Iluminação cênica e simulação: perspectivas e reflexões (parte 1)

Nesta coluna, Cezar Galhart fala, mais uma vez, sobre as opções na nova realidade pós-covid-19 na indústria do entretenimento e na iluminação cênica. Segundo o colunista da Backstage, “ainda que as lives sejam um tipo de espetáculo com enfoque promocional diversificado, outros movimentos ocorrem para a aproximação de uma realidade que sofrerá outros impactos por novos protocolos sanitários(...) Os shows voltarão, com menores capacidades ou outras configurações, mesmo que a ciência traga soluções que permitam maior aproximação entre as pessoas. Um novo mundo do entretenimento surgirá, isso é inevitável”.

Boa leitura!

Enquanto o mundo dos espetáculos e entretenimento ainda se mantém em compasso de espera para o momento pós-pandemia – sem previsão ou estimativas de retorno – este pode ser um período de avaliação e capacitação para alguns e busca de alternativas para outros. Com enfoque na primeira abordagem, mesmo sabendo que ambas são extremamente relevantes no momento, esta conversa será centrada na simulação da iluminação como uma área de estudos e capacitação. Área que também envolve aspectos econômicos, culturais e técnicos sendo também oportunidade de aprimoramento e especialização.

Em um período histórico sem precedentes na indústria de shows, muitas são as reflexões que devem fazer parte do dia a dia dos profissionais que integram o portifólio de habilidades, competências, técnicas, talentos e profissionalismo que formam o mercado artístico e cultural.

Conforme conversas anteriores, alternativas surgiram com a produção e promoção de lives com as mais diversificadas estruturas. Muitas com recursos mínimos – realizadas em ambientes residenciais e sem elementos cenográficos -, algumas com estruturas mais complexas, com cenários, patrocinadores e equipe de produção na condução dessas realizações.

Ainda que as lives sejam um tipo de espetáculo com enfoque promocional diversificado, que poderão se manter e permanecer como uma estratégica de bandas e artistas, outros movimentos ocorrem para a aproximação de uma realidade que sofrerá outros impactos por novos protocolos sanitários. Os shows voltarão, com menores capacidades ou outras configurações, mesmo que a ciência traga soluções que permitam maior aproximação entre as pessoas. Um novo mundo do entretenimento surgirá, isso é inevitável.

Figura 1: Perspectiva de projeto com a simulação de MagicBlade FX. Fonte: Ayrton Digital Lighting

O entretenimento voltará com novos produtos, mesmo que os elementos essenciais se mantenham: o palco, os protagonistas, a sonorização, os serviços e principalmente os públicos e a iluminação cênica. Sem este princípio e recurso elementar das produções de espetáculos parte da dinâmica se perde. Sem a iluminação cênica, esvaziam-se as produções em atratividade, dinâmica, sensações, percepções. Perde-se o brilho e anula-se uma das referências principais na expressão artística e visual manifestada pela iluminação, que revela, emoldura, dramatiza e emociona.

Nesse contexto que surge o segundo conceito dessa conversa: a simulação. Esta nada mais é que uma representação de algo real, formando um sistema artificial que permitirá a observação como instrumento de análise e busca de soluções e resultados, estéticos, energéticos, funcionais ou estratégicos.

Figura 2: Perspectiva de projeto gerada com o software GrandMA 3D. Fonte: Rolight

Em uma percepção ‘otimista’ para esse momento de isolamento social, a capacitação pode ser uma oportunidade de aprendizado, aprimoramento ou entretenimento doméstico (mesmo que seja para a ‘ocupação da mente’). E nas simulações computacionais – nas quais se incluem os softwares para essa finalidade – a iluminação cênica possui significativas opções, sejam dedicadas ou mesmo adaptadas para a elaboração de cenários e inclusão de componentes/módulos para a simulação da iluminação cênica.

Muitos desses softwares possuem diversos meios de aprendizado, seja pela disponibilidade de apostilas e tutoriais disponibilizados em websites, ou ainda pela oferta de vídeos com aulas e webinars encontrados em redes sociais. Alguns são mais intuitivos; outros, no entanto, requerem conhecimentos específicos relacionados às grandezas luminotécnicas e ainda são disponibilizados apenas em línguas estrangeiras.

