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COLUNISTAS

Inteligência artificial na iluminação cênica: convergências e dispersões

09/09/2024 - 08:02h
Atualizado em 09/09/2024 - 08:23h



Foto abertura: Inteligência Artificial Generativa usada para criar uma imagem de um palco com iluminação cênica. Fonte: Freepik (2024)

 

 

A evolução tecnológica em diversas áreas da sociedade e do entretenimento, especificamente como área ou campo de maior aderência da Iluminação Cênica, tem, nos últimos quarenta anos, nos dado as mais promissoras contribuições nas inovações associadas aos equipamentos, instrumentos, protocolos de comunicação e na automação de projetos e sistemas. Nesta conversa, serão abordados os impactos da Inteligência Artificial (IA) com suas particularidades, potencialidades e perspectivas, como recursos capazes de convergir propostas e soluções, ao mesmo tempo em que apresenta distorções e dispersões de ideias e reflexões.

 

 

A inteligência artificial (IA) tem sido objeto de pesquisa, desenvolvimento e aplicações, principalmente originadas na ciência da computação, sendo a IA atribuída a equipamentos (hardware – computadores, periféricos, interfaces físicas) e softwares (programas e aplicativos) capazes de simular ou produzir resultados semelhantes às tomadas de decisões humanas (no campo cognitivo) e na realização de tarefas (quando mais simples, pela execução de funções operacionais).

 

 

Não se trata de uma temática exclusivamente atual e contemporânea. Desde a década de 1950 que a IA integra o imaginário. Mais recentemente, já está presente há algum tempo algumas atribuições cotidianas. Podemos ver ela associada às pesquisas em websites e plataformas digitais; aos famosos algoritmos que “adivinham” interesses e afinidades nas mídias sociais digitais e  no atendimento de canais de comunicação via telefone ou web, com o direcionamento de necessidades na busca de atendimento direcionado. Na atualidade, é aplicada na produção de veículos e meios de transporte autônomos e em diversas soluções como dispositivos de reconhecimento de voz e traços faciais, automação e sistemas de “residências inteligentes” e na análise de currículos, entre outras aplicações.

 

 

Por se tratar de uma área estratégica e potencialmente transformadora dos processos e procedimentos - que para algumas atividades ainda artesanais suscitam dúvidas e temor com a “substituição das pessoas por computadores” - surgem discussões sobre os reais benefícios, os promissores avanços e as relações de dependência para essas tecnologias, principalmente no que se refere aos limites éticos e contribuições da IA em diversas áreas, inclusive a Iluminação Cênica.

 

 

Nesse contexto, tudo o que pode emular escolhas e decisões pode ser associado às possibilidades imediatas da IA. Isso pode ser atribuído tanto a uma sequência de luzes contextualizada em um determinado padrão musical, rítmico ou temático, como também pela possibilidade de “ensinar” um computador a entender um processo de criação de um projeto de iluminação para shows a partir de diversos “prompts” (textos explicativos e estruturados para indicar aos computadores os critérios, os parâmetros, os princípios, procedimentos, entre outros aspectos).

 

 

Nisso, não há muitas novidades, se consideradas as diversas configurações e capacidades dos consoles mais sofisticados disponíveis no mercado (aqui não são considerados os shows integralmente programados). A partir do momento que determinadas plataformas de IA são utilizadas para produzir códigos de programação e - especificamente para o protocolo DMX 512 - estabelecer o endereçamento de todos os elementos de um sistema de instrumentos de iluminação cênica, efeitos e dispositivos (nesse caso limitado a 512 componentes) o gerenciamento desses recursos pode ser controlado por computadores que executarão tarefas e comandos com padrões ou demandas preestabelecidas.

 

 

O que pode surpreender, de fato, é a possibilidade de integração entre linguagens diferentes que suscitam múltiplas interações, por exemplo, entre música – melodias, harmonia, ritmos –, interpretação textual das letras das canções (quando existentes ou cabíveis) e análise de projetos já desenvolvidos por diversos profissionais, traduzidos em escolhas, combinações, decisões.

 

 


Aspecto da interface MaestroDMX com instrumentos compatíveis com o protocolo DMX. Fonte: Funktasy (2023)

 

 

Como exemplo prático, a empresa de tecnologia canadense Limbic Media lançou em 2022 o MaestroDMX, uma interface autônoma para instrumentos de iluminação cênica compatíveis com o protocolo DMX, capaz de produzir iluminação cênica com resposta sonora, a partir da integração com outra interface sonora ou controlada por MIDI. Uma análise superficial dos vídeos disponíveis com demonstrações indica uma ferramenta interessante para estruturas modestas, sendo, portanto, uma alternativa para produções restritas e com determinadas limitações.

