podemos determinar o caminho interno do sinal recebido ou enviado por eles.

 

Imagine que você já esteja com toda a banda conectada, e lhe informam em cima da hora que será preciso acrescentar mais um elemento de percussão, ou um backing vocal. Se você não deixou canais vagos entre os grupos, como costumo recomendar (ou não teve como deixá-los por falta de canais suficientes na mesa), esse soft patch vem auxiliá-lo. Você pode conectar esse novo elemento no conector físico que tiver vago lá no final dos canais da mesa. E então, por meio de um soft patch, você liga esse conector de entrada no canal seguinte aos dos outros backing vocais, mantendo a sequência dos seus canais logicamente organizada por deixar a entrada desse acréscimo de última hora ao lado dos outros canais congêneres. É claro que precisaria ainda promover os conectores restantes (subindo 1 canal no patch de cada entrada física subsequente para não “atropelar” nenhum elemento da sua mix). Mas assim você não fica com 3 backing vocais em canais seguidos e o que foi acrescido por último perdido lá longe.

 

Como exercício de raciocínio, vamos pensar neste cenário no contexto dos Bus que vimos na nossa última oportunidade. Ao acrescentar esse backing vocal de última hora na sua mix, digamos no canal 36, você certamente o endereçaria para o mesmo bus do subgrupo de vocais que os outros backings. Assim, se essa voz não requeresse ajustes, individualmente, durante a apresentação, esse endereçamento ao bus já ajudaria bastante por trazê-lo junto num mesmo master de subgrupo que os outros 3 backings. Mas se for preciso ajustar o nível apenas desse canal para a voz não se sobressair ou ficar muito baixa na mix, é aí que essa possibilidade de ter o seu fader ao lado dos outros backings facilita muito, em contraste com precisar procurá-lo isolado lá no canal 36, que provavelmente estaria até em outra página da console.

 

Se ao ler isso você está sonhando com esse recurso que a sua console digital mais simples não lhe oferece, uma solução parcial pode ser essa: até mesmo algumas das consoles modelo stage box oferecem uma solução chamada “View Groups”. Nessa solução, por estar operando em tablet ou computador, você cria grupos de visualização, em que escolhe as entradas e saídas que quer reunir numa única tela, independentemente de onde elas estejam na console. Isso não permite inverter a sequência dos canais ou reconfigurar o patch de entrada, mas no nosso exemplo você poderia montar um View Group com os 3 backs originais, digamos dos canais 16, 17 e 18, seguidos imediatamente pelo 36, que chegou de última hora, deixando-os lado a lado. E é claro que, como não custa nada, eu já acrescentaria mais o fader master do subgrupo dos vocais nessa mesma tela.

 

Outro exemplo prático dos soft patches pode ser para manter uma sequência lógica, deixando os canais alinhados entre consoles de PA e transmissão/gravação e/ou as pistas numa DAW (Digital Audio Workstation, aplicativo que permite gravar e reproduzir simultaneamente múltiplos canais ou tracks em pistas independentes), simplificando, assim, encontrar o sinal de um instrumento ou voz. Supondo que surja um problema em que o sinal não chega numa das consoles, fica muito mais fácil rastrear o sinal e diagnosticar o problema se ele estiver no mesmo canal das 2 ou 3 consoles. Pois, se ele chega em uma e não na outra, já identificamos que o problema não está no microfone, mas no split ou roteamento para a console que não recebe o sinal. Também, especialmente se a sua aplicação envolver gravação em multipistas, é importante criar uma planilha que relacione as entradas físicas da console com os canais e os tracks na sua DAW. Caso contrário, o potencial para se perder canais e acabar com uma coisa no lugar de outra é bastante real.

 

Abrindo agora o zoom, para sair da console, no universo atual do áudio digital já tem mais de uma década que os fabricantes de processadores, módulos de efeitos, plugins, gravadores (etc.) profissionais lançam produtos com o recurso de trabalhar em redes de áudio sobre IP. Existem diversos protocolos digitais como Dante, MADI, Q-LAN e AVB. Algumas dessas redes até se intercomunicam pelo padrão de interoperabilidade AES67. E algumas delas admitem o uso de equipamentos comuns usados em redes de informática, como os switches, para o envio de sinais entre os equipamentos. Com isso, agora um operador competente de áudio precisa assimilar, além dos fundamentos essenciais do som, conhecimentos sobre o funcionamento das redes de transporte de sinais por IP, se for lidar com áudio no contexto de equipamentos digitais.

 

Daremos sequência em nossa próxima oportunidade, até lá.

 

Som nas Igrejas: Evolução e uso dos patches
David Distler

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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