Figura 3: Perspectiva de projeto gerada com o software WYSIWYG. Fonte: Campus Technology

Não se pretende com essa conversa apresentar todos os softwares existentes e nem esgotar o assunto, mas contextualizar a simulação com algumas ferramentas disponíveis. Importante destacar também que a simulação, no entendimento de representação, pode estar alinhada à produção de imagens – estáticas ou em movimento (no caso, animações) – que permitam a projeção em modelagem bidimensional ou tridimensional. Para a primeira condição, uma conversa específica abordará essa temática, uma vez que envolve objetivos e simbologias específicos.

No que se refere à segunda condição, alinhada às modelagens tridimensionais, determinadas ferramentas podem estar apenas dedicadas às representações de produtos, como luminárias ou recursos estruturais tais como AutoCAD 3D, 3DS Max ou Solidworks.

Em se tratando de iluminação cênica, alguns softwares são emblemáticos e específicos para a configuração de projetos com a demonstração (simulação) dos resultados a serem obtidos. Isso foi particularmente possível com o aprimoramento dos recursos e componentes de computação gráfica, mais especificamente na década de 1990, com os padrões gráficos de programação OpenGL (SGI) e mais tarde com o DirectX. Na terminologia do setor são também conhecidos como softwares visualizadores.

Figura 4: Perspectiva de projeto gerada com o software LightConverse Show. Fonte: Campus Technology

Um dos precursores é o Wysiwyg (What You See Is What You Get). Trata-se de um software design de iluminação lançado originalmente em 1994 com recursos de CAD – Computer Aided Design -, possibilitando configuração de plotagens, dados, além da visualização e controle de um show virtual, desenvolvido pela empresa canadense Cast Software Ltd. Amplamente utilizado e considerado um dos melhores softwares de iluminação profissional disponíveis, o pacote do Wysiwyg possui três produtos: Wysiwyg Report, Wysiwyg Design e Wysiwyg Perform. O primeiro permite apenas a edição bidimensional, embora seja capaz de criar planos de iluminação detalhados. O segundo apresenta recursos 3D e permite renderização fotorrealista. O último permite que o software seja controlado por um console ou editor offline compatível, permitindo a pré-programação.

A plataforma LightConverse 3D Show (da empresa ucraniana Light Converse EU) permite a visualização de várias recursos e efeitos integrados em shows virtuais com ótima resposta em tempo real, controlados por DMX, ArtNet ou sACN em um ambiente com renderização fotorrealista. A visualização de até 2000 equipamentos é possível, assim como o acesso de 3 a 15 saídas DVI para projeções no mundo real. Destaca-se ainda a capacidade de fazer projeções com a técnica de mapeamento de vídeo (3D Video Mapping), possibilitando a configuração de imagens em formatos complexos sem distorção.

Figura 5: Perspectiva de projeto gerada com o software Capture 2020. Fonte: Production Warehouse

Outro software que se evidencia nesse contexto é o Capture, da empresa sueca Capture Visualisation AB, disponibilizado pela primeira vez no mercado em 1998 com o Capture v.1. Configura-se em um software desenvolvido para o design, documentação e visualização de iluminação, intuitivo e versátil. Isso inclui iluminação e design, documentação avançada, importação e exportação para modelos 3D e dados, conectividade DMX, servidores de mídia, lasers e controle de movimento.

Requisitos para a capacitação podem estar relacionados ao acesso – pagos ou disponibilizados em versões Trial (gratuitas mas temporárias) e Free (totalmente grátis) -, sistema operacional de instalação (Windows ou MacOS) e hardware (afinal, para a renderização há exigência de computadores/notebooks com melhor performance) e mesmo as plataformas (atualmente, algumas versões são disponíveis para smartphones). Isso também dependerá da necessidade do profissional ou estudante e da finalidade. Nesse campo de aprendizado e capacitação, as possibilidades são múltiplas.

Naturalmente existem outros softwares, com componentes e particularidades, com sistemas que controlam vários elementos na simulação de um show, não somente relacionados aos instrumentos de iluminação. Fatores como escala e dimensões (amplitude), orçamento e logística poderão ser decisivos na escolha do software mais adequado e compatível dentro das premissas de projeto, procedimentos operacionais, processos dimensionados e sistemas de controle da iluminação cênica. Deve-se também lembrar que determinados fabricantes de consoles de iluminação visualizadores gratuitos com os controladores integrados, mas isso também poderá ser abordado em outro momento.

Abraços e até a próxima conversa!!!