 

 

Parte dos estudos e pesquisas, já com equipamentos disponíveis na indústria, está associada aos efeitos visuais, sincronizados com outros conteúdos (tais como vídeos) para proporcionar experiências imersivas, a partir de projeções dinâmicas, animações ou hologramas que respondem ao clima, ritmo ou estilo das canções, podendo, com base em parâmetros luminotécnicos, controlar a cor, intensidade ou movimento das luzes.

 

 

Nisso, outro exemplo pode ser associado com o Anahtar Processing System (ANAPRO) produzido pela empresa turca Anadolu Processing. Trata-se de um sistema que usa aprendizado de máquina para analisar e processar performances ao vivo em tempo real. Ele foi criado para produzir projeções de laser sincronizadas com a música e com os movimentos no palco associado a efeitos, fazer controle de cor e brilho e alterar o modo e a velocidade das luzes a partir de critérios como o ritmo e, inclusive, “emoções” das canções.

 

 


Aspecto do sistema ANAPRO com efeitos e luminárias de laser. Fonte: Newfeel Laser (2023)

 

 

Na atualidade, a análise de imagens permite um mapeamento completo de associações entre cores, dinâmicas, combinações de luminárias, tempo de resposta, entre outros, e se forem dedicadas horas, dias, semanas e meses, pode-se capacitar um computador a “pensar” como um Lighting Designer para produzir projetos, inclusive inéditos, a partir de combinações meticulosas. Conhecida como “iluminação inteligente”, essa abordagem é apoiada em sistemas de iluminação que são alimentados por IA e que, a partir de padrões definidos para o sincronismo dos componentes integrantes em um “rig” de iluminação aos elementos musicais – som, movimento e timbre –, proporciona experiências visuais deslumbrantes.

 

 

Se consideradas as potencialidades desses sistemas serem “ensinados” a interpretar estímulos provocados pela mudança de tempo e mesmo compassos musicais, ou outros, tais como melodias, ou ainda integrados com câmeras de reconhecimento dos movimentos dos artistas no palco com dispositivos de captura de movimentos, e com o estabelecimento de respostas produzidas a partir de múltiplas combinações, os resultados podem ser espetaculares.

 

 

No entanto, deve-se destacar também que, assim como a luz, há dispersões sobre algumas abordagens relacionadas à IA. Deve-se principalmente distinguir dois tipos mais recorrentes de IA: a Inteligência Artificial Generativa e outra, conhecida como Inteligência Artificial Discriminativa. Enquanto a IA Generativa tem como objetivo a criação de conteúdos inéditos – textos, imagens, músicas, sons, animações e vídeos, por exemplo – a IA Discriminativa tem como enfoque a classificação ou identificação de conteúdo com base em bancos de dados (códigos, imagens, textos, vídeos) preexistentes.

 

 


Iluminação Cênica com automação gerada por IA. Fonte: Medium (2023)

 

 

Em qualquer um desses tipos de IA, há múltiplas possibilidades e aplicações na iluminação cênica dos espetáculos e shows. No entanto, surge uma dúvida: há limites? Na IA Discriminativa, há necessidade fundamental de que muitos projetos de iluminação cênica sejam mapeados e disponibilizados – podendo, inclusive, ser utilizada alguma ferramenta de IA para analisar, classificar, mapear e disponibilizar essas informações.

 

 

Na IA Generativa, nesse momento em que esse texto da coluna é produzido, ainda há muitas falhas e distorções. Se imaginado um software de simulação, os resultados podem ser espantosos. No entanto, na montagem e principalmente nos testes, por enquanto, alguns ajustes “finos”, seja pela necessidade de alguma modificação pontual ou recombinação circunstancial, mesmo para instrumentos de iluminação totalmente automatizados, torna-se imprescindível, na atualidade, a presença de profissionais qualificados, experientes e criativos.

 

 

Outra questão: é possível ensinar uma máquina a “improvisar”? Se definidos parâmetros com exatidão para imprevistos e algumas modificações em tempo real, torna-se possível essa demanda. Se o computador aprender que a estrutura musical de uma canção, caso seja modificada por algum motivo, e se forem instruídos os requisitos capazes de identificação e substituição, por exemplo, torna-se possível.

 

 


Iluminação cênica – manipulação e sensibilidade humana. Fonte: Apial (2021)

 

No entanto, fica a quest]ao: é possível emular a sensibilidade e apreço à criatividade com esses recursos? Possivelmente, nunca. A capacidade inventiva das pessoas, muitas vezes desencadeada por emoções, sentimentos, nostalgia, experiências únicas, não pode ser antecipada senão pela própria ordem do sensível que integra a essência humana.

 

 

Finalmente, a IA está à disposição para aprendizado, otimização, experimentações, ou mesmo soluções pontuais e muito específicas. Cabe aos profissionais, entusiastas, pesquisadores e outros interessados buscar com essas ferramentas expandir as possibilidades, de maneira a encontrar convergências entre os benefícios que esses recursos podem oferecer, aliados aos processos criativos, essencialmente humanos, condicionados à percepção sensorial e sensibilidade.

 

 

Abraços e até a próxima conversa!

 

 

 

Inteligência artificial na iluminação cênica: convergências e dispersões
Cezar Galhart

COMENTÁRIOS

O capacitor envelhece em um equipamento pouco usado também? Ou ele degrada principalmente com o uso? Por exemplo, um equipamento da década de 80 muito pouco usado precisaria de recap por desgaste do tempo?

- Henrique M

Ótimo, vai ajudar muito! Cesar é fantástico, ótima matéria!

- adriano vasque da

Saudades da Paranoia saudável que tínhamos no Freeeeeee Jazzzzzz Festival (imitando Zuza em suas apresentações magnificas) Parabéns Farat Forte abraço

- Ernani Napolitano

Artigo incrivel! Extremamente realista e necessário, obrigado mestre!

- Jennifer Rodrigues

Depois de 38 anos ouvindo o disco, eis q me deparo com a história dele. Multo bom!! Abrss

- Fernando Baptista Junqueira

Que maravilha de matéria, muito verdadeira é muito bem escrita, quem viveu como eu esta época, só pode agradecer pela oportunidade que Deus me concedeu. Vou ler todas, mas tinha que começar por esta… abraços…

- Caio Flávio

Só li verdades! Parabéns pela matéria Farat

- Guile

Ótimo texto Zé parabéns !!!!! Aguardando os próximos!!!

- Marco Aurélio

Adoro ver e rever as lives do Sá! Redescobri várias músicas da dupla valorizadas pela execução nas "Lives do Sá". Espero que esse trabalho volte de vez em quando. O Sá, juntamente com o Guilherme Arantes e o Tom Zé, está entre os melhores contadores de casos da MPB. Um livro com a história da dupla/trio escrito por ele seria muito interessante!

- Bruno Sander

Ontem foi um desses dias em que a intuição está atenta. Saí a caminhar pela Savassi sabendo que iria entrar naquela loja de discos onde sempre acho algo precioso em vinil. Já na loja, fui logo aos brasileiros e lá estavam o Nunca e o Pirão de Peixe em ótimo estado de conservação, o que é raríssimo. Comprei ambos. O 2º eu já tinha, meio chumbado. O Nunca eu conhecia de CD, e tem algumas das músicas que mais gosto da dupla, p. ex. Nuvens d'Água (acho perfeita), Coisa A-Toa (alusão à ditadura?), e outras. Me disseram que o F. Venturini é fã do Procol Harum, e realmente alguns solos de órgão dele fazem lembrar a banda inglesa.

- João Henrique Jr.

Que maravilha de matéria. Me transportei aos anos de ouro da música brasileira

- Sidney Ribeiro

Trabalho lindão. Parabéns à todos os envolvidos!

- Anderson Farias de Melo

O que dizer do melhor disco da música nacional(minha opinião). Tive o prazer em ver eles como dupla e a volta como trio em um shopping da zona leste de sampa. Lançamento do disco outra vez na estrada. Espero poder voltar a vê-los novamente, já que o Sa hoje mora fora do Brasil. E essa Pandemia, que isolou muito as pessoas. Obrigado por vocês existirem como músicos, poetas e instrumentistas. Vocês são F..., Obrigado, abracos

- Luiz antonio Rocha

Que maravilha Querido Paulinho Paulo Farat!! Obrigado por dividir conosco momentos tão lindos , pela maravilha de pessoa e imenso talento que Vc sempre teve, tem e terá, sempre estará no lugar certo e na hora certa ! Emocionante! Tive a honra de trabalhar muitas vezes com Vc, em especial na época do Zonazul , obrigado por tudo, parabéns pela brilhante carreira e que Deus Abençõe sempre . Bjbj

- Michel Freidenson

Mais uma vez um texto sensacional sobre a história da música e dos músicos brasileiros. Parabéns primo e obrigado por manter viva a memória dessas pessoas tão especiais para nós E vai gravar o vídeo desta semana! Kkkk

- Carlos Ronconi

Grande Farat!!! Bacana demais a coluna! Cheio de boas memorias pra compartilha!!!

- Luciana Lee

Valeu Paulo Farat por registrar nosso trabalho com tanto carinho e emoção sincera. Foram momentos profissionais muito importantes para todos nós. Inesquecíveis ! A todos os membros de nossa equipe,( e que equipe! ) Nosso Carinho e Saudades ! ???? ???????????????????? Guilherme Emmer Dias Gomes Mazinho Ventura Heitor TP Pereira Paulo Braga Renato Franco Walter Rocche Hamilton Griecco Micca Luiz Tornaghi Carlão Renato Costa Selma Silva Marilene Gondim Cláudia Zettel (in memoriam) Cristina Ferreira Neuza Souza

- Alberto Traiger

Depois de um ano de empresa 3M pude fazer o bendito carnê e comprei uma vitrolinha (em 12X) e na mesma hora levei Pirão, Quatro (Que era o novo), Es´pelho Cristalino e Vivo do Alceu, fiquei um ano ouvindo e pirando sem parar, depois vi o show do Quatro em Campinas. Considero o mais equilibrado de todos, sendo que sempre pendendo pro rural e nem tanto pro urbano, um disco atemporal podendo ser ouvido em qualquer situação, pois levanta o astral mesmo. No momento, Chuva no campo é ''a favorita'', mas depois passa e vem outra, igualzinho à aquela banda de Liverpool, manja????

- Ademilson Carlos de Sá

B R A V O!!! Paulo Farat não esqueça: “Afina isso aí moleque!” Hahahaha Tremendo profissional, sou teu fã, Grande abraço!

- Dudu Portes

Show é sensacional. Mas a s sensação intimista de parecer que a live é um show particular, dentro da sua casa, do seu quarto, é impagável. Parabéns família, incluindo Guarabyra e Tommy...

- Ricardo Amatucci

Paulo Farat vai esta nas lives do Papo Na Web a partir de amanha apresentando "Os Albuns Que Marcaram As Nossas Vidas"" Não percam, www.facebook.com/depaponaweb todas as terças-feiras as 20:00 horas

- Carlos Ronconi

Caro Luiz Carlos Sá, as canções que vocês fazem são maravilhosas, sinto a energia de cada uma. Tornei-me um admirador do trabalho de vocês no final dos anos 1970 com o LP Quatro e a partir de então saí procurando os discos de vocês, paguei um preço extorsivo pelo vendedor, os LP's "Casaco Marrom" do Guarabyra e "Passado, Presente e Futuro" (primeiro do Trio), mas valeu. tenho todos em LP's e CD's até o Antenas, depois desse só em CD's e o DVD "Outra Vez Na Estrada" exceto o mais recente "Cinamomo" mas em breve estarei com ele para curtir. A última vez que vi um show da dupla (nunca vi o trio em palco), foi no Recife no dia 16/04/2016 na Caixa Cultural, vi as duas apresentações. Levei dois bolos de rolo pra vocês, mas o Guarabyra não estava. Quero registrar que tenho até o LP "Vamos Por Aí", todos autografados, que foi num show feito no Teatro do Parque, as apresentações seriam nos 14,15 e 16/10/1992 mas o Guarabyra perdeu o voo e só foram dois dias, no dia do seu aniversário e outro no dia 16. Inesquecível. Agora estou lendo essas crônicas maravilhosas. Grande abraço forte e fraterno e muita saúde e sucesso pra vocês, sempre. P.S. O meu perfil no Facebook é Xavier de Brito e estou lá como Super Fã.

- Edison Xavier de Brito

Me lembro de ter lido algumas destas crônicas dos discos quando voce as publicou no Facebook em 2013, Sá. Muito emocionante reler e me emocionar de novo. Voces foram trilha sonora importantíssima dos últimos anos da minha vida. Sou de 1986, portanto de uma geração mais nova que escuta voces. Gratidão e vida longa a voces!

- Luiz Fernando Lopes

Salve!!! Que maravilha conhecer essas histórias de discos que fazem parte da minha vida. Parabéns `à Backstage e ao Sá! E, claro, esperando a crônica do Pirão. Esse disco me acompanha há mais de quarenta anos! Minhas filhas escutaram desde bebês e minha neta, que vai nascer agora em setembro, vai aprender a cantar todas as músicas!

- Maurício Cruz

com esse time de referências musicais (exatamente as minhas) mais o seu talento, não tem como não fazer música boa!!!! parabéns!!! com uma abraço de um fã que ouve seus discos desde essa época!

- nico figueiredo

Boa noite amigo, gostei muito das suas explicações, pois trabalho com mix gosto muito mesmo e assistindo você falando disso tudo gostei muito um abraço.

- Rubens Miranda Rodrigues

Obrigado Sá, obrigado Backstage, adoro essas histórias, muito bom, gostaria de ouvir histórias sobre as letras tbém, abç.

- Robson Marcelo ( Robinho de Guariba SP )

Esperando ansioso o Pirão de Peixe e o 4. Meu primeiro S&G

- Jeferson

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